O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Gratidão e paz — Familiares diversos


Capítulo 14

Álvaro Júlio Belchior da Fonseca


“EU TAMBÉM NÃO ACREDITAVA NA POSSIBILIDADE DE QUE ME VEJO FAVORECIDO”

Acometido de fortes dores de cabeça, Álvaro Júlio, de 27 anos, foi hospitalizado com suspeita de meningite. Porém, os exames revelaram ruptura de um aneurisma cerebral, patologia que o levou à desencarnação, dias depois, na manhã de 27 de abril de 1985.

Residia em São Paulo, Capital, com sua esposa Elizabeth Navas da Fonseca e os dois filhos Rafael e Marcelo, na época, com 4 e 2 anos respectivamente.

Sua consoladora mensagem, psicografada em Uberaba, na noite de 12 de julho de 1985, apenas 10 semanas após o desenlace, deu novo ânimo aos familiares. Ao escrevê-la, revelou surpresa ao poder comunicar-se com os entes queridos que deixou na Terra, afirmando que “a morte para mim era um sopro de cinzas no cenáculo da Natureza.”

Tal afirmativa não surpreendeu a família; ao contrário, está perfeitamente de acordo com o pensamento dele; sobre essa questão, quando encarnado, assim definido pelo seu progenitor: “Por mais que ele lesse ou ouvisse palestras sobre o Outro Lado da Vida, pairava sempre, dentro dele, uma fagulha de incerteza.”




1 Querida mãezinha Celeste e meu querido papai Fernando. Querida Elizabeth, querida Solange e prezado Orlando, e irmãos queridos. E não desejo esquecer nesta saudação o nosso Rafael, o nosso Marcelo e a nossa Priscila.

2 Estou na condição de um viajante que saiu de casa inesperadamente e volta, sequioso do ambiente familiar, e consegue encontrá-los num recanto de paz, onde amigos da fraternidade nos recebem afetuosamente.

3 Não era meu intuito escrever-lhes, porque o ânimo ainda me falta, diante de um cometimento desses, más ao vê-los, os meus entes queridos que se encontram perto de mim e os outros que se acham mais longe, enterneci-me a ponto de solicitar aos diretores desta casa a devida permissão para transmitir-lhes as minhas notícias.

4 Querido papai Fernando, veja comigo que eu também não acreditava na possibilidade de que me vejo favorecido.

5 A morte, para mim, conquanto, as tintas religiosas com que frequentemente era compelido a colorir as palavras, era um sopro de cinzas no cenáculo da Natureza. 6 O homem? No íntimo, admitia fosse a criatura humana simplesmente pó, retornando à poeira de origem. 7 Entretanto, acordei aqui na Vida Espiritual sob a proteção de uma Maria Santa, a vovó Maria de Jesus, benfeitora infatigável que me enxugou as lágrimas, quando me vi sem a família, cujo amor cultivava, contudo o que eu possuísse de melhor.

8 O princípio dessa jornada foi evidentemente inquietante. Deixara a esposa querida e os nossos meninos sem maiores recursos, e isso me afligia. Entretanto, a vó Maria de Jesus me fez reconhecer a inutilidade de minhas preocupações, falando-me da Bondade Infinita de Deus que significa a Vida de nossas próprias vidas. A saudade, porém, superava o tamanho da fé e realmente sofri muito com a separação imprevista.

9 Era muito sonho a se desmoronar, muitas alegrias que se apagavam de repente, por isso mesmo, foi preciso que o socorro do tempo me abonasse a carência afetiva, somente agora, vou conseguindo reabilitar-me para o trabalho.

10 Felizmente, as dores de cabeça desapareceram. Parece incrível que depois de tanto tempo de provações no corpo dolorido, confortava-me com a ideia da saúde recuperada. Mas, onde estariam vocês todos que constituíam a minha razão de viver?

11 Sempre edificado pelas palavras da vó Maria de Jesus, que me prometia reconduzir-me à nossa casa, esperava com paciência… Voltei para verificar os estragos da minha ausência, mas a querida esposa organizara novamente o nosso pequeno e belo mundo de paz e amor, e aquilo me encorajou para abster-me da lamentação, doando-me ao trabalho.

12 E agora, estou melhorando, e rogo à Elizabeth, sempre que possível, consagrar alguns poucos minutos do dia ao nosso convívio espiritual, na oração, com o que obterei grandes lucros para o serviço que nos cabe prestar aos filhos queridos.

13 Confesso-lhes, porém, que em determinadas horas do dia, sinto-me envolvido nas vibrações de amargura, que não se justificam num homem que recebeu tudo da Divina Providência.

14 Estou feliz, embora dividido entre o aqui, onde vocês se encontram, e o Mais Além, no qual me vejo. Vou convertendo as saudades em serviço, aprendendo, por fim, que somente o nosso amor ao próximo leva-nos à esperança de um reencontro feliz, quando a sabedoria da vida considerar isso possível.

15 Querida Beth, rogo a você não se sentir sozinha. Lembre-se de que nos unimos para jamais nos separarmos, e edificada no amor de nossos filhinhos, sigamos para diante, construindo-lhes o futuro. Querida esposa, estaremos juntos e as nossas energias suplementarão umas às outras, e não nos faltará o caminho para a conquista da felicidade.

16 Meus dias de doença terminaram, graças a Deus, e continuo fortalecido na confiança em Deus e em nós mesmos, para doar aos nossos meninos os instrumentos para a construção da felicidade para eles mesmos.

17 Agradeço muito aos corações queridos que me acolheram aqui, e será para mim uma bênção de Deus, a sua aceitação das provas que nos colheram com a minha partida.

18 Graças a Deus, os pais queridos estão aí e neles apoiaremos os corações para sermos fiéis a Deus e a nós próprios.

19 Querida mãezinha Celeste e querido papai Fernando, com todos os nossos familiares, recebam as muitas lembranças da avozinha que nos oferece o coração amigo e profundamente amado, amparando-nos na difícil jornada na Terra e Além da Terra.

20 Com um beijo à Elizabeth, ao Marcelo e ao Rafael, e um grande abraço ao nosso Orlando, Solange e Priscila, peço-lhes receber todo o carinho com as muitas saudades e lembranças afetuosas do filho sempre reconhecido,


Álvaro Júlio

 Álvaro Júlio Belchior da Fonseca.


Notas e Identificações

1 - Mãezinha Celeste e papai Fernando — Seus pais, Fernando Belchior da Fonseca e Celeste do Céu da Fonseca, residentes em S. Paulo, Capital.

2 - Solange — Solange Belchior da Fonseca Rodrigues, irmã.

3 - Orlando — Orlando Rodrigues Filho, cunhado e grande amigo.

4 - Priscila — Priscila Rodrigues, sobrinha, com 4 anos na época da mensagem.

5 - Maria de Jesus — Avó materna, falecida em Portugal, no ano de 1967, não tendo Álvaro nenhum contato com a mesma, quando encarnado.

6 - Álvaro Júlio Belchior da Fonseca — Nasceu a 07/12/1957. Prestativo e sincero, fazia amizades com muita facilidade. Diplomou-se em Técnico de Eletrônica.

7 - A família, hoje, interpreta que ele teve PRESSENTIMENTOS de próxima desencarnação, embora gozando perfeita saúde: Em suas conversas, fazia sentir que tinha vontade de conhecer o Outro Lado da Vida e, não raro, aparecia um adeus, como por exemplo, o Cartão de Aniversário que ele redigiu à sua irmã, carinhosamente chamada de Preta: “Querida Pretinha, hoje, nesta data, eu estou junto de ti, Graças a Deus. No próximo ano, talvez não sei, mas caso eu não estiver não chores, pois estarei sempre junto de ti em espírito. 23/8/1984.” Álvaro desencarnou em 27/4/1985. Observa-se, também, nesse Cartão, quando ele se revela espiritualista, uma amostra de “colorimento de palavras com tinta religiosa”, conforme seu esclarecimento na Carta mediúnica.


Hércio Marcos C. Arantes


Texto extraído da 2ª edição desse livro.

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