O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Gratidão e paz — Familiares diversos


Capítulo 16

Acácio Costa Freitas Neto


“O ÓDIO NÃO SE ENQUADRA EM NOSSOS PENSAMENTOS”

Acácio Costa Freitas Neto, de 29 anos, casado, já estava em Goiás, há 4 anos, administrando a fazenda da família, quando foi atingido mortalmente por arma branca.

Os detalhes dessa lamentável ocorrência, que teve lugar na Vila Maralina, município de Mara Rosa, GO, a 7 de março de 1983, foram descritos por ele mesmo, em Espírito, na sua primeira e confortadora carta mediúnica.

Nessa mensagem, recebida em 9 de julho de 1983, portanto, poucos meses depois do fato, Acácio, amparado por familiares queridos do Mais Além, demonstrava elevado entendimento e já externava o seu perdão ao “infeliz irmão”.

Colocava, assim, em prática os ensinamentos assimilados no Centro Espírita que frequentava em Uruaçu, GO, e nos livros espíritas, que se tornaram seus companheiros inseparáveis, nos últimos tempos de sua vida terrena. Aliás, ele enfatizava aos amigos e confrades a necessidade da prática das lições hauridas da leitura, conforme veremos o depoimento de uma amiga poetisa.

Ultimamente, também em vida material, Acácio havia assistido, por duas vezes, os trabalhos práticos do GEP, em Uberaba, admirador que era de Chico Xavier, sem ter tido a oportunidade de dialogar com ele. E nessas ocasiões, nunca imaginando, certamente, que naquele mesmo salão viria em Espírito, como mensageiro do Bem e do Amor, para consolar e orientar seus queridos pais, esposa, filhos e familiares, em testemunhos que muito nos enriquecem e sensibilizam.




PRIMEIRA CARTA


1 Querida mãezinha Nelcy, com o papai Ademar, receba os meus agradecimentos, com os meus pedidos de bênção e apoio como sempre.

2 Sou conduzido pela vovó Maria Rola que me encorajou a trazer-lhes notícias. Estou bem, depois de um período difícil de reajustamento.

3 A separação compulsória de Nicilene e meus filhos, dos queridos pais e de todos os nossos, de começo, me arrasava o coração. Graças a Deus, amparado por minha avó Maria e pela vovó Anna, reconheci que me cabia esquecer as condições amargas que cercaram a minha liberação da vida física.

4 Mãezinha Nelcy, compreendo que fui a vítima da lâmina que me penetrou o peito pelas costas, mas penso em Jesus e estou confortado por não ter erguido a mão para revidar.  5 Aliás, o pobre amigo que me separou do corpo, estava super-excitado e incapaz de controlar os próprios impulsos. 6 Tive a infelicidade de recusar-lhe a mão de amigo num momento em que a irritação igualmente me assinalava e, de certa forma, devia de minha parte solicitar-lhe desculpas e ofertar-lhe a mão em sinal de amizade e atendimento. 7 O meu gesto de indiferença gerou nele a excitação com que me cortou o corpo, quando eu precisava tanto continuar viver em família.

8 Naquela hora, tarde demais para qualquer conciliação, pensei nos pequeninos nossos que eu deixava. O Acácio Júnior e outros, entre os quais coloco o nosso Rodrigo, que sendo o meu filho, aparentemente fora de casa, nunca esteve fora de nós. Agradeço à Nicilene a dedicação que lhe dá, amparando-lhe o desenvolvimento junto de nossos próprios filhos, e peço a Deus recompense também aos queridos pais pelo carinho que dispensam à família que lhes leguei.

9 Desejo terminar pedindo ao papai e aos nossos familiares não agravarem a situação do companheiro a que não posso censurar. Deus nos criou irmãos uns dos outros e não posso considerar como agressor o amigo que continuo a respeitar por filho de Deus e meu “irmão” perante a vida.

10 Agora, querida mamãe Nelcy, é o momento de meu até quando? Sabe Deus. Contento-me com a certeza de que estamos todos unidos para sempre.

11 Querida mãezinha e querido papai Ademar, recebam com a esposa e meus filhos queridos a gratidão e a confiança inalteráveis do filho e amigo de todos os momentos,


Acácio Costa Freitas Neto


Notas e Identificações

1 - Nelcy e Ademar — Seus pais, Nelcy Freitas Costa e Ademar da Costa Lopes, residentes em Ribeirão Preto, SP.

2 - Vovó Maria Rola — Bisavó paterna, desencarnada em Piuí, MG, a 19/12/1967.

3 - Nicilene — Nicilene Machado, esposa.

4 - Vovó Anna — Anna Rodrigues Cortes, desencarnada em Uruana, GO, a 11/8/1964.

5 - Acácio Júnior e Rodrigo — Acácio Costa Freitas Júnior e Rodrigo Sandre Costa, filhos.

6 - Em 23/7/1984, Dª Nelcy recebeu um exemplar do livro A Vida e o Tempo (Edições Garatuja, Editora Comercial Safady Ltda., S. Paulo, SP, 1984), com dedicatória da própria autora, Dª Áurea Celeste Martins, sua amiga, residente em Uruaçu, GO, presidente do Centro Espírita que era frequentado pelo Acácio. Tal obra veio também com dedicatória e carta da filha de Dª Áurea, Sandra Maria Martins Fidélis, colaboradora da mesma com quatro poesias. Nessa carta, Sandra esclareceu que a poesia “A Um Amigo” foi escrita em memória de seu amigo Acácio. E ao redigi-la, no dia seguinte ao triste acontecimento, recordou-se do carinho que ele demonstrava pelo livro Pão Nosso (F. C. Xavier, Emmanuel, FEB), seu companheiro inseparável, e de alguns comentários que ela ouviu de seus lábios sobre temas daquela obra, especialmente argumentando a respeito da necessidade de se praticar os ensinamentos lidos. A seguir, transcreveremos três estrofes (2º, 3º e último) da poesia “A Um Amigo”, escrita em 8/3/1983:

“Mais uma jornada na Terra terminou,
Na hora da partida seu sorriso ficou.
Esquecemos a incompreensão, o egoísmo, a falta de paciência,
E recordamos sua alegria, seu sorriso,
Você sabe que alguém muito lhe ajudou.

Pelos erros de um irmão, quero lhe pedir
Não guardar nenhum rancor.
Aos amigos que aqui deixou,
Aquele plá há de querer mandar.
Os inimigos que você no caminho encontrou,
Perdoa-os pelas faltas que praticaram,
Aprenda a amar para poder perdoar.

Palavras e frases, o seu eco soou,
O Pão Nosso
Recordo-me de suas palavras,
Pedindo que a cada instante
Pratique e guarde no coração,
A página de um livro maravilhoso
Que Chico Xavier psicografou,
Pois sempre você o admirou.”




SEGUNDA CARTA


1 (…) Felizmente, vou seguindo com melhoras evidentes.

2 A lâmina do nosso infeliz irmão, que me despojou do corpo em Maralina, não me afetou o Espírito.

3 Já consigo orar pela tranquilidade dele e pela proteção maior do Alto, em seu benefício.

4 O ódio não se enquadra em nossos pensamentos, e compreendo hoje, que todos aqueles que se fazem agressores, são irmãos doentes que necessitam muito mais de amor do que castigo. (…)


Nota

7 - Trecho da mensagem recebida em 14/9/1984.




TERCEIRA CARTA


1 Querida mamãe Nelcy, peçamos a bênção de Jesus em nosso favor.

2 Desde muito venho ensaiando alguma carta em que lhe possa dizer de minhas preocupações. Hoje, no entanto, não posso calar o que me vai no espírito.

3 A senhora está sabendo que se formará o júri para julgar o pobre amigo que me retirou do corpo. Mãe, não fui eu quem agrediu ou feriu alguém, e por que meu pai Ademar deseja com tanto ardor a condenação de um homem que é filho de Deus, tanto quanto nós?

4 Nem todos os nossos familiares me recebem as notícias com a fé viva de quem sabe que a morte não existe; mas, através de seu carinho materno, peço a meu pai Ademar que não conduza a família para Mara Rosa, para ver o tormento de um homem à frente de acusações que nunca supôs receber.

5 Meu pai tem autoridade e tem forças para conduzi-la, com todos os nossos, à cena patética em que o meu agressor, hoje meu irmão, ouvirá palavras que lhe custarão duras penas. Não compreendo porque meu pai Ademar não consegue me escutar. 6 E se os papéis fossem trocados, se fosse eu o agressor, não teria ele bastante coração para me defender? Não será bastante para o amigo, que lá está por Maralina e Mara Rosa, amargando ásperas reflexões?

7 Mas insisto, com amor e humildade, para que meu pai Ademar desista da ideia de transportar toda a família para Goiás, unicamente para saber qual é a fala da acusação.

8 Nicilene, porque não se recusa, a esposa que amo tanto, a seguir para esse espetáculo? Peço a ela e ao meu pai que poupem meus filhos à sementeira da vingança. Acácio, Frederico e Tati com o irmão ficariam marcados para sempre com a ideia de que um delito de sangue somente se apagará à custa de mais sangue.

9 Meus irmãos, peçam a meu pai por minha paz, desistindo dessa viagem, transpirando a desforra que somente nos impelirá a mais contradições e mais ódio. Bossuet, Welington e César me auxiliem.

10 Aqui na vida espiritual, pedi socorro ao meu avô paterno Costa Lopes para interceder e ele me prometeu que agirá junto de minha avó Flauzina, para que ela aconselhe a meu pai e seu filho não procurar em Mara Rosa mais motivos a discórdias e ressentimentos.

11 É verdade que sofri a agressão de um amigo que me despojou do corpo, mas seria muito mais doloroso se fosse o autor da morte de alguém. O infeliz já está preso no cárcere sem grades da consciência culpada… e sofre muito. Por que escravizá-lo à cela de uma cadeia pública, se eu, que fui vítima, estou livre e pronto para auxiliá-lo em tudo quanto eu puder?

12 Todos somos cristãos, mamãe Nelcy. Onde colocaremos Jesus que nos ensinou a perdoar aos nossos ofensores, como temos sido perdoados?

13 Peço também à minha irmã Cássia, que nos auxilie.
Se meu pai insistir, se minhas palavras para ele forem letras mortas, então não serei eu quem vá pregar indisciplina à nossa família. Meu pai é aquele homem que perdeu a juventude por nossa causa, que trabalhou pela vida inteira para que crescêssemos felizes.

14 Se meu pai insiste, peço-lhe, minha mãe, acompanhá-lo, colocando a paz onde a perturbação se estabeleça.

 15 Se sou obrigado a pedir compaixão ao meu pai para um homem sofredor, eu me sentirei na obrigação de também acompanhá-lo e acompanhar a família até Mara Rosa para influenciar no auxílio àquele que, hoje considerado réu, é meu amigo no silêncio do coração.

16 Aqui ficam, minha mãe Nelcy, os meus pedidos ao seu coração, que conhece a misericórdia de Deus, e a exerce todos os dias em nosso favor.

17 Se formos felizes ou não em nossa iniciativa, que Deus abençoe a nós todos.

18 Receba, mamãe, as muitas esperanças de seu filho agradecido,


Acácio

Acácio Costa Freitas Neto.


Notas e Identificações

8 - Psicografada na noite de 30 para 31/5/1986.

9 - “Quando recebemos esta mensagem o júri do agressor estava marcado, e se realizou na cidade de Mara Rosa, Goiás, no dia 9 de junho de 1986, no qual a família não compareceu, em respeito ao pedido acima. Obrigado, Chico Xavier.” (Esclarecimento da família.)

10 - Frederico e Tati — Frederico Freitas Machado e Tatiany Machado Costa, filhos.

11 - Bossuet, Welington e César — Bossuet Costa Freitas, Welington Costa Freitas e César Freitas Costa, irmãos.

12 - Avô paterno Costa Lopes — Acácio da Costa Lopes, desencarnado em 24/01/1962.

13 - Avó Flauzina — Flauzina Moreira de Jesus, encarnada na época da mensagem, regressou ao Mundo Maior em 02/8/1988, na cidade de Ribeirão Preto, SP, aos 80 anos.

14 - Cássia — Cássia Costa Freitas, irmã.

15 - PALAVRAS DA MAMÃE NELCY: “Acácio quando você chegou, trazido pelas mãos de Deus; numa tarde do dia 13 de janeiro, o Pai Celeste esculpiu sua beleza, pintou seus olhos de verde do mar, encheu de bondade seu coração, e no-lo entregou belo, alegre e dócil. Da mesma forma, numa madrugada do dia 6 para 7 de março, Ele o levou. Você nos foi emprestado. E agradecemos ao Pai pelos poucos anos que o tivemos, filho amado, pela felicidade que eu tive de tê-lo comigo. Por que havemos de tomar o lugar do juiz? Extinguir a vida do próximo, que pertence a Deus? Compadeçamo-nos de nossos irmãos que estão dentro desse ciclo de violência que atravessamos…” (04/08/1988.)

16 - AGRADECIMENTO DA FAMÍLIA — “Estas linhas representam muito pouco para agradecermos a Deus o muito que recebemos das mãos abençoadas de Francisco Cândido Xavier, que pela sua mediunidade nos trouxe a luz que se apagou no olhar de nosso filho, quando nos transmitia sua alegria. As cartas restabeleceram as energias enfraquecidas de nossos corações, que murchavam como as flores sem Sol. As faces molhadas pelas lágrimas de tristeza hoje estão umedecidas pela fé e esperança. O sorriso que se intimidara, hoje existe, natural e compreensivo a colaborar com outras vidas que a dor abateu. Nosso caro Chico Xavier, receba em Deus os nossos agradecimentos, por suas mãos benditas que haverão sempre de endereçar aos aflitos a verdade da Vida Futura.”


Hércio Marcos C. Arantes


Texto extraído da 2ª edição desse livro.

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