1 A conversação entre os amigos desencarnados que nos integram a equipe de viagem prosseguia, animada, ontem à noite, quando Luís Garcia, um amigo espiritual procedente da Espanha, falou, excitado:
— O que estraga o movimento espírita, no mundo inteiro, são os traidores da Doutrina, os mercadores da mediunidade, os leiloeiros de fenômenos, os caixeiros das trevas, fantasiados de Espíritos de luz…
2 Mas Pierre Bazin, um confrade francês, aproveitou as reticências e opinou:
— Caro Garcia, você está certo, certíssimo. Os que abusaram de faculdade e recursos sagrados, a detrimento do Espiritismo, nos fizeram e nos fazem ainda imenso mal; no entanto, você e nós não podemos esquecer os milhares de médiuns e companheiros outros de nossa Causa que triunfaram, brilhantemente, nos seus deveres, perante a Espiritualidade Maior, — no último século, — o primeiro de nossas atividades. 3 A sociedade humana não lhes enxergou o trabalho, o devotamento, a humildade, o sacrifício… Passaram, aos milhares, na arena física, criando condições favoráveis ao progresso, impedindo desastres morais, educando coletividades e erguendo corações para o futuro… Diante desses heróis anônimos, os vendilhões do templo são pequena minoria…
4 Bazin fixou-nos de significativa maneira, indagando em seguida:
— Sabem porquê?
E finalizou:
— Isso acontece, meus amigos, porque, de modo geral, o mundo é míope para ver a abnegação, mas tudo o que se relaciona com a traição atinge logo intensa publicidade, porque o mundo entende disso muito bem.
Hilário Silva
(Paris, França, 22, julho, 1965.)