1 Quem descreveria o encanto daquele grupo de corações entusiastas na fé? O Irmão Celestino edificara-o, a pouco e pouco. Cinco anos consecutivos de trabalho e devotamento.
2 Campeão da bondade no Plano Espiritual, Celestino encontrara na médium Dona Silene uma companheira de ação, extremamente dedicada ao serviço do bem. Viúva, desde muito jovem, consagrara-se ao amparo dos semelhantes e, por sua vez, granjeara em Celestino um amigo fiel. Ambos haviam levantado aquela doce equipe de obreiros da oração com inexcedível carinho. Reuniões de prece e auxílio espiritual nas noites de segundas e sextas-feiras. Consultas afetivas a Celestino e respostas abençoadas, criando esperança e reconforto. 3 E, depois dos contatos terrestres, eis o denodado irmão a diligenciar obter, aqui e além, determinadas concessões, a benefício dos companheiros encarnados. A atenção de algum médico amigo para suprimir as enxaquecas de Dona Alice; cooperação de zeladores desencarnados, em socorro dos meninos de Dona Zizinha em dificuldades na escola; apoio de benfeitores para a solução dos problemas frequentes de João Colussi, o alfaiate; vigilância de enfermeiros devotados para a filha doente de Dona Cacilda, e providências outras, diferentes e múltiplas, de semana em semana, a favor do pessoal.
4 E o pessoal do agrupamento não lhe regateava admiração:
— Espírito amigo como poucos!… — Enunciava Sisenando, o contador muitas vezes por ele beneficiado.
— Devo a Irmão Celestino o que jamais pagarei!… — Acentuava Armando Ribeiro, o tipógrafo.
5 — Protetor extraordinário!… — Afirmava Dona Maristela, que a generosidade do amigo espiritual soerguera de fundo abatimento, — para mim, é um pai que não posso esquecer…
— Creio que não teremos neste mundo um credor tão importante assim!… — Aduzia Dona Raimunda Peres, a quem o samaritano desencarnado restituíra a alegria de viver.
6 Em clima de trabalho incessante para Celestino, no Plano Espiritual, e de incessante louvação para ele, no conjunto humano, transcorreram sessenta meses… Por isso, na noite do quinto aniversário das reuniões, a sala de Dona Silene mostrava belo aspecto festivo. Flores, legendas, panos caprichosamente bordados, músicas para meditação…
7 Chegado o momento do intercâmbio espiritual, depois de preces e saudações efusivas, Celestino controlou o aparelho mediúnico e falou sensibilizado. Reportou-se aos dias do começo, aos favores obtidos do Alto, às oportunidades de trabalho, às alegrias da solidariedade, e, finalizando a preleção comovente, apelou:
8 — Agora, meus irmãos, estamos na época da distribuição das tarefas. Nossa doutrina revive o ensinamento de Jesus, e o ensinamento de Jesus, acima de tudo, se baseia no serviço ao próximo. Estamos cercados de irmãos sofredores que, desde muito tempo, aspiram à comunhão conosco… Aqui, são doentes que esperam por uma frase de coragem; ali, são desesperados que suplicam o benefício de uma prece; mais além, são necessitados de recursos materiais que anseiam por migalha da cooperação que lhes podemos prestar; mais adiante, vemos crianças requisitando cuidados para não tombarem na desencarnação prematura… 9 E a evangelização? Muita gente de todas as idades conta conosco, a fim de saber o porquê do sofrimento, das lutas domésticas, das desilusões da existência, das aparentes desigualdades da vida!… 10 Convidamos, assim, a todos os nossos amigos aqui congregados para formarmos uma equipe de tarefeiros, com responsabilidades definidas, no serviço aos semelhantes… 11 Cada um se encarregará de um setor de trabalho, na esfera dos recursos que lhe sejam próprios. Seremos um grupo legalmente constituído, do ponto de vista terrestre, com dirigentes e dirigidos, cada qual, porém, servindo à causa da Humanidade, em horários previamente estabelecidos. 12 Decerto, precisaremos disciplina, porquanto as nossas obrigações serão muitas. Recém-nascidos indigentes, enfermos abandonados, obsessos, mendigos, velhinhos sem ninguém, todos os nossos irmãos ao desamparo acharão o socorro possível em nossa casa. Com o Amparo Divino, trabalharemos…
13 Ao término, o devotado mentor, em júbilo manifesto, marcou a semana próxima para a discriminação dos encargos com que todo o conjunto seria honrosamente distinguido, a meio de promessas comovedoras e votos brilhantes.
Sobrevindo a reunião assinalada para a distribuição de tarefas, Irmão Celestino chegou entusiasmado e confiante ao templo doméstico, notando, porém, que ao lado de Dona Silene, em prece, não havia ninguém.
Irmão X
(Humberto de Campos)