O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Intercâmbio do bem — Familiares diversos


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Erika dos Santos Soares

10 DEZEMBRO 1963 — 10 AGOSTO 1979

Filha de Domingos Soares e de D. Eliza Apparecida dos Santos Soares, Erika nasceu em São Paulo (SP), vindo a desencarnar em consequência de acidente de trânsito, na cidade de Assunção-Paraguai.

Em sua bela mensagem, Erika fala do único irmão, Ângelo dos Santos Soares que, também, se encontrava no veículo acidentado, juntamente com o namorado de nossa jovem princesa, Luiz Marin, residente na capital paraguaia.

Meiga, afável, muito alegre, amorosa, enfim, rica dos predicados que exornam as nobres almas, Erika cursava o segundo colegial no Colégio Claretiano, em São Paulo.

Sua desencarnação, imprevista do ponto de vista médico, ocorreu dias depois do acidente, aliás, de pequenas proporções, quando se encontrava ainda hospitalizada.

Em carta que remetera tempos antes ao namorado, Erika lhe diz que iria em julho para Assunção e aí ficaria até o dia 10 de agosto afirmação curiosa, já que no início do mês as aulas do semestre se reiniciariam, de modo que não havia lógica aparente na afirmação de nossa jovem, pois, no fim de julho deveria estar retornando a São Paulo.

Contudo, em virtude do acidente, ocorrido a 28 de julho, Erika realmente permaneceu em Assunção até o dia 10 de agosto, conforme afirmara na carta ao namorado…

Cópia desta carta, temo-la conosco, atestando de modo claro que realmente Erika já se despedia de nosso Plano físico, preparando-se para a Grande Viagem, de retorno ao Plano Espiritual.

Católicos de formação, D. Eliza nos conta que ao chegar a Uberaba, em busca de lenitivo para as dores da saudade, encontrou-se com Chico Xavier, devido a feliz coincidência e, tão-logo o cumprimentou, o Chico lhe falou que ao seu lado se achava uma jovem loira, de olhos verdes, com os cabelos caídos sobre a testa — descrição fidelíssima da Erika; disse mais, que D. Eliza tinha a proteção espiritual de uma senhora chamada Maria dos Anjos, mais tarde identificada como bisavó do Sr. Domingos. No dia seguinte a esse encontro singular, Erika escreveu, pelas mãos do Chico, a carta que a seguir apresentamos.

Sobre o encontro com o Chico e sobre a mensagem, assim se expressou D. Eliza: “Voltamos de Uberaba mais conformados, a mensagem mostrou-nos um novo caminho; passei a dedicar-me às crianças carentes. As palavras de Erika pelo Chico diminuíram-nos a amargura.”




MENSAGEM


1 Querida mãezinha Elisa, sou eu mesma. Não podia ser de outro modo. Nunca acreditei que alguma força nos separasse e, por isso mesmo, procurei aceitar com paciência e coragem toda aquela preparação para o 10 de agosto que se me fixara no pensamento.

2 Não compreendo ainda por que, mas nos dias últimos quando ensaiava a viagem com tanta alegria, uma ideia de mudança me grilava os pensamentos.

3 Seu coração me perdoará se falo assim, mas o que digo era verdade sem que eu entendesse o que se passava.

4 Meu avô Ângelo e meu tio Manoel, n que presentemente me esclarecem sobre tantos assuntos, me afirmam que eu trazia a intuição de que o tempo me seria muito estreito.

5 A realidade é que ao chegar em Assunção, meu contentamento parecia uma flor muito grande guardando um pequenino inseto, por dentro. O inseto era a previsão do fim de meus dias na existência do mundo…

6 A satisfação de rever o Luís n e outras afeições não me completava a alegria de todo… O resto, o papai e o seu coração já sabem. Foi o acidente à distância de casa, incomodando-a com meu pai Domingos de maneira bárbara…
Perdoem-me!

7 Os meus sentidos se apagaram muito pouco a pouco…

8 Queria agarrar-me à vida e prestigiar a coleção das providências que me procuravam o reajuste, mas passei a ver o tio Manoel que muito vagarosamente me implantou no coração o propósito de obedecer às Forças Divinas que nos trazem ao berço e depois nos conduzem à morte…

9 Tentava fixar a atenção nas pessoas e nos objetos acreditando que isso me seguraria no corpo cansado; no entanto, de permeio, as sugestões do tio Manoel iam vencendo…
E venceram.

10 Graças a Deus, o Ângelo e o Luís escaparam de qualquer lesão. É que eles, mãezinha, deveriam ficar.

11 Estou quase conformada se não fosse a falta de meu pai, do seu carinho e de nossa casa. Mas a gente vai se virando e penso com o seu apoio, afastarei de mim mesma esta disposição a bronquear sem sentido e sem necessidade.

12 Mãezinha Elisa, peço-lhe despachar a tristeza para longe de nós. Sua filha quer vê-la contente e animada para o trabalho e para a vida.

13 Rogo ao seu carinho não conversar chorando com os meus pobres retratos. Se os seus olhos pousarem com firmeza nos meus, observará que estou firme, quase numa boa, curtindo novidades e mudanças para melhor. A saudade é que atrapalha, mas havemos de pulverizar essa nuvem para que desapareça. Para isso conto com o seu auxílio.

14 Conte ao Luís que estou vivendo de outro modo. Que ninguém me suponha capaz de botar banca de Espírito perseguidor; não faria isso. n Tenho todos os nossos no meu respeito e nos meus melhores sentimentos.

15 Peço ao Ângelo lembrar-me na alegria que é sempre nossa. Nada de me localizar em corpo machucado e em gemidos que saíram por engano de minha boca. Preciso daquele astral positivo que o seu bom ânimo sempre me ensinou a sustentar.

16 Mamãe Elisa, se chorarmos, isso será de ora em diante de reconhecimento a Deus por toda a felicidade de que recebemos. Sei que as suas atenções se voltaram para a fé! Pois isso me reconforta.

17 Meu avô Ângelo e a bisavó querida dizem-me que as suas mãos vão acariciar as Erikas sem o conforto que sempre tive; o seu amor e o meu amor estarão entrelaçados para o auxílio às crianças desvalidas que são tantas. Creia, mãezinha, que eu não sabia que eram tantas…

18 Ao mesmo tempo que o seu desgosto buscou remédio nas cousas da religião, eu fiz o mesmo, na ânsia de reencontrá-los…

19 Foi aí que ao pesquisar tantos caminhos para achar o melhor, tomei o seu e empatamos. Fiquei agradecida a Deus, porque nesse reencontro em que eu abraçava a sua mente fatigada sem que os seus olhos me enxergassem, notei a criançada que vagueia, quase sem ninguém.

20 Mamãe, façamos o trato de trabalhar muito, sobretudo com as nossas próprias mãos, costurando agasalhos ou com a nossa voz dialogando com tanta gente miúda que se vê sem apoio.

21 Isso, por enquanto, é o nosso melhor esquema. Deus nos auxiliará. Sei que meu pai e meu irmão estarão contentes conosco.

22 Não posso escrever muito, vou parar porque o tempo que me deram já está esgotado.
O vovô Ângelo está me auxiliando para que eu possa escrever com a possível rapidez.
Muitas lembranças para o Luís e para Ingrid, n sem me esquecer de quantos vivem constantemente em nossa estima.

23 Agora, meu abraço ao papai e ao irmão, com muitos beijos em seu maravilhoso coração e em sua querida face, da sua filha, sempre a sua


Erika

Erika dos Santos Soares  

06 de junho de 1980. 


Caio Ramacciotti

Paulo de Tarso Ramacciotti



[7] Ângelo Godói, falecido há muitos anos. Manoel Gonçalves Soares, irmão do Sr. Domingos desencarnara em 1951. Nas últimas horas que precederam sua desencarnação, a Erika falou muito deste tio com o pai.

[8] O namorado Luís Marin.

[9] Alusão ao sentimento de culpa do namorado que dirigia o veículo acidentado.

[10] Amiga, residente em Assunção — Paraguai.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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