1 “Vim trazer fogo à Terra” ( † ) — disse-nos o Senhor.
Semelhantes palavras do Divino Mestre podem induzir o discípulo invigilante aos mais estranhos pensamentos.
2 É preciso, porém, exumar o espírito da letra, na alimentação de nossas almas, tanto quanto, no fruto, para o serviço da refeição, liberamos a polpa do envoltório que a constringe.
3 Jesus não se propunha ombrear com o petroleiro comum, intérprete da indisciplina e do desespero. Cristo trazia-nos calor ao espírito enregelado na indiferença e no vício de séculos incessantes…
4 Chama viva para extinguir as trevas de nosso passado obscuro e delituoso, lume para clarear a senda que nos cabe trilhar nos sacrifícios do presente, a caminho do grande porvir que a vida nos reserva…
5 Flama de brio restaurador com que nos cabe atender aos compromissos esposados no esforço regenerativo e braseiro rubro de responsabilidade, que, situado no campo de nossa consciência, impeça a germinação ou o crescimento do joio venenoso da crueldade e do ódio…
6 Labareda de fé renovadora, suscetível de purificar-nos o sentimento e soerguê-lo à prática da caridade genuína, e pira ardente de amor que nos aprume a alma arrojada ao pó de velhas desilusões, a fim de que possamos penetrar, como filhos de Deus, o santuário de nossa sublimação para a divina imortalidade…
7 Se ouviste, pois, a palavra de Jesus, decerto conduzes contigo não mais o frio do desânimo ou a paralisia da ociosidade e da queixa, porque terás inflamado o próprio coração, ao sol glorioso da compreensão e do trabalho incessantes, única força capaz de levantar-nos, enfim, do antigo vale de negação e da morte.
Emmanuel
(Reformador, janeiro 1958, p. 23)