Ivan Sérgio Athayde Vicente, filho do casal Bernardo Vicente — Maria Celeste Athayde Vicente, nasceu em Londrina, Estado do Paraná, aos 30 de março de 1957.
Inteligente e responsável, com 17 anos completou o Curso Colegial. No ano seguinte, atendendo ao seu ideal maior, ingressou no Aero Clube de sua terra natal, onde realizou o curso para piloto aviador, conseguindo de seus instrutores as melhores notas.
Prosseguindo nos estudos, concluiu o Curso Básico, sendo aprovado no exame para piloto comercial. A seguir, completou também o curso para voo por instrumentos, havendo sido aprovado e considerado apto para executá-lo com apenas 19 anos de idade, tido na época como o mais novo Comandante do país com esta capacidade técnica.
Ivan Sérgio, um moço sem vícios, dedicava-se intensamente à profissão que abraçou e à sua família. Externando constante carinho à sua mãe, sempre lhe prometia as melhores coisas deste mundo, a fim de torná-la cada vez mais feliz.
Co-pilotar um avião Pipper Navajo foi o seu primeiro emprego, que o deixava irradiante de felicidade por ver que estava realizando seu grande ideal. Ao alcançar 1.000 horas de voo neste tipo de avião, surgiu uma grande oportunidade na sua carreira profissional, que ele não teve dúvidas em aceitar: no novo emprego seria o comandante!
Dessa forma, para o jovem piloto tudo transcorria na maior felicidade. Porém, “seu ideal se encerraria após 19 anos, 9 meses e 9 dias vividos neste mundo”, números assim anotados carinhosamente pelo seu pai.
Em 9 de dezembro de 1976, às 6 horas ele partiu de Londrina com destino a Ourinhos, São Paulo, e a seguir Viçosa, Minas Gerais. Sendo o dia 9 uma quinta-feira, antes de sair abraçou e beijou sua mãe dizendo que voltaria, no sábado ou domingo, para completar os planos referentes às festas do Natal e Ano Novo que se aproximavam.
Mas este voo não teve regresso para o lar. Em Ourinhos, embarcou o casal, proprietário do avião, que seguia para Viçosa a fim de participar de uma festa. Na rota Ourinhos-Viçosa, nas proximidades de Pirassununga, SP, havia mau tempo com muitas nuvens baixas e chuvas fortes. Após entrar em contato, via rádio, com a torre de controle de voo de Pirassununga, Ivan Sérgio foi autorizado a baixar para sair da camada de nuvens, e ao efetuar esta operação foi de encontro à serra que circunda Analândia, SP, havendo explosão do avião e morte instantânea de todos os seus ocupantes. Eram 9 horas, daquele dia 9, quando iniciaram a grande viagem para o Mais Além.
Regresso consolador
Ivan Sérgio foi sepultado em sua terra natal. Seus pais, desconsolados, sofrendo a pesada dor da separação de um filho muito amado, procuraram e, de fato encontraram lenitivo, orientação e paz com a leitura de livros espíritas.
A respeito desse período crítico da família, o Sr. Bernardo Vicente, residente em Londrina, contou-nos, em atenciosa carta de 9 de setembro de 1980, o seguinte:
“O médium Chico Xavier tornou-se nosso conhecido através da leitura de vários livros da Doutrina Espírita, por ele psicografados, que apresentam mensagens de jovens desencarnados. Veio daí o compreensível desejo de tudo tentar para também receber, por seu intermédio, uma comunicação de nosso filho. Comunicação essa que recebemos na nossa sétima visita ao querido médium de Uberaba, na reunião pública de 28 de julho de 1979.
Temos certeza de que outros corações, que tanto necessitam de auxílio vindo do Plano Superior, muito se beneficiarão com o que consta do seu texto. Por tudo de útil e elucidativo que a mensagem do nosso inesquecível filho contém, não poderíamos deixar de divulgá-la. A sua repercussão junto à família e amigos mais chegados foi a mais positiva do que se poderia almejar.”
1 Meu caro papai, querida mãezinha, meu prezado Júlio César, querida Vanessa. n
2 Isso já está parecendo uma carta oficial. Mas é o anseio de me fazer sentido pelos familiares inesquecíveis. Não posso, em razão disso, esquecer a tradição. 3 O espírito de casa é uma luz que não deve ser posta à margem. Peço aos queridos pais me abençoem. Estou lembrando a nossa Walkyria n para integrar a equipe e coloco-a nas lembranças do coração.
4 Mamãe, estou percebendo. n As requisições em forma de preces são tantas que seria ingratidão de seu filho não responder, pelo menos, como posso.
5 Não é fácil a transmissão. n Em princípio, desejávamos que a visita fosse na base do som e imagem, como se faz presentemente na Terra, em termos de televisão. 6 Entretanto, já calculei todas as maneiras de tornar evidente a comunicação entre nós, mas é difícil falar de situações e pessoas, cousas e detalhes que se expressam de modo tão diverso das nossas maneiras do mundo, que não dispomos de referências analógicas ideais para exprimir-nos com segurança. Ainda assim peço aos Mensageiros do Bem para que me façam reconhecível.
7 Desejo pedir à família, especialmente ao papai, me auxiliarem aí com a aceitação do problema que estabeleci em casa, involuntariamente. 8 Creiam que ao iniciar a viagem para servir aos amigos que pretendiam alcançar Minas, estava pensando em Natal. n Mentalizava a nossa alegria doméstica, a reunião feliz de sempre. O tempo, no entanto, estava contra. Tempo de chuva, com a famosa cerração enganando os mais experimentados viajantes do ar. Fizemos o possível para que o dever fosse cumprido, mas o resultado não foi o previsto.
9 Painel tranquilo e segurança total. Um leve movimento da máquina e o choque apareceu, inevitável. Duvido que alguém por mais informado, nas condições em que nos achávamos, consiga historiar nas palavras do mundo a ocorrência de que fomos vítimas.
10 Não creio que o fenômeno possa ser anatomizado com todos os rigores da técnica, até mesmo em nos reportando às caixas de informação nos instantes mais graves. 11 Em mim o acontecimento adquiriu as proporções de uma bomba que me alcançasse, arrasando-nos.
12 Experimentei por dentro de mim aquela ansiedade de socorrer os viajores amigos, ou melhor, os companheiros que me faziam presença, mas nem de muito leve, consegui atuar com o meu intento. 13 A sensação de desmaio, de estranha fuga de mim próprio, me fazia tombar sem qualquer iniciativa. 14 Creio que benfeitores nos aguardavam na paisagem, à maneira de amigos, em ambulâncias nos aeroportos, quando o perigo se faz mais grave; n no entanto, isso é raciocínio que somente acolhi depois de acordar devidamente hospitalizado num Pronto-socorro da Vida Espiritual. 15 Aquele despertar se fazia diferente. Tive a ideia de rever toda a minha existência, n como num sonho que estivesse vivendo acordado, até que as minhas lembranças se condensaram na rememoração do acidente que me transtornava a cabeça.
16 Interpelei médicos e enfermeiros sobre o que me acontecia, recebendo convites à calma, até que o vovô Vicente e a querida vó Maria, avós de meus avós, n me cercassem de carinho, advertindo-me quanto à minha nova situação. 17 O espanto em mim rebentou em lágrimas e os conflitos comigo mesmo se intensificaram por muito tempo.
18 Sentia telepaticamente ligado à nossa casa e sofria com a tristeza que passara a comandar-lhes a vida. n 19 O começo por aqui foi muito laborioso para mim, para não dizer aflitivo, porquanto o desejo me inclinava ao regresso, a cada momento. 20 Aceitar as transformações violentas deve ser obrigação na agenda dos Santos, porque reconheci que para nós, em família, era quase impossível admitir aquilo que para mim significava insucesso. 21 Os dias, porém, foram passando à feição de sedativos sobre as nossas feridas da alma e hoje consigo pedir-lhes conformação. 22 O filho e irmão n que intimamente se preparava para longo futuro na Terra, com tantos castelos de sonhos na cabeça devia terminar a jornada humana como a finalizou.
23 Existem desígnios que simplesmente supomos imaginar quais sejam, e em cuja estrutura essencial não penetramos. Meu tempo era aquele e não outro. O modo do voltar à Vida Espiritual estava traçado na máquina, e não em outro lugar.
24 Não é que se deva render homenagem ao fatalismo. Ninguém aparece no Plano físico, portando uma ficha de apontamentos fixos. 25 Há previsões e essas previsões são naturalmente alteráveis. Conformemo-nos em saber que meu caso era um assunto particular e rendamo-nos à fé em Deus.
26 Pai amigo, peço-lhe coragem para a continuidade da luta. Meu avô lhe pede considerar que o seu nome também é de um Bernardo que não pode e nem deve esmorecer.
27 Estou em outras dimensões, mas não vivo ausente de todo. Pensemos em outros companheiros que atravessaram faixas de provação mais aflitivas do que as nossas.
28 É verdade que não encontramos aí no mundo nenhuma escola de preparação para a morte, n seja para os que partem ou seja para os que ficam; no entanto, as casas de fé religiosa fornecem excelentes sinais para que o sinal amarelo da expectativa consiga sustar em nós qualquer precipitação em crises graves. 29 Continuemos em nosso treinamento de compreensão. E quanto pudermos, aditemos o auxílio aos outros, por recursos de maior adiantamento nesse esforço para a aquisição de entendimento da vida, que não está limitada aos dias estreitos de um corpo no mundo e do mundo.
30 Não estou sem saudades, também sofro. Entretanto, reconheço que existem leis sobre nós regendo-nos a vida com os movimentos que a caracterizam. Que a fé em Deus nos fortaleça para sabermos reter a esperança e conservá-la.
31 Continuo em refazimento de minhas novas faculdades. Dos companheiros de viagem nada sei, senão que foram igualmente socorridos e que devo reencontrá-los no momento oportuno. 32 Procuro pacificar a mim próprio e estou aguardando. Sinto-me reconfortado ao escrever-lhes. Muitos amigos me auxiliam. 33 Encontrei, além da querida vó Maria, a bondade da Irmã Ana. n Identificá-la com pormenores ainda não consegui; terá ela razões para fazer-se conhecida unicamente assim.
34 E sob o favor de muitos, vou melhorando. Rogo-lhes, mais uma vez, paciência e esperança.
35 Mamãe, auxilie-me com a sua força de confiança; e querido papai, auxilie-me com os seus exemplos de fortaleza e compreensão. Lembrem-se das irmãs e do nosso querido Júlio César que precisam tanto da proteção de ambos, qual acontece a mim mesmo.
36 Agradeça, mamãe, por mim; à nossa irmã Priscila, n que se esforçou tanto para que eu viesse, mobilizando o próprio filho Lauro e os amigos dele para que eu pudesse chegar até aqui neste balcão afetivo, em forma de mesa para confabular com a família querida.
37 Estou quase feliz, se não fossem as saudades agravadas a embate com o realismo da minha presente situação. Não é queixa. Estou fortalecido. 38 Quero apenas dizer que por aqui continuamos seres humanos, com suor e lágrimas, para comprar o progresso e a felicidade que aspiramos a encontrar.
39 Envolvo a todos da família num abraço de muito carinho e rogo aos pais queridos receberem o coração agradecido e esperançoso do filho, a quem Deus conservará a alegria de continuar a ser para ambos um companheiro e um amigo de todas as horas, a interligar-se com os dois, constantemente, de coração para coração.
Ivan Sérgio
NOTAS E IDENTIFICAÇÕES
1 — Prezado Júlio César, querida Vanessa — Irmãos presentes à reunião.
2 — Estou lembrando a nossa Walkyria — Irmã. O seu pai chamou-nos a atenção para o fato de que este nome foi escrito como consta na Certidão de Nascimento, dificilmente redigido corretamente.
3 — Mamãe, estou percebendo. As requisições em forma de preces são tantas que seria ingratidão de seu filho não responder. — Ele testemunha a D. Maria Celeste sua sintonia com as fervorosas orações do coração materno, que abriram caminho para o correio mediúnico.
4 — Não é fácil a transmissão. (…) não dispomos de referências analógicas ideais para exprimi-nos com segurança. — A comunicação mediúnica, clara e nítida, não é de simples realização em nosso planeta, ainda de provas e expiações. Ela só será facilitada, com real proveito para todos, com a nossa evolução espiritual. O mediunismo é pouco estudada e conhecido, ignorância que nos leva a exigir muito dos médiuns, quando não os ferimos com dura incompreensão.
5 — Estava pensando em Natal — Os planos das próximas festas natalinas foi um dos últimos assuntos comentados com sua progenitora.
6 — Creio que benfeitores nos aguardavam na paisagem, à maneira de amigos em ambulâncias nos aeroportos, quando o perigo se faz mais grave (…) depois de acordar devidamente hospitalizado num pronto socorro da Vida Espiritual. — É muito consolador e elucidativo saber que a vida se desdobra no Outro Lado da Vida com recursos assistenciais semelhantes aos do nosso mundo material, mas muito mais aperfeiçoados. Na literatura espírita vários livros abordam, com detalhes, os meios e as técnicas de auxílio espiritual a encarnados e desencarnados, principalmente os da “Série André Luiz” (psicografados por Francisco C. Xavier, alguns em parceria com Waldo Vieira).
7 — Tive a ideia de rever toda a minha existência, como num sonho que estivesse vivendo acordado. — Informações espirituais numerosas confirmam essa habitual etapa do processo desencarnatório.
8 — Vovô Vicente e a querida vó Maria, avós de meus avós — Bernardo Vicente, bisavó paterno e Maria Emília Lisboa, tetravó materna, desencarnados respectivamente em 31/12/1946 e 8/5/1910. Em sua carta, já referida, o pai de Ivan Sérgio contou-nos que estas citações muito surpreenderam a família, pois em nenhuma das visitas ao médium Xavier fizeram referência aos mesmos, enfatizando: “na época, tanto no Paraná como em Uberaba, nunca passaram pelos nossos pensamentos os nomes desses queridos familiares.”
9 — Sentia-me telepaticamente ligado à nossa casa e sofria com a tristeza que passara a comandar-lhes a vida. — Esta ligação mental, alicerçada nas leis de afinidade espiritual, é um fato constantemente confirmado pelos Espíritos. A aflitiva experiência do jovem piloto constitui um importante ensinamento para todos nós.
10 — O filho e irmão (…) devia terminar a jornada humana como a finalizou. (…) Não é que se deva render homenagem ao fatalismo. (…) Reconheço que existem leis sobre nós, regendo-nos a vida. — Quando Ivan Sérgio redigiu essa carta, já estava bem informado do seu programa evolutivo, traçado para cada um de nós pelos Sábios Benfeitores, programa que respeita as Leis de Causa e Efeito e o nosso livre arbítrio. Assim, evoluímos nos dois Planos da vida: material e espiritual, impulsionados pela nossa própria vontade, sob as determinações justas e misericordiosas do Criador.
11 — É verdade que não encontramos aí no mundo nenhuma escola de preparação para a morte (…) no entanto, as casas de fé religiosa fornecem excelentes sinais. — Em sua carta de 9/9/1980, o Sr. Bernardo Vicente assim comentou este trecho da mensagem mediúnica: “Dialogando com D. Priscilla Basile, poucas horas antes de meu filho escrever a mensagem, comentamos sobre a falta de orientação (em termos educacionais) para o que de mais natural e certo nos espera: a morte física. E ficamos muito surpreendidos com a abordagem desse mesmo tema pelo Ivan Sérgio, provando-nos que escutou nosso diálogo.”
12 — Irmã Ana — Desconhecida da família.
13 — Agradeça, mamãe, por mim, à nossa irmã Priscilla, que se esforçou tanto para que eu viesse, mobilizando o próprio filho Lauro e os amigos dele. — O jovem Lauro Basile Filho, mais conhecido por Laurinho, desencarnado em 12/12/1976, tem enviado pelo lápis de Chico Xavier cartas a sua mãe, D. Priscilla P. S. Basile, residente em Casa Branca, SP. Estas cartas, até o momento, já deram origem a dois livros: Gaveta de Esperança e Presença de Laurinho. Com a leitura deste último, os pais de Ivan Sérgio interessaram-se em conhecer a autora do mesmo, D. Priscilla, com quem, desde o primeiro contato, em Uberaba, teceram laços de profunda amizade.
Hércio Arantes