1 Mãezinha Babi, estou aqui. É verdade.
2 Saí de seu carinho pelas mãos de meu pai, embalado na prece da avezinha inesquecível. Era uma sexta-feira? Penso que sim.
3 A princípio, assustei-me. O coração parara como ave na gaiola inexplicavelmente espancada, a fim de libertar-me.
4 Mas depois acordei, e a manhã era linda! A floresta sonhada surgira ante os meus olhos! Céus muito azuis cobriam a terra verde, matizada de flores.
5 Fontes cantavam quase naquele tom em que a sua ternura cantava para mim cantigas de ninar! Brisas passavam sussurrando segredos, como se me falassem de assuntos misteriosos entre a Terra e o Céu.
6 Pássaros nas ramadas pareceram-me luzes que a música do amor inflamasse de paz.
7 E vi crianças, mãezinha, iguais àquelas outras do mundo que o seu carinho me ensinou a buscar, para serem — por fim —, os meus irmãos com os meus outros irmãos na alegria do lar.
8 Ah! com que ânsia indizível rememorei seu colo para beijar de novo a sua alma querida e dizer-lhe as mil cousas que me vinham à mente; entretanto, mãezinha Babi, a voz não tem palavras para manifestar-se.
9 Não sei contar ainda tudo quanto quisera, mas venho até seu passo, a fim de repetir-lhe: Mamãe, fique tranquila. Seu filho vai bem.
10 Só saudade ele sente. A saudade sem fim de que lhe nasce a prece, para que eu tenha agora o amor e a paz da vida, da vida imperecível, em que já me encontro.
11 Para dizer-lhe, enfim, que o meu amor, mãezinha, meu amor por você é a minha doce luz e a minha doce bênção, para que, enfim, me eleve aos cumes de altos montes, a esperá-la feliz, sob as bênçãos de Deus.
12 Muito carinho e, em tudo, a gratidão de sempre do filho que prossegue a reviver feliz na eterna confiança do seu eterno amor.
Cleon
(Uberaba, 31 de julho de 1972)
Para que possamos compreender o poema em prosa, de Cleon Marcius de Camargo Marsiglio, que nasceu em Pirassununga, Estado de São Paulo, no dia 10 de maio de 1953, e aí desencarnou a 30 de junho de 1972, quando cursava o segundo ano de Engenharia na cidade de Lins (SP), nada melhor que transcrevermos, na íntegra, dois poemas de Cleon Marcius, o segundo deles, um haicai, impressos e distribuídos por sua família, por ocasião de seu decesso.
O primeiro poema se intitula “Floresta Encantada”.
Como teremos oportunidade de verificar, a mensagem recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier é a resposta às indagações contidas na peça poética deixada no mundo. E o médium desconhecia completamente não só o rapaz, como também a circunstância de que fosse poeta.
Antes de mais nada, leiamos o poema:
FLORESTA ENCANTADA
Eu vou pra grande floresta
Em busca de paz
Em busca de amor,
Atrás da verdade
Em busca de mim.
Se lá eu me encontrar,
Prometo que vou
Voltar, pra contar
A quem quiser
Ouvir e saber.
Se lá na grande floresta
Eu me encontrar
Prometo que vou
Voltar pra contar
O que aprender.
Só não acho que seja certo
Guardar tudo para mim,
Como muita gente faz,
Escondendo a beleza que tem pra dar…
Se lá na grande floresta
Eu encontrar o velho anãozinho
da sabedoria
Vou lhe perguntar:
Onde está o amor?
Será que esconderam
Na sombra do sol?
Será que o perderam
No vento a soprar?
E se ele me responder
Aos quatro cantos vou gritar
O que ele me ensinar;
E então todo mundo vai
Poder amar!
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Pertencente a família católica, Cleon, no seu poema terrestre, qual ocorre a todo bom poeta, deixou extravasar o que lhe aflorava do inconsciente.
Ele sabia que a desencarnação estava próxima. E que deveria partir. E que deveria voltar. Para quê?
Todos sabemos porquê. Ele mesmo conseguiu, no seu haicai, mostrar, numa síntese admirável, que a vida prossegue além do túmulo, exaltando a condição efêmera do homem que enverga a libré do corpo físico:
Quem conseguir olhar o céu
e não ver apenas o azul
terá conseguido a paz.
Elias Barbosa
Nota: Devemos o poema “Floresta Encantada”, constante destas notas, às gentileza da senhora mãezinha do comunicante, D. Bárbara Marsiglio, que no-lo enviou da cidade de Pirassununga, Estado de São Paulo, onde reside, depois de haver recebido a mensagem do filho, em Uberaba, Minas.