Acometido de fortes dores de cabeça, Álvaro Júlio, de 27 anos, foi hospitalizado com suspeita de meningite. Porém, os exames revelaram ruptura de um aneurisma cerebral, patologia que o levou à desencarnação, dias depois, na manhã de 27 de abril de 1985.
Residia em São Paulo, Capital, com sua esposa Elizabeth Navas da Fonseca e os dois filhos Rafael e Marcelo, na época, com 4 e 2 anos respectivamente.
Sua consoladora mensagem, psicografada em Uberaba, na noite de 12 de julho de 1985, apenas 10 semanas após o desenlace, deu novo ânimo aos familiares. Ao escrevê-la, revelou surpresa ao poder comunicar-se com os entes queridos que deixou na Terra, afirmando que “a morte para mim era um sopro de cinzas no cenáculo da Natureza.”
Tal afirmativa não surpreendeu a família; ao contrário, está perfeitamente de acordo com o pensamento dele; sobre essa questão, quando encarnado, assim definido pelo seu progenitor: “Por mais que ele lesse ou ouvisse palestras sobre o Outro Lado da Vida, pairava sempre, dentro dele, uma fagulha de incerteza.”
1 Querida mãezinha Celeste e meu querido papai Fernando. Querida Elizabeth, querida Solange e prezado Orlando, e irmãos queridos. E não desejo esquecer nesta saudação o nosso Rafael, o nosso Marcelo e a nossa Priscila.
2 Estou na condição de um viajante que saiu de casa inesperadamente e volta, sequioso do ambiente familiar, e consegue encontrá-los num recanto de paz, onde amigos da fraternidade nos recebem afetuosamente.
3 Não era meu intuito escrever-lhes, porque o ânimo ainda me falta, diante de um cometimento desses, más ao vê-los, os meus entes queridos que se encontram perto de mim e os outros que se acham mais longe, enterneci-me a ponto de solicitar aos diretores desta casa a devida permissão para transmitir-lhes as minhas notícias.
4 Querido papai Fernando, veja comigo que eu também não acreditava na possibilidade de que me vejo favorecido.
5 A morte, para mim, conquanto, as tintas religiosas com que frequentemente era compelido a colorir as palavras, era um sopro de cinzas no cenáculo da Natureza. 6 O homem? No íntimo, admitia fosse a criatura humana simplesmente pó, retornando à poeira de origem. 7 Entretanto, acordei aqui na Vida Espiritual sob a proteção de uma Maria Santa, a vovó Maria de Jesus, benfeitora infatigável que me enxugou as lágrimas, quando me vi sem a família, cujo amor cultivava, contudo o que eu possuísse de melhor.
8 O princípio dessa jornada foi evidentemente inquietante. Deixara a esposa querida e os nossos meninos sem maiores recursos, e isso me afligia. Entretanto, a vó Maria de Jesus me fez reconhecer a inutilidade de minhas preocupações, falando-me da Bondade Infinita de Deus que significa a Vida de nossas próprias vidas. A saudade, porém, superava o tamanho da fé e realmente sofri muito com a separação imprevista.
9 Era muito sonho a se desmoronar, muitas alegrias que se apagavam de repente, por isso mesmo, foi preciso que o socorro do tempo me abonasse a carência afetiva, somente agora, vou conseguindo reabilitar-me para o trabalho.
10 Felizmente, as dores de cabeça desapareceram. Parece incrível que depois de tanto tempo de provações no corpo dolorido, confortava-me com a ideia da saúde recuperada. Mas, onde estariam vocês todos que constituíam a minha razão de viver?
11 Sempre edificado pelas palavras da vó Maria de Jesus, que me prometia reconduzir-me à nossa casa, esperava com paciência… Voltei para verificar os estragos da minha ausência, mas a querida esposa organizara novamente o nosso pequeno e belo mundo de paz e amor, e aquilo me encorajou para abster-me da lamentação, doando-me ao trabalho.
12 E agora, estou melhorando, e rogo à Elizabeth, sempre que possível, consagrar alguns poucos minutos do dia ao nosso convívio espiritual, na oração, com o que obterei grandes lucros para o serviço que nos cabe prestar aos filhos queridos.
13 Confesso-lhes, porém, que em determinadas horas do dia, sinto-me envolvido nas vibrações de amargura, que não se justificam num homem que recebeu tudo da Divina Providência.
14 Estou feliz, embora dividido entre o aqui, onde vocês se encontram, e o Mais Além, no qual me vejo. Vou convertendo as saudades em serviço, aprendendo, por fim, que somente o nosso amor ao próximo leva-nos à esperança de um reencontro feliz, quando a sabedoria da vida considerar isso possível.
15 Querida Beth, rogo a você não se sentir sozinha. Lembre-se de que nos unimos para jamais nos separarmos, e edificada no amor de nossos filhinhos, sigamos para diante, construindo-lhes o futuro. Querida esposa, estaremos juntos e as nossas energias suplementarão umas às outras, e não nos faltará o caminho para a conquista da felicidade.
16 Meus dias de doença terminaram, graças a Deus, e continuo fortalecido na confiança em Deus e em nós mesmos, para doar aos nossos meninos os instrumentos para a construção da felicidade para eles mesmos.
17 Agradeço muito aos corações queridos que me acolheram aqui, e será para mim uma bênção de Deus, a sua aceitação das provas que nos colheram com a minha partida.
18 Graças a Deus, os pais queridos estão aí e neles apoiaremos os corações para sermos fiéis a Deus e a nós próprios.
19 Querida mãezinha Celeste e querido papai Fernando, com todos os nossos familiares, recebam as muitas lembranças da avozinha que nos oferece o coração amigo e profundamente amado, amparando-nos na difícil jornada na Terra e Além da Terra.
20 Com um beijo à Elizabeth, ao Marcelo e ao Rafael, e um grande abraço ao nosso Orlando, Solange e Priscila, peço-lhes receber todo o carinho com as muitas saudades e lembranças afetuosas do filho sempre reconhecido,
Álvaro Júlio
Álvaro Júlio Belchior da Fonseca.
Notas e Identificações
1 - Mãezinha Celeste e papai Fernando — Seus pais, Fernando Belchior da Fonseca e Celeste do Céu da Fonseca, residentes em S. Paulo, Capital.
2 - Solange — Solange Belchior da Fonseca Rodrigues, irmã.
3 - Orlando — Orlando Rodrigues Filho, cunhado e grande amigo.
4 - Priscila — Priscila Rodrigues, sobrinha, com 4 anos na época da mensagem.
5 - Maria de Jesus — Avó materna, falecida em Portugal, no ano de 1967, não tendo Álvaro nenhum contato com a mesma, quando encarnado.
6 - Álvaro Júlio Belchior da Fonseca — Nasceu a 07/12/1957. Prestativo e sincero, fazia amizades com muita facilidade. Diplomou-se em Técnico de Eletrônica.
7 - A família, hoje, interpreta que ele teve PRESSENTIMENTOS de próxima desencarnação, embora gozando perfeita saúde: Em suas conversas, fazia sentir que tinha vontade de conhecer o Outro Lado da Vida e, não raro, aparecia um adeus, como por exemplo, o Cartão de Aniversário que ele redigiu à sua irmã, carinhosamente chamada de Preta: “Querida Pretinha, hoje, nesta data, eu estou junto de ti, Graças a Deus. No próximo ano, talvez não sei, mas caso eu não estiver não chores, pois estarei sempre junto de ti em espírito. 23/8/1984.” Álvaro desencarnou em 27/4/1985. Observa-se, também, nesse Cartão, quando ele se revela espiritualista, uma amostra de “colorimento de palavras com tinta religiosa”, conforme seu esclarecimento na Carta mediúnica.
Hércio Marcos C. Arantes