O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Histórias e anotações — Irmão X


18

A receita oportuna

1 Anacleto, o alegre orientador de uma reunião evangélica, recebeu a visita da Dona Clotilde Serra, que se banhava nas irradiações da fé, plenamente rejuvenescida em seus ideais novos e, ouvindo-lhe a palavra amiga, quanto à provável admissão dela nos serviços do bem, aconselhou, bondoso:

— Irmã Clotilde, comece a tarefa nas obras simples da oração. Encontrará precioso acesso à luz espiritual. Abrindo nossas almas às correntes sublimes que dimanam da prece, surgem para nós oportunidades mil de alegria e paz, sob a inspiração do Cristo.

2 A companheira reconhecida agradeceu e partiu, entusiasta; mas, depois de um mês, informava ao amigo invisível:

— Infelizmente, não pude atender à sugestão. Iniciando o trabalho fui ferida pelo sarcasmo de muitos. Fui severamente criticada e muita gente considerou-me hipócrita…


— Minha amiga, — obtemperou o benfeitor paciente, — porque não ensaia a visitação dos enfermos? Há grande vantagem na sementeira de amizade e simpatia.

3 A consulente ausentou-se conformada, entretanto, alegava, depois de alguns dias:

— Irmão Anacleto, não consegui obedecer-lhe a orientação. Junto aos doentes, recolhi chagas sem número. Não faltou quem me interpretasse por bajuladora na pista de legados e remunerações…

— Não esmoreça! — Observou o instrutor, — o trabalho útil é o nosso caminho para a luz. Auxilie às crianças! Há tanta promessa desamparada no reino infantil!… Jesus lhe abençoará o devotamento.

4 Dona Clotilde saiu encorajada, contudo, quando correram dois meses sobre a nova experiência, regressou clamando, desalentada:

— Irmão, não me foi possível seguir adiante… Tentando socorrer os meninos abandonados, não faltou quem me designasse por sanguessuga da caridade e alguns vizinhos chegaram a caluniar-me, afirmando, de público, que o meu apego às criancinhas significava a reparação de crimes que não cometi…

5 Anotando as grossas lágrimas que lhe rolavam das faces, Anacleto afagou-a e ponderou, calmo:

— Não se entristeça! Volte-se para as nossas irmãs desventuradas. Ampare, sem alarde, as mulheres infelizes que a necessidade arrastou aos despenhadeiros de ilusão!… Quem sabe? Talvez encontre uma lavoura preciosa de amor.

6 A sensível senhora ausentou-se, consolada, mas quando duas semanas se escoaram sobre o novo trabalho, tornou à reunião, choramingando:

— Anacleto, não posso! não posso!… a maldade, desta vez, foi excessivamente rude comigo… Imagine que, em me derramando no socorro fraternal, fui nomeada por mulher indigna do nome que me gabo de sustentar!… Doem-me fundamente semelhantes insultos!…


7 Registrando-lhe os soluços convulsivos, o prestimoso orientador sugeriu, compadecidamente:

— Clotilde, tente a mediunidade no auxílio ao próximo. A enfermidade e a ignorância campeiam em quase todos os setores da luta humana. Faça alguma cousa. A grande questão é começar. Não dê entrada ao desânimo! Sigamos na vanguarda luminosa do bem! Mais vale uma candeia brilhante palidamente sobre o óleo da boa vontade que um milhão de comovedores discursos contra o domínio das trevas!…


8 Retirou-se a irmã tranquilizada e confiante, mas, após o transcurso de algumas semanas, voltou ao grupo e reclamou:

— Ah! que tarefa ingrata nos impõe o ministério mediúnico! O médium é um joguete desventurado entre a curiosidade e a suspeição! Por mais se esforce não encontra a segurança do apoio e da fé naqueles que o rodeiam, e acaba sempre qual me sinto, sucumbindo de dor entre a desconfiança e a malícia de quase todos os companheiros… Anacleto, Anacleto! Que será de mim?


9 Desta vez, porém, o mentor recolheu-se ao silêncio com visível tristeza e porque tardasse a resposta a servidora complicada inquiriu ansiosa:

— Que fazer, meu amigo? Como proceder? Auxilie-me com uma receita oportuna!… Anacleto, contudo, razoavelmente desencantado, mas, ainda otimista, respondeu sereno:

— Irmã Clotilde, compreendo agora o seu caso com mais clareza! O seu problema, por enquanto, é de medicina. Procure um especialista em moléstias de pele, com a presteza possível, e provavelmente, muito em breve, poderá recomeçar…


Irmão X

(Humberto de Campos)

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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