Quando procurávamos identificar o Padre Victor, citado em duas cartas mediúnicas do livro Eles Voltaram (Ed. IDE, Araras, SP), localizamos o confrade João Corrêa Veiga — residente à Rua 14 de Julho, 140, Três Pontas, Minas, terra do referido sacerdote —, ao ler um artigo de sua autoria, no jornal A Nova Era, de Franca, SP, exatamente sobre as virtudes do Padre Victor. Trocamos cartas e fraterna amizade se fez entre nós. Muito atencioso, enviou-nos farto material sobre a vida apostolar do Cônego Francisco de Paula Victor, do qual apresentamos uma síntese em a Nota 14, do Capítulo 8 da obra acima referida.
Posteriormente, para surpresa nossa, João Veiga enviou-nos uma “relíquia de família”: uma carta mediúnica de seu saudoso progenitor Francisco Corrêa de Figueiredo, recebida em agosto de 1947. Nesta época, sua irmã Alexandrina — Neta, na intimidade —, preocupada com problemas pessoais e familiares, procurou, em companhia do esposo, o médium Chico Xavier, encontrando-o em Belo Horizonte, na residência de amigos, onde ele psicografou a seguinte mensagem, escrínio de muito carinho paternal e profundos ensinamentos evangélicos:
MENSAGEM
“Falo-lhes com a experiência de um homem que foi obrigado a reaprender na morte o que não pôde entender nos trabalhos da vida humana. (…) Nenhuma mensagem de nosso Plano pode ultrapassar a grandeza do Evangelho Redentor.”
1 Meu filhos, meus amigos. Deus nos abençoe.
2 Sinto a prece pronunciada por nossa irmã qual escada de luz, por onde me reúno feliz ao lado de vocês. Estou contente, minha boa Neta, em face desta hora de espiritualidade que nos reaproxima. 3 Como expressar em palavras as vibrações do reconhecimento infinito? Poderíamos, acaso, condicionar no dedal minúsculo da mente as ondas divinas do Oceano da Vida Eterna?
4 Oh! filha querida, meu Espírito desperta mais intensamente para a verdade. 5 A morte me arrebatou às sombras da existência humana para conduzir-me o ser às praias sublimes do conhecimento superior. 6 Logo depois de minha vinda, concedeu-me o Senhor a dádiva de cooperar com vocês em espírito no trabalho santo da fraternidade cristã. 7 Mas, a Bondade Ilimitada do Supremo Pai convocou-me a outras fontes, a mananciais mais altos da Revelação para ser mais útil. 8 Não me encontro ausente do círculo querido, onde comecei a abençoada luta. 9 Renovo pensamentos e sentimentos em Esfera mais elevada, recebendo aquele “acréscimo de misericórdia”, para cujo resgate, perante o Céu, conto com a valiosa cooperação de vocês.
10 Digam ao nosso João n que eu estou de pé, amando mais e sentindo mais intensamente as bênçãos que o Mestre Divino nos confia.
11 Eu sei que vocês estão lutando dificilmente por reajustar a tranquilidade espiritual em nosso meio e compreendo, em particular, minha filha, os trabalhos que o seu lar vem experimentando. 12 O sofrimento, porém, é o nosso testemunho de salvação. A dor é sempre renovadora, sempre benéfica. 13 A tempestade que ameaça e ruge entre nuvens sombrias acaba por lavar o horizonte. O fogo que dilacera costuma purificar. Não recuemos diante dos espinhos que a senda nos oferece. 14 Todos aqueles que perseveram na disputa de alegrias transitórias, muitas vezes utilizando a própria oração, nada mais fazem que procurar a fuga da oportunidade de redenção. 15 As pedras no mundo constituem base às construções mais sólidas. Fujam, pois, das areias da fantasia.
16 Falo-lhes com a experiência de um homem que foi obrigado a reaprender na morte o que não pôde entender nos trabalhos da vida humana. 17 Afinal, vocês todos permanecem aí no mundo de passagem para cá. Ninguém escapará ao sol da verdade espiritual. 18 Urge, pois, entregar ao Senhor as nossas aflições, a fim de que haja suficiente serenidade em nosso espírito para atender às justas obrigações. 19 Deus faz sempre a maior e a melhor parte de nosso ministério na Terra, quando sabemos cumprir os nossos deveres pequeninos de criaturas falíveis.
20 Eu não tive a felicidade de penetrar tão extensamente no templo do Evangelho como vocês, enquanto carreguei o peso do corpo material. 21 Vocês, contudo, guardam a glória do conhecimento cristão. Oh! jamais permitam que semelhante mensagem do Mestre se demore estagnada nos lábios. Trabalhem, movimentem-se, sirvam Àquele que nos ama desde o princípio. 22 Às vezes é necessário morrer na carne qual me aconteceu, para que nossa consciência desperte efetivamente para a realidade imortal. Aí no mundo, nem sempre as circunstâncias favorecem. Um dilúvio de obstáculos mergulham-nos os pés em perturbações aparentemente insignificantes. Não há arca de proteção que nos salve de semelhante sufocação, quando olvidamos a prece e a vigilância.
23 Entretanto, filha querida, a experiência na Terra é uma escola bendita. Tudo o que constitui impedimento para a vitória da alma é lição que devemos aproveitar, superando as próprias fraquezas. 24 Aqui onde vivo agora não somos conhecidos pela abundância das graças, pelo primor dos dons, pela dilatação dos dias que recebemos da Bondade de Deus na tarefa do corpo carnal. 25 Somos identificados pela nossa utilização dos talentos e possibilidades colocados em nossas mãos. 26 Não é a existência que interessa na apreciação de nossos Benfeitores. É a substância da existência que fala por nós no caminho. 27 Aceitar a revelação de Jesus envolve compromisso grave do coração. Não bastará que sejamos curados por Ele, indispensável erguer o espírito das fantasias que nos adormeceram o coração e segui-Lo, adiante, caminho afora, abandonando os velhos sentimentos que nos caracterizam, a fim de ressurgirmos n’Ele, nosso Mestre e Senhor.
28 Espero que vocês me entenderão as palavras. São filhas do meu paternal coração que deseja vê-los cada vez mais ativos na materialização da fé renovadora que abraçamos.
29 Somos de parecer que as suas atividades mediúnicas prossigam interrompidas. n Esperamos o ensejo de cooperar com mais eficiência na construção dos nossos ideais. Mas, continuem todos atentos à verdadeira e legítima comunhão com Jesus, nos atos, palavras e pensamentos de cada dia.
30 Aqui estão comigo o Clóvis e a irmã Elisa, n e todos nós permanecemos em serviço de auxílio.
31 O nosso infatigável padre Vìctor, n ainda e sempre, é o silencioso herói que em nome de Jesus espalha bênçãos e dádivas às mãos cheias. Correspondamos à renúncia e ao devotamento que nos dispensa invariavelmente. Aquele abençoado céu de Três Pontas está cheio de irradiações salvadoras desse gênio tutelar.
32 Filhos, meu filhos, façamos o bem para esquecer os nossos próprios males. Os braços que se ocupam na sementeira da luz nunca serão imobilizados pelas trevas. 33 A mente que se enche de contemplação sublime para iluminar a atividade cristã na Terra jamais se embeberá no vinagre das desilusões; e o coração que deixa correr em seu santuário interior a fonte da água viva, nunca sofrerá a passagem dos detritos do mundo.
34 Lembrem-se de Jesus e sigamos para a frente. Nenhuma mensagem de nosso Plano pode ultrapassar a grandeza do Evangelho Redentor. 35 Cuidamos de todos os interesses de vocês, tanto quanto nos é possível, inclusive as menores questões alusivas à vida material; todavia, para que nossa missão tenha êxito é indispensável que vocês estejam vigilantes no cultivo da iluminação interior a benefício dos seus interesses eternos. 36 Recordem que tudo passa no campo das formas e caminhem valorosos na vanguarda dos que não somente aceitam o Cristo e veneram-No, mas também Lhe consagram suas energias e suas aspirações, acompanhando-Lhe os passos divinos para a Eternidade Gloriosa.
37 Perdoem-me se não pude ser portador de comunicado diferente. A mão escreve sempre aquilo de que o vaso do coração está cheio. E o meu coração está repleto agora de ânsias de salvação, de ardente desejo de acordá-los mais fortemente para a grandeza indefinível da vida cristã, a fim de que nos reunamos, mais tarde, no Lar de Divina Comunhão com a Luz dos Séculos.
38 Que Deus abençoe a vocês todos e nos ajude a alcançar os objetivos de nossas dores na peregrinação para o Alto, são os votos do papai muito amigo de sempre,
Francisco. n
NOTAS E IDENTIFICAÇÕES
1 — João — Seu filho, João Corrêa Veiga.
2 — Somos de parecer que as suas atividades mediúnicas prossigam interrompidas — Sua filha atravessava um período difícil, com a saúde abalada.
3 — Aqui estão comigo o Clóvis e a irmã Elisa — Clóvis Corrêa de Figueiredo, seu irmão, desencarnado em 1912, com 15 anos. Elisa Reis Veiga Lima, desencarnada em 1935, foi a primeira esposa do Dr. Veiga Lima, marido de Alexandrina.
4 — Padre Victor — Cônego Francisco de Paula Victor (1827-1905). “Ele veio para Três Pontas ainda moço, logo após sua ordenação. Dois trespontanos beneméritos haviam legado, para a obra de assistência social, a enorme área que ocupava todo um quarteirão, com frente para a praça da Matriz, ostentando nessa frente o casarão imenso. (…) ficou aquele prédio destinado a estabelecimento de ensino, a antiga Escola Normal, por ele dirigida. (…) A mansão de Padre Victor transformara-se numa espécie de santuário, de templo de saber, da educação de jovens, de moços e moças. Ali, a pessoa venerada e veneranda daquele que atualmente é considerado o santo de Três Pontas, passou toda a sua longa existência terrena, desdobrando-se não somente nos setores de sua missão de sacerdote, como ainda de professor, de educador, de assistente dos lares, das famílias, das pessoas ricas e pobres, como era habitual entre os cristãos dos primeiros séculos.” (Tópicos de um artigo de João Corrêa Veiga para a Revista Comemorativa do 121º Aniversário de Três Pontas, 1978.) Padre Victor é co-autor espiritual do livro Praça da Amizade, recentemente psicografado por Chico Xavier. (Ed. CEU, São Paulo, SP, 1982, p. 39.)
5 — Francisco — Francisco Corrêa de Figueiredo (1880-1944), agricultor, sempre viveu em Três Pontas, casando-se com D. Clara, que lhe deu 10 filhos. Normalista pela antiga Escola Normal, dirigida pelo Pe. Victor, sempre foi estudioso, interessado em conhecimentos gerais, sem demonstrar inclinação pelas questões religiosas, daí afirmar-se que “foi um homem obrigado a reaprender na morte…” Poucos anos antes de sua desencarnação, presenteou seu filho João com o livro Crônicas de Além-Túmulo, do Espírito Humberto de Campos (F. C. Xavier, FEB, Rio), adquirido numa viagem a Lins, SP, e que é guardado carinhosamente.