188 — REENCONTRO COM XÊNIA
MARIA GABRIELA — (…) Mas, muito melhor do que a gente ficar falando é ouvir Chico Xavier. O seu trabalho, a sua força e fé servem de exemplo para muita gente. A Xênia foi atrás, conseguiu esta entrevista com ele e agora vai em frente, Xênia!
XÊNIA — Minha companheira da nossa TV Mulher, muitíssima emocionada estou ao lado do meu primeiro mestre, aquele que me abriu o caminho para as portas das percepções maiores e que me fez caminhar muito dentro de mim mesma. Chico Xavier, que grande prazer!
CHICO XAVIER. — Xênia, você sempre a gentileza em pessoa. Eu tomo a liberdade de dizer que não passo de um pequenino servidor de todos, e nesta hora especialmente, de você que me trata com tanta distinção em seu belo programa da TV Globo. Eu tenho o prazer de dizer que conheço você desde o primeiro dia em que um grande brasileiro, e ao mesmo tempo um grande paulista, o nosso querido Herculano Pires, me falou da sua inspiração, de seu ideal superior junto de nossas comunidades. Estou muito emocionado.
189 — VIOLÊNCIA E O PENSAMENTO RELIGIOSO
XÊNIA — Chico Xavier, vou lhe fazer perguntas. Perguntas rápidas à sua maravilhosa, nem chamaria mediunidade, profundidade, para esse maravilhoso casamento cósmico que o Sr. vive nesta existência. Mestre Chico Xavier, o que o Sr. nos diria da violência?
CHICO XAVIER. — A violência é, sem dúvida, algo da nossa própria natureza humana, quando irrompe indebitamente, apresentando aquilo que a justiça nos ensina a nomear como sendo periculosidade. Quando a nossa periculosidade atinge graus muito altos aparece a violência, como sendo um sistema de vida que recorda de algum modo a selva, de onde, do ponto de vista da evolução dos milênios, nós todos procedemos. Urge que o pensamento religioso, atualmente um tanto esquecido, possa novamente socorrer-nos a todos, desde os primeiros dias de nossa vida infantil, reconduzindo-nos para Deus, a fim de que não estejamos à mercê de princípios materialistas que em verdade, embora respeitáveis pela sinceridade com que se expressam, não definem as verdades da vida, porque todos somos espíritos eternos diante de Deus. Diante da Lei de Causa e Efeito, a violência é um dos mais lamentáveis estados humanos e um dos maiores problemas que estamos enfrentando na atualidade, problema para nós todos. E que só o amor, só o coração voltado para Deus, ao que cremos, segundo o ensinamento dos Bons Espíritos, é que poderão curar.
190 — UNIÃO CONTRA O ABORTO
XÊNIA — Chico Xavier, TV Mulher é um programa dedicado à mulher e nós gostaríamos de fazer ao Sr. perguntas referentes à mulher. Alguns grupos de mulheres brasileiras estão se movimentando a favor do aborto. Como o mestre Chico Xavier vê o aborto?
CHICO XAVIER. — Na condição de um servidor muito inexpressivo, sem nenhuma autoridade para emitir opiniões diante de nossos problemas sociais, eu compreendo que, se anos passados houvesse a legalização do aborto, e se aquela que foi a minha querida mãe entrasse na aceitação de semelhante legalidade, legalidade profundamente ilegal, eu não teria tido a minha atual existência, em que estou aprendendo a conhecer minha própria natureza e a combater meus defeitos, e a receber o amparo de tantos amigos, que qual você, como todos aqui, nos ouvem e me auxiliam tanto. Eu não posso compreender a legalização do aborto, conquanto determinadas potências na atualidade do mundo já estejam adotando esse princípio. Acredito que, com o tempo, todos aqueles legisladores e administradores que optarem pela legalização do aborto, todos eles voltarão à retaguarda, porque o aborto é um crime cometido contra criaturas absolutamente indefesas, que esperam a nossa voz para que elas possam viver e facear a vida, e aproveitar os benefícios da vida que chegam de Deus a nós através da mulher, da missão digna da mulher junto do mundo e junto da evolução. A legalização do aborto é imprópria, é uma situação muito difícil e que nós todos deveríamos estar unidos, especialmente as nossas companheiras, as mulheres, as nossas mães, as nossas irmãs, as nossas filhas, aquelas que nasceram conosco, devíamos todos estar unidos contra semelhante abuso contra a lei de Deus, contra a natureza e contra a vida.
191 — POSIÇÃO DA MULHER DIANTE DA VIDA E PLANEJAMENTO FAMILIAR
XÊNIA — Chico Xavier, as mulheres saíram pra luta, trabalham fora, às vezes e muitas das vezes precisam sair, trabalhar fora para ajudar seu marido, como o Sr. vê, não essa mulher feminina que se coloca junto com seu companheiro, lutando pelo dia a dia, mas a mulher que está se negando como mulher e querendo copiar o modelo masculino. Como vê, mestre Chico Xavier, esta situação? Eu ouso perguntar, porque sei desta cabeça maravilhosa que tem respostas lindas para todas as situações espirituais e sociais. E não se pode desassociar, não é mestre?
CHICO XAVIER. — Muito obrigado. Acreditamos que há tarefas específicas que a mulher pode e deve desempenhar junto dos homens, colaborando com seus companheiros, os orientadores e os amigos da Humanidade, aqueles que são pais, são condutores da vida, especialmente nas questões de educação, nas questões de medicina, de higiene, setores em que a mulher, muitas vezes, excede em zelo e inteligência à própria capacidade masculina. Mas, esta luta, este trabalho competitivo em que a mulher comparece diante de tarefas funcionais, disputando empregos, desejando imitar a masculinidade, nós não entendemos isso muito bem, porque se tivermos mais paciência, e um tanto mais de aceitação das nossas possibilidades, esqueceríamos essa questão abusiva a que nomeamos status, e dentro de uma vida mais simples, mais feliz, a mulher encontraria a sua verdadeira posição diante da vida. Quanto ao número de filhos compreendemos que é justo que o planejamento familiar venha em nosso auxílio, com a direção de autoridades especialmente técnicas no assunto, para que nós tenhamos semelhante benefício. Mas devemos acrescentar que nesse sentido, entendendo que as relações sexuais muitas vezes são necessárias ao alimento afetivo, como agente revigorador das forças da mulher e do homem, são perfeitamente compreensíveis e dentro delas o anticoncepcional seria o caminho mais certo para que se evite a matança de milhões de crianças nas grandes capitais do mundo.
192 — BEBÊ DE PROVETA
XÊNIA — Chico Xavier, num memorável programa que o Sr. fez no extinto Canal 4, TV Tupi, o Pinga Fogo, alguém lhe fez uma pergunta a respeito do bebê de proveta e me lembro da fantástica resposta que o Sr. deu na época. n Então pergunto, mestre Chico Xavier, a sua posição com respeito ao bebê de proveta continua a mesma?
CHICO XAVIER. — Naquela ocasião, o Espírito de Emmanuel, em nos inspirando, como acontece agora, ele declarou que haveria sempre no mundo um número elevado, um número nobilitante de mulheres dignas que não se esqueceriam desse sagrado dever da vida, que é o dever da maternidade, a bênção da maternidade, e que, portanto, não deveríamos temer a ausência de determinadas criaturas que aceitam a sua própria solidão, embora pudessem povoar essa solidão com filhos maravilhosos. Então, esse mundo, o nosso mundo, pode contar sempre com as grandes mulheres. Eu digo grandes mulheres, porque a palavra mulher para mim tem uma significação muito alta; a palavra mulher é muito grande porque a mulher tem a chave da vida. Eu creio na ciência, creio na bênção da maternidade, creio na abnegação da mulher e, portanto, eu acredito que todas as bênçãos que o Senhor, nosso Pai de Infinita Bondade, nos concede para facilitar a vida, essas bênçãos serão aproveitadas porque muitas mulheres, nossas irmãs, se abstém da maternidade por dificuldades orgânicas que o bebê de proveta, amparado pela ciência, poderá vencer facilmente.
193 — CONJUGAÇÃO DO VERBO “MATERNAR”
XÊNIA — Estou recebendo dois livros que o Sr. está fazendo lançamento aqui em São Paulo: Caminhos do Amor, de Francisco Cândido Xavier e Maria Dolores; e Correio do Além, de Francisco Cândido Xavier e Diversos Espíritos. Chico Xavier, o que é que eu posso dizer ao Sr. em agradecimento, a TV Mulher agradece profundamente, agradecemos ao público presente que teve paciência e permitiu a nossa visita aqui. Eu só posso lhe dizer, meu muito lindo, querido e amado mestre, primeiro mestre que colocou o candeeiro bem alto para que eu descobrisse que existia luz no mundo, eu amo o Sr. até que Deus envelheça. E gostaria que o Sr. deixasse uma pequena mensagem às mulheres de todo o Brasil.
CHICO XAVIER. — Agradeço muito, reconhecido, que a generosidade está inspirando as suas palavras, que eu absolutamente não mereço essa condição em que a sua bondade me coloca, mas eu agradeço muito como quem tivesse recebendo uma carta de crédito no alto empréstimo da vida, através de sua bondade e de sua autoridade, pedindo a Deus que me dê forças para que eu possa resgatar essa dívida que estou contraindo, ouvindo a sua palavra tão bela, tão encorajadora para um coração pequenino quanto o meu. Quanto a deixar determinada mensagem eu me lembro que numa festa beneficente, ao lado da nossa grande amiga Xênia, eu ouvi um neologismo que considero até hoje muito importante. Ela convidava às mulheres, nossas irmãs, a todas que pudessem exercer essa função e esse mandato nobre da vida, que fizessem força para conjugar um verbo novo, um verbo chamado “maternar”.
XÊNIA — Chico, o Sr. se lembra, ainda?
CHICO XAVIER. — Eu me lembro, porque achei formidável a sua palavra, porque nós todos, as mulheres presentes e os homens também que puderem exercer esse apostolado, maternar as crianças necessitadas, que cada lar recebesse uma criança, cada companheiro nosso se responsabilizasse por uma criança num instituto de educação, certamente que o infortúnio da delinquência infanto-juvenil iria desaparecer da face da Terra. Então, eu digo, vamos ouvir a nossa Xênia e fazer força por maternarmos alguém.
XÊNIA — E nos “maternarmos” a todos, não é, Chico?
CHICO XAVIER. — Sem dúvida, sem dúvida.
XÊNIA — Chico Xavier, o nosso muito obrigada, obrigada aos senhores orientadores do Centro Espírita União. Foram maravilhosos. Chico, por favor, me dê a sua mão (beija-lhe a mão), esta é a maneira n de lhe agradecer.
CHICO XAVIER. — Obrigado, que Deus a abençoe, lhe dê forças para sua grande tarefa. Muito obrigado.
XÊNIA — Maria Gabriela, um presente para todos nós.
Francisco Cândido Xavier
Emmanuel
[1] No original: “esta é a maneira (beija) de lhe agradecer.”