1 Guarda cuidado, nas horas de aflição, para que as tuas lágrimas de sofrimento não se convertam em óleo de egoísmo, incandescido nas chamas do desespero, a incendiar-te o caminho.
2 Lembra-te dos que jornadearam na Terra antes de ti e recorda que outros viajarão amanhã no sulco de teus passos para que a serenidade e a confiança te abençoem a existência.
3 Nos instantes de inconformação e de dor, lança breve olhar à retaguarda e reflete na angústia dos que caminham, dentro da noite, sem esperança…
4 Observa os que jazem na sombra da cegueira, os que se tresmalham nas trevas da loucura, os que foram mutilados ao nascer…
5 Medita naqueles que ainda hoje não dispuseram de pão para sossegar o estômago atormentado, que não puderam conciliar o sono sob as garras da inquietação ou que agonizam fora do lar, sequiosos da assistência e do afeto que lhes faltaram à vida…
6 Não te detenhas, na revolta ou no desânimo, já que possuis cérebro para raciocinar com segurança, olhos para enxergar a paisagem, verbo para tecer a caridade e o consolo das mãos para auxiliar…
7 Não olvides que as aflições irremediáveis emudecem o coração, impedindo, muitas vezes, a própria palavra naqueles que lhes padecem o insulto.
8 E, fazendo da própria luta o aprendizado bendito que Deus te concede, transforma a tua aflição menor, que ainda pode clamar e definir-se, queixar-se e estender-se, em sublime passo de entendimento para que te faças mais útil aos que sofrem mais que ti mesmo, assimilando do Senhor a lição inolvidável do sacrifício e da renúncia, através da qual, diante da flagelação e da morte, converteu a própria cruz num poema de bem-aventurança e vida imperecível.
Emmanuel