O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Entes queridos — Familiares diversos


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Nélson Castro Dantas

São Paulo (SP) — 17 de agosto de 1957.

São Paulo (SP) — 19 de fevereiro de 1980.

Filho de Nélson Camargo Dantas e de Alice de Castro Dantas. Nélson desencarnou aos 22 anos, no carnaval de 1980, quando seu veículo foi tragado pelas águas do Rio Tamanduateí, bastante elevadas, em função de torrenciais chuvas que desabaram sobre São Paulo naquela época, fazendo com que o curso do rio extravasasse de seu leito normal.

Seu grupo familiar é constituído também pela irmã, Maria Cristina Dantas Janssen, casada com Philips Janssen e pelos sobrinhos, André e Camila, todos lembrados pelo Nélson na mensagem recebida por Francisco Cândido Xavier.


PALAVRAS DOS PAIS DO COMUNICANTE


“Embora tenhamos muita saudade daquele menino maravilhoso, sua carta nos devolveu a vontade de viver. Recomeçamos a vida com a certeza de que não perdemos o filho querido que continua conosco, junto de nossa filha, do genro e dos netinhos.”

Alice e Nélson de Camargo Dantas


MENSAGEM


1 Querida mãezinha Alice e querido papai Nélson, peço para que me abençoem.

2 Este é um momento que vivo solicitando sem esperar. No entanto, o instante está para o meu anseio e devo escrever pelo modo que se me faça possível.

3 Não sei o que se passa. Quero manter-me sereno, mas será possível o reencontro assim, entre um filho e os pais que ama tanto, sem que as lágrimas atinjam o papel antes das palavras? Penso que, em meu caso, isso não seria possível.

4 Lembro-me de todas as minudências que nos precederam a separação. Depois dos acontecimentos amargos, concluí que a chamada morte possui muitos meios de se fazer sentir…

5 Às vezes, está num jardim que a gente visita para entretenimento, num trecho de caminho em que duas dificuldades se encontram, na merenda que se usufrui num passeio, na companhia de um amigo de cujos passos estejamos compartilhando…

6 Para mim, lembre-se a querida mamãe, a morte estava num tilintar de telefone… Era um convite para uma festa de corações amigos. Não consegui recusar. Lembrei-me de que havia recebido palavra de meu pai especialmente quanto ao carro para servir. Acedi e fui ao encontro das jovens que apelavam para mim.

7 Não compreendi a secreta intuição de que me ausentava para assunto grave, porque beijei a mamãe como se fosse fazer uma viagem longa. Ela própria se admirou e pousou em mim o olhar interrogativo.

8 Depois foi a noite, os minutos de paz e intimidade e, em seguida, a chuva torrencial. Retomando o veículo, notei que deveríamos adotar o melhor caminho, seguindo vagarosamente. Não me faltou cuidado. Afinal, não me achava a sós. Em minha companhia, estavam a Cleide, a Bete e a Cármem… n

9 Seguíamos com calma, no entanto, as águas se acumulavam nos recantos. Tive receio que as correntes alcançassem o motor e diligenciei quanto pude para atenuar os obstáculos.

10 Mas, em meio da marcha que se tornava difícil, um ônibus apareceu e vibrou de modo estranho na massa líquida… Aquele impacto de força nos deslocou o carro amigo e seguro, atirando-o para o rio…

11 O Tamanduateí havia desaparecido no dilúvio que submergia o piso da ponte próxima e fomos desviados para o corpo do rio, sem que nos apercebêssemos disso…

12 Recordo o espanto de Elizabete, ao descobrir que a nossa condução tentava planar inutilmente. Ela foi a primeira a alertar-nos quanto ao perigo e dispôs-se a nadar, auxiliando-nos. Junto da irmã, começaram a saída, no entanto, Cleide e eu tivemos a esperança de que o carro conseguisse sobrenadar e demoramo-nos um tanto…

13 Foi o bastante para distanciar-nos das companheiras e, de mãos entrelaçadas, compreendemos que nos restava unicamente a rendição à vontade de Deus.

14 Não sei se consegui rezar, embora minha intenção incluísse semelhante dever. Sei apenas que apoiados no veículo que submergiu, sentimo-nos ambos sufocados, sem qualquer possibilidade de reação…

15 Até aí, conto o que nos sucedeu… Depois foi a exaustão e com a exaustão um sono invencível.

16 Quanto tempo estive nesse estado de inconsciência, não consigo imaginar…

17 Um momento surgiu em que me apossei do próprio raciocínio. Achava-me fatigado, respirando dificilmente qual se estivesse sob o domínio de um edema desconhecido para mim. 18 Tanta vida me assinalava o pensamento que era impossível crer na morte.

19 A ideia de um posto de emergência para socorro imediato me veio à cabeça, mas isso se desfez quando a senhora de semblante suave, que me velava junto ao leito alvo, se confessou a mim, afirmando-me ser a vovó Ernestina, n enquanto que outra criatura amiga me aplicava remédios e balsamizantes e esclarecia que me achava diante de nossa Ana, zeladora e parenta do coração, a quem devo tanto…

20 A percepção de que me achava em outra vida não foi para mim uma tempestade de revolta, mas foi um aguaceiro de lágrimas.

21 Queria vê-los, pais queridos, e rever a nossa Maria Cristina, tentando informar-me igualmente sobre o destino das companheiras que me haviam partilhado a difícil experiência…

22 Entretanto, com que voz haveria eu de manter o diálogo desejado? Chorei à feição do menino desterrado de casa e, depois, à medida que me conscientizava quanto à nova situação, via e ouvia as indagações e os gestos da mamãe, do papai, da vovó Ignez, n de Maria Cristina e de todos os nossos…

23 Não preciso alongar-me sobre as emoções que me dominaram. Penso que somente agora consigo liberar as derradeiras inquietações em lhes transmitindo minhas notícias. Peço-lhes serenidade e conformação.

24 A vida oferece a cada um de nós determinada porta de acesso ao mundo físico e para cada pessoa traça uma saída diferente…

25 Sabe a Lei de Deus porque me vi com a Cleide na hora extrema, descendo à profundidade de um rio quando nos acreditávamos no chão.

26 Rogo à mãezinha Alice não se afligir porque haja ficado a minha roupa encharcada no curso do rio, sem meios de voltar para alguma lavanderia…

27 A verdade é que já nos encontrávamos fartos de tanta água e, decerto por isso, fui liberado da aflição de causar maiores aflições à família.

28 Um corpo físico, de algum modo, é semelhante à vestimenta. Ninguém suponha que isso seja um sinal de lástima.

29 Volto, em Espírito, aos meus entes amados e isso é o que me interessa. Graças a Deus, com exceção das saudades, vou seguindo na recuperação necessária. Rogo aos pais queridos me auxiliarem com a certeza de que estou vivendo em outras dimensões da existência.

30 Já sei que a nossa Maria Cristina tem feito grande progresso, organizando uma família nova e que Elizabete e Cármem não foram chamadas à Vida Espiritual como ocorreu comigo e com a Cleide e peço a Jesus para que tudo esteja reajustado em nosso ambiente familiar e nos grupos de nossos amigos. A Cleide foi acolhida por dedicados familiares dela e, de minha parte, inicio nova caminhada…

31 Mãezinha Alice, não chore mais por seu filho, embora não consiga ainda lembrá-la sem que a saudade me aperte o coração, mas os nossos Benfeitores daqui nos auxiliarão.

32 Agradeço ao papai Nélson o auxílio com que nos fortalece com o seu valor de sempre. Um beijão à irmã querida, ao irmão que se lhe fez o pai de um tesouro de carinho, com lembranças a todos os amigos.

33 E para os pais queridos deixo nesta carta o coração reconhecido e esperançoso do filho que tanto lhes deve e que roga a Deus conservá-los felizes sempre e sempre.

34 Abraços de muito amor e gratidão do

Nelsinho


30 de janeiro de 1981.


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