BIOGRAFIA
Sílvio Romero de Oliveira Júnior (Gato), nasceu em 24.06.1953 e desencarnou em acidente automobilístico, na cidade de Dois Córregos, em São Paulo, no dia 30.09.1979.
Era “um rapaz autêntico, alegre, sincero e que gostava muito de fazer amizades, principalmente com pessoas idosas. Gostava de visitar doentes, presentear amigos e familiares. Tinha grande predileção por rosas e jamais visitava uma senhora ou uma senhorita, sem que as presenteasse com um buquê ou mesmo um botão de rosa vermelha. Era muito ligado ao pai e não fazia nada sem o consultar. Tinha verdadeira admiração pelo mesmo. Muito amoroso com a mãe, sempre a presenteava com um botão de rosa, quando a via aborrecida por quaisquer problemas. Era amigo para o que desse e viesse. Jamais deixou os amigos em apuros…”
“…Tinha o pressentimento de que faleceria cedo, chegando até a pressentir a sua morte” — conforme narra o seu genitor. Antes de falecer, visitou seus parentes em Belo Horizonte e Goiânia. Na véspera da sua desencarnação, brincou com a mãe durante o velório de um amigo, dizendo que morreria no dia seguinte, o que realmente aconteceu.
Seus pais assim se expressam a respeito da mensagem psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier:
DEPOIMENTO DA FAMÍLIA
“Não se pode imaginar a emoção que sentimos ao receber a mensagem do filho amado. E que conforto trouxe ao nosso espírito! Uma simples frase: “Mãe, estou bem”, ou “Mãe, estou presente”, já seria suficiente para podermos prosseguir nesta vida de prova e expiação, dando-nos a certeza de que a morte não é o fim, mas o início de uma nova vida.”
Psicografia: Francisco Cândido Xavier
1 Querida mamãe Teresinha, peço ao seu carinho e a meu pai Sílvio n para que me abençoem.
2 A saudade compele. Não posso, assim, iniciar este relato de filho saudoso senão pelas saudações pelo “Dia das Mães”, desejando ao seu coração materno tudo o que a vida consegue refletir de Deus, no que conhecemos de bom e belo.
3 Já sei, mamãe, que isso a contenta. Acompanho a sua confiança em Deus e na própria existência, que é nossa em qualquer parte. Por isso pretendo deter-me na conversa com o pai amigo e bom, de quem conservo saudades iguais àquelas que ele registra a meu respeito.
4 Entendo, querido papai, a sua luta interior, as razões para crer e descrer, as dificuldades para me aceitar agora tal qual sou, em minhas modificações, e as inclinações para o contrário, já que o seu raciocínio reconhece a impossibilidade de admitir o nada depois de tanta vida e de tanto amor.
5 Eu sei que a sua bondade vem me esperando. Surgem dias em que o vejo curtindo até mesmo um certo ressentimento quanto à demora neste correio que não nos pertence.
6 Creia que se pudesse já teria rompido a barreira há muito tempo. No entanto, era preciso consertar-me. Afinal não entrei naquele monte de cana movente, com alegria. Aquilo tudo foi uma surpresa, cuja tragédia para mim se fazia inacreditável. 7 Não compreendo porque ataquei aquele pedaço morto de canavial, como se estivesse penetrando numa garagem. O susto foi qualquer coisa de indescritível. Além do choque, me reconheci, de imediato, envergonhado diante de mim próprio, de vez que, a meu ver, aquilo não podia e nem devia acontecer. Não tive porém qualquer faixa de tempo para me entregar a reflexões.
8 Por dentro da cabeça foi aquela moleza que não esperava. Ainda mesmo que desejasse movimentar-me ou falar, não era possível porque o desmaio me envolveu e nada mais consegui marcar, no ponto de minhas próprias observações.
9 Quando acordei, foi aquele tumulto. Exigi providências, gritei e me transformei numa fera de agressividade, porquanto acreditava que me haviam internado em alguma casa de Dois Córregos, para tratamento, e porque não o visse e nem percebesse a presença de mamãe, foi aquela agitação de que o pessoal da enfermagem não tomou conhecimento. 10 Ensaiei alguns palavrões mas ninguém me deu bola. Comecei a crer que fora vítima de alguma alucinação, depois do acidente, cujo impacto inicial não poderia desconhecer.
11 Quando me acalmei desapontado, uma senhora veio a mim, conversando com a paciência que eu estimaria ter encontrado em mim mesmo, na estranha situação em que fora conduzido. Só então vim a saber que me achava diante de uma pessoa que considerava morta, a vovó Francisca, n da parte de mamãe Teresinha. 12 A princípio, não sabia quem era mais perturbado, se ela ou eu, porquanto a ideia da desencarnação não me vinha ao pensamento, nem de leve. Recebia com demonstrações de reserva o quanto escutava, quando notei que chegava alguém, cuja identidade não poderia ignorar. Era o vovô Alberto Ferreira, n que me apagou todas as dúvidas.
13 Estava realmente em outra faixa da vida. A gente, de imediato, em casos semelhantes ao meu, não pensa que está voltando ao lar verdadeiro 14 e, por isso, até que o íntimo nos assevere a aceitação da verdade, somos obrigados a varar muitos graus de transformações. Desespero, amargura, insatisfação, angústia e muitas lágrimas nos criam o alicerce espiritual da conformação.
15 Em meio de todas as minhas emoções, via o seu rosto e fixava o seu olhar por dentro de mim, como a indagar o que havia acontecido. Às vezes, ignorando o processo dessas transmissões, enxergava-o, procurando a solidão para conversar comigo, que ouvia a sua voz através de registros que não sei definir. 16 Não tenho qualquer dúvida mas, por mais que respondesse por esse esquisito sem fio do pensamento, observava que a sua ternura e a sua dor de pai não me reconheciam. O vovô Alberto, quem me tomou aos próprios cuidados, explicou-me que o seu discernimento gastaria tempo a fim de construir a fé na sobrevivência depois da morte.
17 Certo dia ele chegou a me dizer, bem humorado: “O nosso Sílvio um dia compreenderá que a fé é algo semelhante à roupa com que se deve comparecer num Banco, n solicitando emprego. Se o candidato aparece desvalido de boa apresentação, não adianta a solicitação ou o empenho da melhor procedência. Então o candidato passa à demanda do trabalho com roupa emprestada de algum amigo. Com semelhante vestuário o pretendente ao serviço ingressa nas atividades nas quais precisa se encaixar e, somente depois, com o esforço próprio é que disporá do uniforme social, indispensável para manter a própria vida funcional.”
18 O vovô Alberto, com certeza, desejava referir-se ao assunto, recordando algum episódio que o interessasse porque, ainda agora, enquanto escrevo, ele próprio me recomenda falar nisso para que o seu coração de pai amigo descubra a simbologia da fé num acontecimento simples da vida.
19 Posso dizer-lhe que as minhas saudades são muitas. Papai, rogo-lhe coragem e confiança no Poder Superior que nos governa a vida. Não se deixe entregue ao desespero ou ao desânimo. Recorde os irmãos que esperam por sua proteção e pela assistência constante de mamãe Teresinha.
20 Minhas turras com o João Alberto n estão terminadas. Desejo ao querido irmão paz e sucesso em todos os empreendimentos a que se dedique.
21 Estimaria estar de memória acesa para recordar aqui o nome de todos. O Carlos Eduardo, o Roberto, o Ronaldo, a Raquel, a Renata e mais quem? n
22 Sinto que preciso completar a lista. De qualquer modo não me esqueço do Márcio e peço a ele para que não queira brigar com Deus. A verdade é que não desapareci. Estou íntegro como sempre. Só a moldura é que se fez nova e essa moldura é o jeito novo de viver.
23 Diz meu avô Alberto que basta. Não preciso me enfiar em qualquer enciclopédia de família para mostrar que sou eu quem escreve. Por isso vou terminar aqui. Novidades são muitas, no entanto, palavras de explicar, pelo menos para mim, são ainda muito poucas.
24 Lembranças a todo o nosso pessoal. Se conseguir, voltarei breve ao lápis. Desta janela, cercada de mães, retornarei. Se isso não acontecer é porque precisarei aguardar oportunidade.
Querido papai Sílvio, com a nossa querida mamãe Teresinha, receba o coração repleto de saudade e de muito amor do seu
Gato
Sílvio Romero de Oliveira Júnior
09.05.1981
IDENTIFICAÇÕES
(1) Pai Sílvio — Sr. Sílvio Romero de Oliveira, genitor do comunicante.
(2) Vovó Francisca — D. Francisca Cândida de Jesus, avó materna, desencarnada.
(3) Vovô Alberto Ferreira — Sr. Alberto Ferreira de Oliveira, avô paterno, desencarnado.
(4) Num Banco — O genitor do comunicante exerce a função de gerente do Banco do Brasil, em Uberaba, M.G.
(5) João Alberto — Irmão do missivista.
(6) Carlos Eduardo, Roberto, Ronaldo, Raquel, Renata — Irmãos de Sílvio Júnior.
EXPLICAÇÃO
No sábado, dia 15.05.1982, encontrando-se o médium Divaldo Franco na reunião pública do Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, M.G., após as tarefas do Culto da Assistência, à tarde, junto aos irmãos necessitados de apoio e ajuda de vária ordem, com Francisco C. Xavier, à hora reservada às psicografias, recebeu uma carta firmada por Sílvio Júnior e dirigida à sua genitora, que foi lida e entregue à mesma, de imediato.
A respeito da página, assim se referem os pais do comunicante:
DEPOIMENTO DA FAMÍLIA
“A primeira mensagem foi recebida através do médium Francisco Cândido Xavier e foi quase toda dedicada ao pai, que se encontrava inconformado e até mesmo revoltado contra os desígnios de Deus. Agora, nesse novo maio, nós é que nos encontrávamos muito angustiada, amargurada pela violência das saudades sentidas do filho amado. Na sexta-feira, dia 14, tentamos falar com o Chico, ficando até o final das consultas e nada conseguindo. Choramos muito, pois o nosso coração de mãe doía pela saudade, e também por estar atravessando uma fase bastante difícil em nossa vida, lembrando-nos, ademais, que nesses momentos difíceis Silvinho era sempre quem nos ajudava e nos animava muito. O trabalho prosseguiu noite a dentro e oramos fervorosamente por ele e os outros. Na noite seguinte, sábado, pedimos a Jesus que lhe permitisse mandar-nos pelo menos uma trova (já havia mandado duas) ou, quem sabe, um pequeno recado para nos reanimar. Imploramos a Jesus e ao próprio Chico. Ao término da sessão, foi grande a nossa surpresa e maior ainda a nossa alegria quando o médium Divaldo Pereira Franco, presente à mesa do trabalho do Grupo Espírita da Prece, falou em voz alta: — “Quem assina esta carta é Sílvio Romero de Oliveira Júnior. É uma carta para D. Teresinha.” Apresentamo-nos, então. Estávamos boquiaberta. Havíamos pedido ao Chico e o telefone tocou para Divaldo. Tremíamos como vara verde e o coração parecia que ia estourar dentro do peito… Era tão grande a nossa emoção, que nem sabíamos dizer nada. Apenas sabemos dizer, agora, que recebemos na noite de 15 de maio de 1982 o mais lindo presente de Deus. Nada no mundo se iguala à bela mensagem que nosso querido filho nos dirigiu.”
Psicografia: Divaldo Pereira Franco
1 Querida mãezinha Teresinha, n a sua saudade e as suas ansiedades trouxeram-me de volta à ternura que somente você me pôde oferecer na atribulada e breve existência de que o acidente me liberou.
2 Repasso pelo cinemascópio das recordações todas as cenas da nossa vida e do nosso lar e você, mãezinha, se avulta diligente e ativa, abnegada e estoica, sabendo exigir e compreender, impor-se e perdoar.
3 Um ano transcorreu após a minha primeira carta, na “Estância Nova” e você aguardou, ansiosa, que o seu filho, que lhe propiciou tanto trabalho no mundo, voltasse a conversar com você e com o papai Sílvio.
4 Eu lhe prometera retornar, é certo, caso as circunstâncias assim o permitissem. Como você não ignora, as Leis Soberanas da Vida são aqui mais graves e, diante da legião dos mais aflitos do que nós, devia aguardar a oportunidade, que agora me surge, a fim de tranquilizar e enviar notícias ao papai Sílvio, bem como à família, agora muito mais querida.
5 Tenho-a acompanhado e, tentado falar-lhe pelos fios invisíveis da inspiração. Vezes há em que você me ouve, me sente e se acalma por um pouco, para tudo recomeçar logo depois. Estamos nessa longa viagem de experiências, no corpo ou fora dele. A morte não nos exonera dos deveres nem das necessidades de crescimento.
6 Cada um aqui desperta conforme é, não consoante gostaria que fosse. Somos o somatório das nossas ações e estas não me ajudaram muito, quanto ambos sabemos. Não obstante, o Senhor é todo misericórdia e a oportunidade de evolução está colocada à disposição de quantos desejam liberar-se do ontem para conquistar o amanhã.
7 É o que tenho procurado fazer. Esquecer o que deve ser olvidado, para recordar-me do que necessito realizar em benefício próprio e, de certo modo, de todos nós.
8 A vovó Francisca n tem-me sido um anjo maternal. Sua doce e calma voz alerta-me, quando a ansiedade me visita e as lembranças negativas tentam empanar-me o céu das aspirações nobres.
9 Tenho visitado nosso lar com a frequência que os deveres me permitem, acompanhando as suas e as preocupações do papai. Toda família grande, nestes como nos dias do passado, constitui um laboratório de amor, funcionando em campo experimental. 10 Nem sempre saem as realizações e ocorrem os fatos conforme gostaríamos mas, o amor vigilante e a oração intercessória logram produzir o que outros recursos não conseguem.
11 Assim, mãezinha, não se aflija em demasia. Confie no tempo, que resolve amanhã o que não pode solucionar hoje. Tudo acontece sempre para o nosso bem, mesmo quando nas aparentes ocorrências infelizes.
12 A visão total, que só o Pai possui, a respeito dos nossos destinos, supre as falhas do momento, mediante concessões que nos escapam, propelindo-nos para o avanço, para a felicidade, que é o nosso fanal último e inevitável.
13 Acompanho os manos, com visão diferente, envolvendo em ternura as sempre queridas irmãs, que crescem para futuras responsabilidades e oro pelos irmãos, certo de que eles seguirão a trilha do bem, correspondendo às suas e às expectativas do papai, nem sempre; porém, como seria do desejo de vocês, todavia, de acordo com as suas próprias necessidades de evolução.
14 Continue auxiliando os que sofrem e consolando os que choram. Prossiga no serviço de amparo aos necessitados da nossa jamais esquecida Jaú, n porque são felizes, muito mais ditosos, os que dão, os que fazem, os que servem ao Bem pelo amor do próprio Bem.
15 Espero que o seu coração se renove e o seu entusiasmo aumente após estas mal traçadas linhas do seu filho.
16 Não pude escrever-lhe no “Dia das Mães”, todavia, como sempre é dia das nossas mães, envolvo-a e ao papai Sílvio nas melhores expressões do meu sentimento renovado, igualmente abraçando nossos João Alberto, Carlos Eduardo, Márcio, Ronaldo, Roberto, Raquel — êta família grande! — Paulo e Renata n com uma expressão de amor que somente a atual realidade me pôde propiciar.
17 Suplicando que você, querida mãezinha, e o papai Sílvio me abençoem como nos longínquos dias da infância, sou o filho reconhecido, sempre devotado, reconhecido e amoroso.
Gato
Sílvio Romero de Oliveira Júnior
15.05.1982
IDENTIFICAÇÕES
(1) Mamãe Teresinha — Sra. Teresinha Maria dos Santos, genitora do missivista.
(2) Vovó Francisca — Sra. Francisca Cândida de Jesus, avó de Sílvio, desencarnada.
(3) Jaú — Cidade onde a família viveu anteriormente. O Sr. Sílvio recomendara, à véspera, que a esposa se dedicasse a amparar os pobres, em Uberaba, onde agora viviam e não mais em Jaú…
(4) João Alberto, Carlos Eduardo, Márcio, Ronaldo, Roberto, Raquel, Paulo e Renata — Irmãos de Silvinho.