Vai para mais de um lustro, dirigimo-nos ao médium Francisco Cândido Xavier, observando:
— Chico, dentro de alguns meses, terei material para formar um volume de Chico Xavier, ele mesmo.
E o nosso amigo anotou:
— O que é isso, meu caro? Não existe Chico Xavier, ele mesmo. Se é que eu tenha que existir, será Chico Xavier/Emmanuel, porque, de mim mesmo, em matéria de edificação espiritual, nada posso subscrever de vez que o nosso benfeitor da Vida Maior é que nos supervisiona a organização medianímica. Seria eu mais do que ousado se lhe subtraísse o nome em qualquer expressão construtiva, que nos saísse dos recursos verbais, seja no transe propriamente mediúnico, tanto quanto em quaisquer outras circunstâncias.
Deixamos que o tempo corresse, e nunca mais nos referimos ao assunto com o médium, até que, há poucas semanas, a direção do “Anuário Espírita”, de Araras, Estado de São Paulo, solicitou-lhe permissão para que se organizasse um volume com algumas de suas entrevistas, todas ainda não lançadas em livro, e algumas transmitidas em emissoras do interior mineiro e de S. Paulo, praticamente inéditas para o restante do País.
Houve permissão para o cometimento, desde que o volume fosse apresentado como tarefa mediúnica, e eis agora o livro pronto, absolutamente pronto para estudo é contentamento de todos nós, os leitores.
O índice de nomes e assuntos, ao final do volume, (não incluído na versão eletrônica) guarda a finalidade de orientar os estudiosos da Doutrina Espírita, facilitando consulta rápida, sobre os mais variados assuntos abordados com rara felicidade.
As notas de rodapé, sucintas ao máximo, foram colocadas com vistas à documentação das peças que compõem o volume, fixando principalmente, as fontes de publicação e os nomes dos entrevistadores.
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER, que desde 1932, após o lançamento do “Parnaso de Além-Túmulo”, vem sendo manchete de jornais e revistas brasileiros, e de muitas publicações estrangeiras, nasceu em Pedro Leopoldo, Minas Gerais, a 2 de Abril de 1910. EMMANUEL, ao tempo de Jesus, se chamou Públio Lentulus e ao que se sabe, foi a única autoridade que efetuou perfeita descrição dele, o Cristo, através de célebre carta, n publicada em numerosas línguas, autêntica obra-prima no gênero; pessoalmente encontrou-o, solicitando-lhe auxílio na cura de uma filha enferma; n desencarnou em Pompeia, no ano de 79, vítima das lavas do Vesúvio, e anos depois, reencarnou na Judeia, desenvolvendo-se-lhe grande parte da vida, em Éfeso, já não mais sob a toga de orgulhoso senador romano e sim na estamenha do modesto escravo Nestório, que, na idade madura, participava das reuniões secretas dos cristãos nas Catacumbas de Roma. n
Estamos informados de que foi ele próprio, EMMANUEL, o mentor espiritual que todos respeitamos, que, em 18 de Outubro de 1517, em Sanfins, Entre-Douro-e-Minho, Portugal, renasceu com o nome de MANOEL DA NÓBREGA, n filho do desembargador Baltazar da Nóbrega e sobrinho de um Chanceler do País, quando reinava D. Manoel I, o “Venturoso”, para cumprir a excelsa missão de preparar com outros missionários religiosos daquele tempo a fundação cristã do Brasil.
Inteligência privilegiada, ingressou na Universidade de Salamanca, Espanha, aos dezessete de idade, e com vinte e um, inscreve-se na Faculdade de Cânones da Universidade de Coimbra, frequentando as aulas de direito canônico e de filosofia; a 14 de Junho de 1541, em plena mocidade, recebe a láurea doutoral, sendo, então considerado “doutíssimo Padre Manoel da Nóbrega” pelo Doutor Martim Azpilcueta Navarro.
E tão importante se torna a tarefa do primeiro escritor brasileiro, no dizer de Antônio Soares Amora, n em plagas brasileiras, que José Mariz de Moraes chega a afirmar: “D. João III, Tomé de Souza e Nóbrega são os primeiros fundadores do Brasil: um deu a lei, o outro o braço e o outro a fé, à Pátria menina e a menina de seus olhos”. n Com efeito, segundo o Padre Antônio Fernandes, S. J., “o Padre Manoel da Nóbrega é o principal fundador de São Paulo. Foi ele quem estudou e escolheu o local, quem se entendeu com João Ramalho, Tibiriçá e Caiubi, quem inaugurou ali a catequese e a aldeia nova; quem nomeou o pessoal dirigente e docente do Colégio e lhe designou o dia da abertura”. n
Como sabemos, a fundação da Metrópole Nobreguense se deu a 25 de Janeiro de 1554. A propósito, pergunta o ilustre historiador paulista Tito Lívio Ferreira “Por que teria Padre Manoel da Nóbrega escolhido esse dia para fundar a cidade de São Paulo dentro de uma Escola, fato ímpar na História do Mundo? Porque 25 de janeiro é o dia da Conversão do Apóstolo São Paulo. Nesse caso, é um ato deliberado de sua vontade. É a homenagem prestada pelo discípulo ao mestre — ao mestre cuja palavra, cujo entusiasmo, cuja ação, servem de modelo, norma e guia ao discípulo. É a homenagem do universitário Manoel da Nóbrega ao universitário Paulo de Tarso, numa sala de aula, dentro de uma Capela. E por isso mesmo sintetizei, neste final de soneto por mim escrito, esse momento glorioso da fundação da Metrópole Nobreguense:
E assim Manuel da Nóbrega fundaste,
Sob o sinal de Cristo e numa Escola,
esta SÃO PAULO DE PIRATININGA.” n
Para concluir nossas observações em torno do fundador de São Paulo, o grande Estado que hoje mais lhe divulga as páginas enviadas do Além, pedimos vênia para transcrever as palavras com que o historiador paulista a cuja autoridade recorremos nestes apontamentos, encerra a obra citada: “Padre Manoel da Nóbrega fundara o Colégio do Rio de Janeiro. Dirige-o com o entusiasmo de sempre. A 16 de outubro de 1570, visita amigos e principais moradores. Despede-se de todos, porque está, informa, de partida para a sua Pátria. Os amigos estranham-lhe os gestos. Perguntam-lhe para onde vai. Ele aponta para o Céu. No dia seguinte, já não se levanta. Recebe a Extrema Unção. Na manhã de 18 de outubro de 1570, no próprio dia de seu aniversário, quando completava 53 anos, com 21 anos ininterruptos de serviços ao Brasil, cujos alicerces construiu; morre o fundador de São Paulo. E as últimas palavras de Manoel da Nóbrega são: “Eu vos dou graças, meu Deus, Fortaleza minha, Refúgio meu, que marcastes de antemão este dia para a minha morte, e me destes a perseverança na minha religião até esta hora”. E morreu sem saber que havia sido nomeado, pela segunda vez, Provincial da Companhia de Jesus no Brasil, a terra de sua vida, paixão e morte.” n
Sobre Chico Xavier, conquanto já existam várias obras a respeito de sua vida e obra mediúnica, queremos apenas acrescentar o seguinte: depois de quarenta e cinco anos de contínua atividade mediúnica, Chico Xavier é o mesmo dos primeiros dias, no que tange à fidelidade a Jesus e a Allan Kardec; não obstante venha recebendo mil e uma homenagens, n principalmente após o lançamento da centésima obra psicografada, de inúmeras comunidades brasileiras, ele permanece o mesmo Chico Xavier dos tempos bicudos de perseguição aberta — humilde, dentro de sua autenticidade de que sempre deu mostras, desde a mais tenra idade física, no atual período reencarnatório; Chico Xavier, ele mesmo, inconfundível, profundamente humano, apesar de viver na condição de ponte entre a Terra e a Espiritualidade Superior; entusiasta do progresso tecnológico e das reivindicações sadias da juventude, apaixonado pelas realizações da Ciência, defensor de todas as correntes religiosas e ardoroso batalhador da Doutrina Espírita, constituindo-se em exemplo vivo do Espírita evangélico por excelência, homem interexistente, no dizer de J. Herculano Pires. n
Se o leitor conseguir alcançar os resultados positivos que atingimos com o manusear dos originais da presente obra, damo-nos, editores e nós, por satisfeitos com a nossa tarefa, rogando-lhe, porém, desculpas pelo senões que decerto venham a existir ao longo de todo o livro, ao mesmo tempo que auguramos feliz viagem através do território fértil das Entrevistas que ora lhe colocamos nas mãos.
Elias Barbosa
Uberaba, 5 de Dezembro de 1971.
NOTAS DA INTRODUÇÃO:
(1) Cf. Almerinda Rodrigues de Melo, “Para Conhecer e Amar Jesus”, 2ª edição, 1936, autorizado por D. Duarte Leopoldo e prefaciado por Carolina Ribeiro; e Reynaldo Kunts Busch. “Padre Manoel da Nóbrega, Missionário e Educador”, São Paulo, 1970, pág. 28
(2) Nota do próprio Emmanuel, em seu livro “Há Dois Mil Anos”.
(3) Cf. Emmanuel, “50 Anos Depois”.
(4) Informação do próprio Emmanuel, em vários comunicados através do médium Xavier.
(5) “História da Literatura Brasileira”, Edição Saraiva, 1957, pág. 25, Apud Clóvis Tavares, “Trinta Anos com Chico Xavier”, Edição Calvário, São Paulo, 1967, pág. 209
(6) Apud Tito Lívio Ferreira, “Nóbrega e Anchieta em São Paulo de Piratininga” ( Edição comemorativa do IV Centenário da Morte do Padre Manoel da Nóbrega), Conselho Estadual de Cultura, São Paulo, (prefácio datado de maio de 19701, pág. 43.
(7) Idem, Ibidem, pág. 47.
(8) Tito Lívio Ferreira, Op. cit., pág. 47.
(9) Tito Lívio Ferreira, Op. cit., pág. 102. Além das 49 referências bibliográficas citadas por Tito Lívio Ferreira, às págs. 105-106, ousamos acrescentar as seguintes, para os estudiosos espíritas: Clovis Tavares, “Amor e Sabedoria de Emmanuel”, Edição Calvário, São Paulo, 1970; Reynaldo Kunts Busch, “Padre Manoel da Nóbrega, Missionário e Educador”, São Paulo, 1970.
(10) O povo de Pedro Leopoldo, sob o amparo da Câmara Municipal, em decisão de 27 de Outubro de 1971, quer prestar a Chico Xavier excepcionais homenagens em praça pública, entusiasmado com a repercussão que obteve o “Pinga-Fogo” de 27-7-1971, na TV Tupi, Canal 4 de São Paulo, homenagens essas que o médium, sem alterar o seu trabalho do dia a dia, agradeceu sem aceitar.
(11) Cf. J. Herculano Pires, “O Ser e a Serenidade” (Ensaio de Ontologia Interexistencial), Edicel, São Paulo, MCMLXVI; e Irmão Saulo, “Diário de S. Paulo”, 21-11-71, seção “Chico Xavier pede licença (Um Aparte do Além nos Diálogos da Terra)”, “Chico Xavier na PUC”.
Elias Barbosa