1 Não sei se o meu verso pobre
Neste caso dará pé,
Inspiração com verdade
Mostra o que é e não é;
Devo escrever nesta noite
A cantoria da fé.
2 Aceitar ordens do Alto
Em meu bestunto é dever.
Fé mesmo, fé sem sofisma,
Na Terra, não pude ter,
Mas se quem pede é quem manda,
Só me cabe obedecer.
3 Se eu na Terra fosse um homem
Aprofundado na crença,
Liquidaria este caso
Como quem não fala e não pensa,
Mas para falar em fé,
Preciso rogar licença.
4 Viver sob confiança
Parece cousa de lei,
Explicar a razão disso
É dom que nunca esperei;
Difícil mostrar estrada
Pela qual não transitei.
5 Sobre a minha incompetência,
Não lastimo, nem me iludo,
Fui apenas cantador
Sem colégio e sem canudo,
No entanto, creio que a fé
Sustenta a base de tudo.
6 No mundo, a gente confia
Em número, verbo e nome,
Confia no comprimido
Que se adquire e se toma,
No carro que se dirige
Ou no curau que se come.
7 As forças vivas da fé
Garantem o próprio ser,
Mas, hoje em dia, na Terra,
Com tanto brilho e saber,
A dúvida sem razão
Põe muita gente a descrer.
8 O homem mora na Terra
Que por si mesma se vira,
Não cria minas no espaço
Para o ar que ele respira
E muitos andam dizendo
Que Deus é pura mentira.
9 Alguns escrevem ou falam
Contra a crença, contra a prece;
O ateu, por si, se rotula
No título que merece:
Um filho que tem vergonha
Do pai que não lhe aparece.
10 Antigamente, a criança
Dispunha, no próprio lar,
De quem lhe desse atenção
Ensinando-a a rezar…
Hoje, é muita gente adulta
Que nem quer raciocinar.
11 Temos no mundo de hoje
A corrida que não cessa,
Quando parece que para,
A largada recomeça;
É guarda, pedestre, carro
E buzinadas da pressa.
12 Vendo um amigo ao volante
Ameaçado por trás,
Tomei forma e fui a ele,
Pedindo-lhe prece e paz,
Mas ele disse: “Oração?
Largue mão disso, rapaz!…”
13 Depois fui auxiliar
A um antigo companheiro,
Falei-lhe da fé em Deus
E ele riu-se, chocarreiro,
Dizendo que acreditava
Tão-somente no dinheiro.
14 E o mundo prossegue assim,
Entre conflitos gerais;
Pouca gente fala em Deus,
O resto nem pensa mais…
A imprensa quer mais cadeias,
A rua pede hospitais.
15 O sofrimento campeia:
É notícia deprimente,
É nova onda de assaltos,
É menino delinquente,
É rebeldia gritando,
É gente matando gente…
16 Dizem que nesse barulho
É que o progresso se afina,
Mas sem fé onde estará
A luz que nos ilumina?
Aguardemos a resposta
Da Providência Divina.
Leandro Gomes de Barros
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