TEMA — Lar e divórcio.
1 Toda perturbação no lar, frustrando-lhe a viagem no tempo, tem causa específica. Qual acontece ao comboio, quando estaca indebitamente ou descarrila, é imperioso angariar a proteção devida para que o carro doméstico prossiga adiante.
2 No transporte caseiro, aparentemente ancorado na estação do cotidiano (e dizemos aparentemente, porque a máquina familiar está em movimento e transformação incessantes), quase todos os acidentes se verificam pela evidência de falhas diminutas que, em se repetindo indefinidamente, estabelecem, por fim, o desastre espetacular.
3 Essas falhas, no entanto, nascem do comportamento dos mais interessados na sustentação do veículo ou, mais propriamente, do marido e da mulher, chamados pela ação da vida a regenerar o passado ou a construir o futuro pelas possibilidades da reencarnação no presente, falhas essas que se manifestam de pequeno desequilíbrio a pequeno desequilíbrio, até que se desencadeie o desequilíbrio maior.
4 Nesse sentido, vemos cônjuges que transfiguram conforto em pletora de luxo e dinheiro, desfazendo o matrimônio em facilidades loucas, como se afoga uma planta por excesso de adubo,
5 e observamos aqueles outros que o sufocam por abuso de sovinice;
6 notamos os que arrasam a união conjugal em festas sociais permanentes
7 e assinalamos os que a destroem por demasia de solidão;
8 encontramos os campeões da teimosia que acabam com a paz em família, manejando atitudes do contra sistemático, diante de tudo e de todos,
9 e identificamos os que a exterminam pelo silêncio culposo, à frente do mal;
10 surpreendemos os fanáticos da limpeza, principalmente muitas de nossas irmãs, as mulheres, quando se fazem mártires de vassoura e enceradeira, dispostas a arruinar o acordo geral em razão de leve cisco nos móveis,
11 e somos defrontados pelos que primam no vício de enlamear a casa, desprezando a higiene.
12 Equilíbrio e respeito mútuo são as bases do trabalho de quantos se propõem garantir a felicidade conjugal, de vez que, repitamos, o lar é semelhante ao comboio em que filhos, parentes, tutores e afeiçoados são passageiros.
13 Alguém perguntará como situaremos o divórcio nestas comparações. 14 Divorciar, a nosso ver, é deixar a locomotiva e seus anexos. 15 Quem responde pela iniciativa da separação decerto que larga todo esse instrumental de serviço à própria sorte e cada consciência é responsável por si. 16 Não ignoramos que o trem caseiro corre nos trilhos da existência terrestre, com autorização e administração das Leis Orgânicas da Providência Divina e, sendo assim, o divórcio, expressando desistência ou abandono de compromisso, é decisão lastimável, conquanto às vezes necessária, com raízes na responsabilidade do esposo ou da esposa que, a rigor, no caso, exercem as funções de chefe e maquinista.
Emmanuel