1 Indagas, muita vez, alma querida e boa,
Como recuperar a fé perdida,
Quando alguém te vergasta o coração e a vida,
A ofender e ferir, espancar e humilhar…
Sai de ti mesmo e fita o mundo em torno,
Todas as forças lutam, entretanto,
A Natureza pede em cada canto:
Renovar, renovar…
2 A noite envolve a Terra em longa faixa,
Mas a Terra em silêncio espera o dia
E o Sol dissipa a névoa espessa e fria,
Simplesmente a brilhar…
Alteia-se a manhã, o trabalho enxameia…
Do pó ao firmamento em novo brilho,
Ouve-se, em toda parte, o sagrado estribilho:
Renovar, renovar…
3 A semente lançada ao barro agreste
Sofre o assalto do lodo que a devora,
Mas o embrião resiste, luta e aflora,
No anseio de ser pão e alegria no lar…
A princípio, é um rebento pobre e frágil,
Tolera praga e temporal violento,
Faz-se árvore linda e canta entre as notas do vento:
Renovar, renovar…
4 Arrebatada a pedra ao chão da furna
Quer descanso, sem garbos de obra-prima,
Contudo, o artista chega, corta e lima
A brunir e a sonhar…
Ei-la que escala os topos da escultura
E, estátua em que se estampa a essência da beleza,
Diz à vida que a busca, encantada e surpresa:
Renovar, renovar…
5 Assim também, alma querida e boa,
Se alguém te impôs olvido, abandono e amargura,
Segue, serve e perdoa o golpe que te apura,
Esquecendo o desprezo e procurando amar…
E ouvirás claramente, entre ascensões mais belas,
Ante a fé no porvir luminoso e risonho,
A própria voz do Céu, ao restaurar-te o sonho:
Renovar, renovar…
Maria Dolores
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