1 Meu querido papai, minha querida mãezinha, peço para me abençoarem.
2 Não chore mais, minha querida mamãe.
3 Ainda não pude dormir como preciso. Estou bem. Muito amparado.
4 Não sei contar nada. Estou num hospital, mas escuto o seu coração chamando por mim com tanta dor, que não sei repousar.
5 Quando a senhora, meu pai ou Ana Maria olham meu retrato pensando em mim como pensam, fico aflito e não sei como encontrar o repouso por dentro de mim. Fico muito quieto, como nos dias em que estava no tratamento em casa, mas não durmo direito.
6 Mãezinha, não fique triste.
7 Não, como eu estava, não podia continuar. Sei que o seu carinho e o carinho de meu pai fizeram tudo por mim, mas tudo terminou como devia terminar.
8 Estou escrevendo com o auxílio do Irmão Anthero e do Irmão Macedo, que diz ser meu avô. Não sei escrever como queria. Estas palavras são apenas para pedir consolação e conformação para nós todos.
9 A morte não é o que imaginamos. Aí, minha mãe, fica apenas uma espécie de roupa que não nos servia mais.
10 Estou vivo. E o nosso carinho está em meu coração. Podem ir ao lugar onde vocês julgam que fiquei, mas não chorem.
11 Agradeço tudo, mas tudo o que desejarem me oferecer agora, convertam em auxílio aos meninos doentes.
12 O preço de uma rosa é quanto custa um pão. Será isso mesmo? Não sei. Mas creio que dei o pensamento do que desejo falar. E a rosa pode ficar na roseira, que eu recebo a flor pela intenção.
13 Digo assim, porque tudo o que pensam sofrendo em nossa casa, eu estou recebendo.
14 Mamãe, papai, abracem a todos por mim. Não morri. Estou com vocês. Auxiliem-me para que eu esteja mais forte.
15 Depois de amanhã (ou será amanhã?), faz três meses de nossa separação. Mas pensem na doença que atravessamos e agradeçamos a Deus pelo amparo que tivemos.
16 Não posso continuar. Muito carinho e muitos beijos com todo o coração, do filho
Jáder
(Uberaba, 7 de agosto de 1972)
Que dizer do garoto Jáder Eustachio Guimarães de Macedo, filho de Eustachio Antônio de Macedo e de D. Elza Guimarães de Macedo, desencarnado em Catalão, Estado de Goiás, a 9 de maio de 1972, em consequência de um osteossarcoma da tíbia esquerda e que frequentou só o Jardim da Infância e o Pré-Primário, por seis meses e com dois meses de leitura, até fins de outubro de 1971?
Evidentemente, o leitor não espírita há de achar absurdo um menino que nasceu no dia 4 de março de 1965 e desencarnou com sete anos incompletos, venha, através de um médium espírita, transmitir mensagem aos seus pais, exatamente no dia 7 de agosto de 1972, ao final de uma reunião pública, perante dezenas de pessoas, algumas de outras nacionalidades em visita a Chico Xavier e à Comunhão Espírita Cristã. Senão absurdo, pelo menos um fato insólito e inédito. Para nós, espíritas, porém, o fato é dos mais anódinos, de vez que sabemos ser o Espírito eterno e detentor de todas as suas potencialidades, o que aliás, não é privilégio só da Doutrina Espírita tal conhecimento, mesmo porque Ella Freeman Sharpe, em sua obra Análise dos Sonhos — Um Manual Prático para Psicanalistas, n chega a dizer: “O reservatório do Id, que fornece a energia que utilizamos em todas as nossas atividades, não tem conhecimento do tempo nem do espaço. Nossa vida essencial não conhece a mortalidade. Daí a vitalidade em idades avançadas daqueles cuja vida psíquica acha-se ajustada de modo feliz.”
Pois bem, uma vez no Mundo Espiritual, conquanto ainda se sentindo criança, o Espírito consegue manejar todos os seus recursos arquivados no inconsciente e, acionando a mão de um instrumento mediúnico, naturalmente auxiliado por outras entidades, no caso, os Irmãos Anthero e Macedo, o segundo seu avô, quando no Plano Físico, consegue transmitir a mensagem. Trabalho estafante, sem dúvida, que os Benfeitores da Vida Maior somente permitem com vistas a beneficiar, não apenas os genitores angustiados, mas larga faixa de pessoas que atravessam ou poderão vir a atravessar situações idênticas. Fora disso, não haveria lógica em semelhante comunicado.
Mas, no caso de Jáder, vale a pena resumir o que seus familiares nos comunicaram:
1. Que o menino relembrava durante a enfermidade, que havia vivido outra existência na cidade de Monte Carmelo, Estado de Minas Gerais, e que a sua família estava lá mais de oitenta anos, entre Monte Carmelo e Catalão;
2. Quatro dias antes de desencarnar, deu a seguinte mensagem aos pais, da qual os psicólogos podem retirar material para análise: ele, Jáder, via que machucara o dedo da irmã Ana Maria (que fez onze de idade no dia 29-3-1972). E dizia estar sonhando; que sofria porque era muito ruim. Depois, à tarde, disse ele: — “Olha, mamãe, eu falei que estava sonhando, mas eu não estava. É que eu não queria que a senhora chamasse o médico”;
3. No dia em que partiu para a Espiritualidade, disse à genitora que aquele era o último dia em que ficava naquela cidade maravilhosa; que ninguém o seguraria; que precisava ir, chegando a rogar não lhe prosseguissem com a oxigenoterapia.
Da mensagem admirável, vazada numa linguagem simples e desataviada, convém, para terminar, que guardemos esta lição preciosa:
1. que os pais podem visitar o túmulo de um filho, mas que não chorem, ou se o fizerem, que o pranto seja fruto da conformação;
2. que transformem todo o numerário que lhe corresponderia se encarnado aos “meninos doentes”;
3. que “o preço de uma rosa é quanto custa um pão” e, em perfeita consonância com O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, questão nº 320 a 329, “a rosa pode ficar na roseira, que eu recebo a flor pela intenção”.
Elias Barbosa
[11] Ella Freeman Sharpe, Análise dos Sonhos — Um Manual Prático para Psicanalistas, Tradução de Christiano Monteiro Oiticica, Imago Editora Ltda., Rio de Janeiro, 1971, p. 4.