1 Sobre o mundo da criança
Alguém me manda escrever:
Quando quem pode é quem manda
Obediência é dever.
Gosto muito de meninos,
Mas não sei o que fazer.
2 Quem nascia antigamente
Achava quem protegia,
Pai e mãe formavam dupla
Que velava noite e dia;
E dessa prova de amor
Qualquer criança sabia.
3 Chegasse o recém-nascido,
Parecia o viajante,
Parente do coração
Há muito tempo distante,
A família toda em festa
Ficava mais importante.
4 Amigos traziam flores
De paz e satisfação,
A criança ouvia preces
De carinho e gratidão,
Sabendo-se recebida
Por dentro do coração.
5 Das razões do nascimento
Ninguém queria o porquê,
A criança era beijada
De alegria, já se vê,
A mamãezinha no quarto
Amamentava o bebê.
6 Hoje em dia, um pequenino
Já nasce tristonho e só,
É dado para a enfermeira,
Não vê vovô, nem vovó,
Não ganha leite materno;
Nasceu, tome leite em pó.
7 Não há mais festa, nem preces…
Seja menino ou menina,
Que não se arranque do berço,
Que se aguente no arrozina,
Em vez de colos e abraços
É vacina e mais vacina.
8 Mamãe vai para o trabalho,
A criança chora e chama,
Tem sede e fome de amor,
Mas ninguém lhe nota o drama
Depois das mãos da enfermeira
Vai para os braços da ama.
9 A ama vive no esquema,
O nenê quer conversar,
Papai, porém, não tem horas
Para carinhos no lar,
A mamãe regressa tarde,
Precisa de repousar.
10 A criança tem de tudo,
Brinquedos, roupa enfeitada,
Aniversários em festa,
Televisão e mesada,
Mas dos pais de que nasceu
Já se sente rejeitada.
11 Aí começa o salseiro
Do lar a se decompor,
Rara é a criança que chega
Da Vida Superior,
Quase sempre é parentela,
Pedindo pousada e amor.
12 Sentindo-se em menosprezo,
O Espírito renascente
Sem apoio que o renove,
Faz-se rebelde e doente,
Frio, amargo e revoltado
Mesmo forte e inteligente.
13 Hoje, ouvindo professores,
Falando de educação,
Não sei quando o não é sim,
Nem sei quando o sim é não,
Só peço aos pais que observem
A lei da reencarnação.
14 Organizar o futuro
Para melhor é dever,
Mas aqui falo a verdade
Que todos devem saber:
O que se faz à criança
É o que vai acontecer.
Leandro Gomes de Barros
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