O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Estamos no Além — Familiares diversos


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Médico em novos campos de ação

“Em mensagem psicografada por Francisco C. Xavier, em Uberaba, no Grupo Espírita da Prece, na noite de 21 de junho de 1980, dirigida à esposa Sra. Irene Netto, o médico José Murillo Netto fala sobre a sua desencarnação e do que já aprendeu em quase três anos no mundo espiritual.

José Murillo Netto foi médico urologista em Juiz de Fora. Exímio cirurgião, exerceu com dignidade a sua profissão durante 40 anos, tendo granjeado vasto círculo de amizade. Desencarnou em 26 de julho de 1977, de infarto do miocárdio, em pleno exercício da medicina.

Esta a mensagem que transcrevemos, pela riqueza de detalhes que comprovam a sua autenticidade e, também, pelo seu excelente conteúdo doutrinário. Alguns trechos foram suprimidos, por tratarem de assuntos particulares.”

Com esta apresentação, a revista O Médium (Juiz de Fora, MG, nº 479, julho/1980) divulgou, em primeira mão, a referida carta mediúnica.

Posteriormente, solicitamos à viúva Dr. Murillo Netto a devida autorização para também incluí-la nesta obra, o que conseguimos em atenciosa carta-resposta assim redigida:

“Juiz de Fora, 10 de janeiro de 1981.

Prezado Senhor,

E fácil imaginar minha satisfação em saber que a mensagem recebida de meu saudoso Murillo, pela abençoada mediunidade do nosso querido Chico, possa levar a outras pessoas essas notícias do mundo espiritual e mais confiança na Bondade de Deus, além do muito que confortou e esclareceu aos meus filhos e a mim própria.

Sr. Hércio, sabendo de sua intenção de publicar em livro a referida mensagem de meu marido, aproveito a oportunidade para agradecer-lhe e dar-lhe meu pleno e irrestrito consentimento.

Desejando-lhe e à sua família muita saúde e paz, subscrevo-me com elevada estima,


Irene Neves Netto

(Vva. Dr. José Murillo Netto)”


MENSAGEM


“É muito penoso saber tanto acerca do corpo, sem maior discernimento quanto às realidades da alma.”


1 Querida Irene, estamos juntos, como sempre.

2 Ainda não tenho formas de ritual para erguer pensamentos aos Céus; entretanto, creia que estou desejando a você e aos nossos filhos, com os netos e quantos nos compartilham o cotidiano, muita saúde e tranquilidade, com as alegrias possíveis, em nosso tempo de transformações difíceis e, por vezes, amargosas.

3 Quase três anos! Vinte e seis de julho n ficou marcado a pranto em nossos dias. Ainda assim, se a separação aparente nos doeu tanto, a fé permanece em nossa companhia, na condição de enfermeira eficiente, cicatrizando-nos as chagas do coração.

4 Posso dizer que as sequelas da desencarnação desapareceram. As primeiras semanas foram de conflitos graves.

5 Não é fácil ser despejado de casa sem aviso prévio, e o que me aconteceu não foi muito diferente, conquanto aquelas indefiníveis dores precordiais que não me chegavam a predizer qualquer suspeita de fibrilação.

6 Acontece, porém, que o inesperado surge de repente, carreando bens ou males que a criatura, sempre acalentada pela esperança, não conta receber de improviso. Nesse aspecto, entretanto, as provações superam os prêmios sempre minguados para quem participa das filas imensas dos necessitados no mundo. A morte é assim mesmo. Mais do que outros profissionais, o médico sabe disso.

7 É muito penoso saber tanto acerca do corpo, sem maior discernimento quanto às realidades da alma.

8 Não é difícil estabelecer prognósticos, nesse ou naquele caso estranho a nós, contudo, em se tratando de nós mesmos, preferimos desconhecer as possibilidades negativas quando se anunciam para nós pessoalmente. É por isso que, mesmo em Medicina, o homem conhece com expressiva extensão os males alheios, mantendo-se de entendimento obscuro sobre os males que lhe sejam próprios.

9 Você lembrará comigo a estranheza que registrava, de quando em quando, mas felizmente você mesma cooperava comigo para que me esquecesse de sintomas e confiasse com mais segurança na Bondade de Deus.

10 E agora, querida companheira, que os dias fiaram novas linhas de circunstâncias e confrontos sobre as ocorrências que nos surpreenderam, reconheço que a certeza estava em sua abençoada capacidade de crer. Graças a Deus, tudo se verificou pelo melhor.

11 Se paradas cardíacas me atrasassem a liberação, ignoro como seriam os nossos sofrimentos. Agora que a neblina da incompreensão não descortina para nós o sol de novos dias, afirmo ao seu carinho que o seu “velho moço” está muito grato.

12 Você articulou todas as providências de que desejaria ser o autor se aí estivesse, nos momentos de partilhas e resoluções, que habitualmente criam tantos espetáculos de desentendimento e discórdia entre os melhores grupos familiares de nosso conhecimento. Felizmente estamos em paz e agradeço a sua ternura de esposa, reservando-me, noite a noite, o lugar de presença, com a bondade que lhe preside as intuições claras de sempre.

13 Não tenho estado tão longe, qual se imagina por aí para o chamado morto que se despede dos entes amados. Com o apoio de amigos prestigiosos, procuro permanecer nas organizações assistenciais de nosso ambiente, em Juiz de Fora.

14 Encontrei aqui no Mundo Espiritual um princípio altamente benéfico. Os tarefeiros do bem que se inclinem à demora na assistência à família, podem facilmente obter semelhante privilégio, desde que se sustente em serviço ao próximo, nas vizinhanças do lar que lhes serve de moradia aos pensamentos ainda vestidos do amor e da saudade, que simbolizam em si, vínculos respeitáveis na vida de cada um. 15 Tenho o reconforto de me conservar quase rente com você e com os filhos queridos que nos oferecem agora a colheita dos netos maravilhosos que nos enriquecem o presente na direção do futuro. Continuo esposo e pai, com a ficha de médico, aprendendo a servir em novos campos de ação.

16 E os companheiros são muitos, porque a desencarnação não significa voo imediato aos Espaços Eternos. Muito poucos se deslocam do Plano Físico em demanda de regiões mais elevadas, porquanto, na Vida Maior, encontramos invariavelmente a continuidade do que somos por dentro de nós mesmos. 17 O desejo parece um imã poderoso. A criatura se desliga do veículo denso e, de imediato, se transfere para a região que lhe define os anseios satisfeitos.

18 Essa antiga história do Céu, inferno e purgatório, é autêntica em se tratando da vida íntima. 19 Cada criatura traz consigo o sinal do ponto geográfico em que passará a estagiar, após desvencilhar-se dos laços positivamente materiais da vida na Terra. 20 As organizações são mantidas com a ordem inerente às próprias leis que nos governam.

21 Os semelhantes se atraem e se fixam uns com os outros, até que nos recessos de cada personalidade espiritual apareça o propósito de renovação para experiências mais altas pelo sentido de elevação em que se caracterizem.

22 Por felicidade a religião não é combativa, pelo menos do meu ponto de vista, pelo que já consegui conhecer e deduzir.

23 Os grupos se satisfazem por dentro de si próprios, à maneira de comunidades autárquicas. Imagine você que vultos respeitáveis de nossa querida terra de Juiz de Fora, continuam aqui trabalhando e construindo.

24 O irmão José Ribeiro de Resende, n desbravador das margens do Paraibuna, ainda se acha em ação, colaborando no progresso comunitário. O Dr. Alfredo Ferreira Lage n continua em sua magnânima prestação de serviço. D. Justino de Sant’Anna, n prossegue dirigindo a coletividade católica, e a vida se amplia, sem coação para ninguém.

25 Digo tudo isso a você, respondendo a indagações que nós ambos formulávamos sem resposta. n

26 Quanto possível, aumente a sua quota de assistência social. Sei que você é sempre colaboradora voluntária dos movimentos de confraternização. Pois, quanto possa não se canse de auxiliar.

27 Os seus investimentos por aqui serão cada vez mais preciosos. 28 A beneficência é uma espécie de poupança com valores definitivos perante o Câmbio Universal da Providência Divina.

29 Mas também não vá se estragar porque eu esteja asseverando isso. Disciplina e ponderação nunca perdem. Sigamos devagar. 30 Precisamos muito de sua contribuição junto aos propriamente mais próximos de nós, que são os nossos filhos e descendentes.

31 Agradeço ao Eduardo, ao Henrique e a Elizabeth, n as lembranças reconfortantes com que me recordam. Sou grato a todos.

32 Continue amparando aos nossos netos — especialmente no domínio da assistência espiritual — porque, sem qualquer ideia de crítica, noto que os pais da atualidade dispõem de muito pouco tempo para dialogar com os filhinhos.

33 As crianças precisam de alguém que lhes incuta ideias positivas de fé e trabalho, amor e solidariedade, nas pequenas cabeças esfogueadas pela televisão aberta. (…) Irene querida, o lápis corre e os minutos já não nos pertencem. (…) Muito amor aos nossos filhos e lembranças aos nossos amigos.

34 Aqui termino esta carta quilométrica. Isso é saudade querendo reconfortar-se. Mas não é saudade sem esperança.

35 Confiando agora na Bondade de Deus, muito mais do que antes, peço a você guardar sempre em seu coração o coração do seu, sempre seu,


Murillo

José Murillo Netto n


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES (de O Médium)


1 — Vinte e seis de julho — Data da sua desencarnação.


2 — José Ribeiro de Rezende — Barão de Juiz de Fora. Vereador mais votado e 1º Presidente da Câmara Municipal de 1853 a 1856. Foi dono de uma fazenda de café às margens do rio Paraibuna, daí a alusão “desbravador das margens do Paraibuna”.


3 — Dr. Alfredo Ferreira Lage — Vereador em 1892. Grande benfeitor da cidade, tendo doado o castelo de sua família (construído por seu pai Mariano Procópio), com todo o seu rico acervo, e que é hoje o Museu Mariano Procópio.


4 — D. Justino de Sant’Anna — D. Justino José de Sant’Anna (1878-1958), 1º Bispo de Juiz de Fora, cuja sagração verificou-se em 1925.


5 — Digo tudo isso a você, respondendo a indagações que nós ambos formulávamos sem resposta. — Alusão às conversas íntimas entre o casal, quando ambos conjeturavam a respeito da vida espiritual.


6 — Eduardo, Henrique e Elizabeth — Filhos.


7 — José Murillo Netto — A assinatura completa logo abaixo do nome Murillo era uma característica dele, só conhecida por seus familiares.


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