1 Quando o Médium Espírita apareceu na assembleia doutrinária, sinceramente decidido à tarefa que lhe fora designada, abraçou o serviço com ardor; no entanto, das pequenas multidões que o acompanhavam saíram vozes: “É por demais verde, não tem experiência”. 2 O seareiro do Bem assumiu ares de adulto e adotou costumes austeros, mas o público observou: “É um velho prematuro, sem a chama do ideal”. 3 Ele renovou a própria atitude e mostrou-se entusiasta, mas ouviu novo conceito: “é um temperamento perigoso, entregue à chocarrice”.
4 Procurou então adicionar veemência ao otimismo e os circunstantes fizeram coro: “É explosivo, dado à violência”.
5 O servidor arrefeceu os impulsos e começou a usar textos esclarecedores para fundamentar as próprias asserções, lendo pareceres de autoridades, e escutou novo apontamento: “É um burro que não sabe falar, senão recorrendo a notas alheias”.
6 Abandonou, daí em diante, o sistema de citações e passou a dar somente respostas rápidas sobre os problemas que lhe vinham à esfera de ação, e exclamaram para logo: “É um preguiçoso, sem qualquer atenção para o estudo”.
7 Nessa altura, o obreiro da Espiritualidade julgou mais razoável servir à Causa da Luz, no próprio lar; contudo, ouviu: “É um covarde, não enfrenta responsabilidades diante do povo”. 8 O Médium regressou às atividades públicas e entrou a colaborar na sementeira do conhecimento superior, onde fosse chamado, e surgiu outra sentença: “É um manequim da vaidade, manobrado por agentes das trevas”. 9 O atormentado trabalhador procurou evitar discussões e escolheu atitude de reserva, falando apenas em torno das questões mais simples da edificação espiritual, e comentou-se: “É mole demais, sem qualquer fibra moral para os testemunhos de fé”. 10 Registrando isso, esposou o regime da mente arejada com o verbo franco, e anotaram, de imediato: “É um obsidiado, entregue à mistificação”. 11 Tentou acomodar-se, fazendo unicamente aquilo que considerava como sendo o seu próprio dever, e clamaram: “É vagabundo, nada quer com o trabalho”. 12 Ele tornou a inflamar-se de boa vontade, oferecendo o máximo das próprias forças à construção da Espiritualidade Maior, e acusaram: “É revolucionário, deve ser vigiado”…
13 Aflito, o medianeiro procurou o Mentor Espiritual que lhe propiciava amparo constante, e chorou:
— Ah! Benfeitor meu, que faço se não satisfaço?
— De quem recebeste a tarefa do bem? — Perguntou o amigo. — Do Senhor ou dos homens?
— Do Senhor, — soluçou o Médium.
— Então, — replicou o abnegado companheiro, — levarei tua indagação ao Senhor e amanhã trarei a resposta.
14 No dia seguinte, ao amanhecer, quando o servidor orava, rogando força e inspiração, surgiu-lhe à frente o instrutor espiritual e falou, sereno:
— O Senhor mandou dizer-te que, em te nomeando para colaborar na Obra de Redenção, assim o fez porque confiava em teu amor para com os irmãos da família humana, e que, por isso mesmo, não te solicitou o inventário das críticas que porventura te fossem feitas, e sim te recomendou tão somente servir e trabalhar.
15 Nesse instante, o primeiro clarão diurno varou, de chofre, a vidraça. O medianeiro, de alma subitamente bafejada por nova compreensão, mirou o fio de luz que vencera as trevas para aquecê-lo em silêncio… Em seguida, pensou e pensou, a pouco e pouco invadido de estranho júbilo… Desde então, o Médium Espírita olvidou a si mesmo e aprendeu com o raio de Sol que a sua força vinha do Senhor e que a sua felicidade se resumia em servir e servir, trabalhar e trabalhar.
Irmão X
(Humberto de Campos)