1 Querido papai, querida mãezinha Nilda e minha querida Lilian; peço a Deus nos envolva em Sua Bênção.
2 O tempo se desdobra incessantemente e o amor sempre evidencia a necessidade de parar por alguns momentos, na trilha das horas para reconsiderar os assuntos do coração.
3 Entendo a extensão da noite que avança com o trabalho exaustivo para os companheiros que nos assistem, no entanto, pedi vez aos nossos mentores a fim de agradecer aos meus queridos do Lar, quanto fazem por minha felicidade, distribuindo alegria e paz em minha memória.
4 Reconheço com que carinho a mamãe Nilda se dedica ao serviço, especialmente no apoio aos pequeninos, lembrando-me a presença de filho que lhe cresceu nos braços. Entretanto, querido papai, desejo nesta noite agradecer à querida Lilian por ter vindo.
5 Querida irmã, estou feliz ao tê-la junto de nós, nestas vésperas de Natal e, em nome das nossas alegrias, desejo que o seu coração querido e fraterno me receba no íntimo com a certeza da sobrevivência do irmão que não morreu.
6 Lilian querida, por vezes, noto-a preocupada com as atenções condensadas de nossa querida mãezinha a meu respeito, no entanto, rogo-lhe tranquilizar-se. Creia, posso tão pouco ainda, mas, quanto se me faça possível, trabalharei por sua felicidade e quero a sua bênção, a bênção de sua paz com respeito à minha presença espiritual em nossa casa e juntamente dos nossos. 7 A mãezinha e o papai se dividem por nós ambos com igual amor e pode acreditar que com meu voto a Deus por sua felicidade, formo em casa a maioria, por sermos então três corações centralizados no propósito de vê-la sempre feliz.
8 Creia em seu irmão e queira-me com aquela afeição sempre nossa — laço de luz que sempre nos reuniu uns aos outros, para a vida.
9 Peço a você, ainda, auxiliar-me para que o papai e mamãe não voltem à nossa casa antiga por enquanto. As recordações negativas ainda estão em toda a paisagem e observo que os nossos pais queridos não se reconhecem com forças bastante para implantar o presente na moldura do passado, de vez que as nossas lágrimas foram muitas. 10 Pouco a pouco, estamos readquirindo a fortaleza indispensável para que nos habituemos aos padrões psicológicos da atualidade sem que as sombras dos dias que se foram não interfiram com os momentos atuais de nossas esperanças.
11 Mais tarde, os pais queridos saberão tanto quanto eu, os motivos da ocorrência brutal que me retirou do corpo físico em São Pedro. Por agora, meu pai, não nos seria aconselhável penetrar nos arquivos em que se nos guardam as reminiscências mais profundas, entretanto, posso dizer ao seu carinho e à bondade da mamãe Nilda que os acontecimentos que determinaram a minha desencarnação violenta, chegam de longe.
12 Pude rever São Pedro, quando a cidade começava num conjunto singelo de sítios em torno da capela que tutelava a fé viva dos moradores.
13 Picadão era o nome da paisagem colorida e tranquila, a se fazer caminho para Rio Claro e Piracicaba e, ainda agora, pude encontrar amigos de outro tempo, dos quais destaco o amigo Joaquim Pedroso de Queiroz, a irmã Gabriela Maria de Jesus, o amigo Antônio Teixeira de Barros e o benfeitor Veríssimo Prado que não se imobilizaram no tempo e são hoje mentores que conseguiram conscientizar-me, quanto aos débitos que resgatei.
14 Digo isso apenas a fim de que não mais me lamentem a prova, porque a prova foi justa, dando-me saber que Deus unicamente nos concede o melhor que sejamos capazes de receber.
15 Mãezinha Nilda perdoe-me se me alonguei tanto nas considerações em torno do assunto. É que desejo entregar ao papai elementos sólidos de raciocínio para que ele saiba que o filho a quem ele ama com tanto devotamento não sofreu sem razão.
16 O tempo nos facultará novas oportunidades para seguirmos anotando novos tópicos para o nosso maior entendimento.
17 Lembranças aos amigos. Querida Lilian, muito grato ao seu carinho de irmã. E para ambos, meus pais queridos, todo o coração do filho que lhes deve tanto e que, por isso mesmo, lhes será sempre dedicado e reconhecido.
Paulinho
COMENTÁRIOS
A reminiscência impôs-se a Paulo Sérgio Basile e fê-lo reconhecer-se no estágio das provas em que o passado lhe confinou o Espírito nobre.
A tela da memória mostra-lhe a época a que remontam esses compromissos e, emoldurado de esperanças, pouco a pouco recupera-se. Entrega-se a padrões novos e consciente, bendiz as próprias lutas.
No resgate do seu débito, o jovem desencarnado é esclarecido pelos Mentores, declinados e destacados em seus vínculos com as tradições e com a fundação da cidade de São Pedro.
PESSOAS E FATOS
Paulo Sérgio Basile: Nascimento: 18.4.1957. Desencarnação: 6.1.1978.
Pais: Paulo Mário Basile e Nilda Sialarello Basile — Rua Dom Duarte Leopoldo, 540, São Paulo — SP.
Irmã: Lilian Basile
Capitão Veríssimo Prado, chegou a São Pedro, lá por 1875, durante muitos anos militou na polícia; foi o primeiro presidente da Câmara Municipal, e uma das principais ruas da cidade recebeu seu nome.
Antônio Teixeira de Barros, sobrinho do fundador de São Pedro, Joaquim Teixeira de Barros.
Gabriela Maria de Jesus (Nhá Bela), viúva de Joaquim Pedroso de Queiróz; a primeira pensão de São Pedro era de sua propriedade.
Rubens S. Germinhasi