1 Querida mamãe.
Dizem que, nos primeiros tempos do mundo, há muitos milênios, a Morte só aparecia entre os homens atendendo a chamados da Longa Vida.
2 A criatura nascia, crescia e desfrutava os bens da Terra e unicamente quando mais que centenária é que se via recolhida pela Morte para a renovação.
3 Os homens, porém, se apaixonaram pelo poder terrestre e começaram a lutar entre si.
4 Pisando o chão do planeta, não mais queriam saber dos Céus e nem da luz que a Divina Providência lhes reservava.
5 Empenhavam-se todos à guerra incessante, criando o ódio e o sofrimento, a ponto de nada mais enxergarem senão as criações dos seus próprios enganos. Não mais fitavam as estrelas, esmagavam as flores sem consideração, enodoavam as fontes e incendiavam os campos, apedrejando-se uns aos outros.
6 Diante disso, os Anjos Orientadores do Mundo foram a Deus, rogando medidas que liquidassem com semelhantes atropelos.
7 Dizem que o Senhor ouviu a queixa, pensou muito, e respondeu:
— Todos os homens e todas as mulheres na Terra são meus filhos e não posso abandonar a ninguém. Mas peçam à Morte para que, de agora em diante, traga para os Céus todos aqueles que precisem de menos trabalho na vida física. Isso poderá reacender a chama do amor nos lares terrestres…
8 Foi aí que a Morte passou a conduzir crianças e jovens na direção do Mais Além.
9 Desde então, apareceu um caminho de luz, entre o Céu e a Terra, caminho formado pelas preces e pelas lágrimas de todos os que choravam a ausência de entes queridos.
10 Colocando o coração nessa estrada aberta entre o Mundo e o Firmamento, as criaturas humanas regressaram ao culto do amor e da fé ardente em Deus.
11 Esse caminho de luz, querida mamãe, tem um nome bendito. Chama-se Saudade.
Augusto Cezar