Francisco Cândido Xavier
Diante dos acidentes ocorridos nos tempos últimos, comentávamos diversos assuntos que nos vinham à palavra em forma de perguntas, antes da nossa reunião pública.
O progresso, criando tantas facilidades para a vida física, será um mal? Como definir a posição da máquina perante o homem? Os acidentes são inevitáveis? Um homem guiando um carro, por exemplo, caso esteja conduzindo o veículo com respeito e compreensão pelos outros, acatando com sinceridade as determinações do Trânsito, pode evitar um desastre, alterando os princípios cármicos? Ou aqueles que conduzem carros estão fatalmente presos aos acidentes, sem nenhum meio de evitá-los? A bondade de Deus, que dirige a vida, não conseguirá livrar os homens dessas provas?
Reunidos para as tarefas da noite, O Livro dos Espíritos nos deu para estudo a questão 793. ( † ) Após diversos comentários dos irmãos, o nosso caro Emmanuel nos trouxe a mensagem que nós, os companheiros da reunião, desejaríamos, se possível, ver publicada com as suas anotações, para complementarmos as nossas reflexões.
Emmanuel
1 Vez em vez, somos interpelados por amigos domiciliados na Terra que perguntam se será realmente válido o crescimento da Civilização. E acentuam que as engrenagens do progresso material passam no mundo a lembrar mandíbulas de gigante triturando existências e deixando vasto sulco de lágrimas.
2 Considerando, porém, o progresso por lei da vida, é mais razoável ponderar quanto ao imperativo de nossa habilitação espiritual para recebê-lo.
3 Nenhuma forma de vida permanece estática nos domínios do Universo. Tudo vibra e tudo se transforma com vistas ao aperfeiçoamento incessante.
4 A lei da evolução é irreversível. Entretanto, é justo observar que não surgem vantagens sem preço.
5 O Criador determina facilidades para a vida e elevação das criaturas, mas não exime essas mesmas criaturas do dever de usufruí-las com responsabilidade para o bem próprio.
6 O automóvel é concessão divina, através da criatividade humana, para abreviar providências, encurtando distâncias.
7 Impossível, no entanto, que a dádiva não esteja controlada pelos regulamentos do trânsito, em cujo desrespeito o Espírito dos beneficiários é corrigido nos resultados da própria imprevidência.
8 A força elétrica elimina numerosos problemas, relacionados com rendimento de trabalho, preservação, eficiência, saúde e bem-estar, mas não pode ser culpada pelos acidentes em que se envolve, quando não seja protegida e manejada com o respeito de quantos se lhe fazem favorecidos.
9 Os aparelhos domésticos economizam o esforço dos braços; entretanto, reclamam esforço mais amplo do cérebro nos domínios da atenção evitando-se calamidades dentro de casa.
10 Computadores ganham tempo mas exigem estudos complexos, para não perturbar as operações da inteligência prejudicando a comunidade.
11 O conflito entre progresso e segurança não decorre da máquina e sim do homem que a mobiliza, toda vez que se mostre sem a necessária conscientização para o trabalho.
12 Não acuses o Céu porque o Céu te beneficie na Terra.
13 Recebe os recursos da Civilização com o apreço que se deve à Providência Divina que os promove em auxílio à Humanidade.
14 Nos eventos difíceis, reverenciemos os princípios de causa e efeito que nos regem os destinos, mas não nos esqueçamos da lei de renovação, em bases de amor aos semelhantes, capaz de superá-los.
15 E quando o desastre porventura apareça, examina criteriosamente o mecanismo das circunstâncias que o produziram, e muito raramente não encontrarás a imprevidência ou o desequilíbrio do próprio homem por trás dele.
Irmão Saulo
Todos querem progredir, mas se esquecem de que o progresso tem o seu preço. O operário que sobe a um cargo de chefia paga essa elevação com o aumento da sua cota de responsabilidade. O homem ignorante, que adquire saber, assume novos compromissos perante a coletividade. A civilização que se desenvolve cria novas necessidades para si mesma e tem de supri-las com redobrado esforço. A evolução humana é acompanhada do desenvolvimento técnico e exige do homem maior controle de si mesmo.
A habilitação espiritual do homem para enfrentar o progresso foi proposta por Jesus nos princípios evangélicos. Desde o início do impulso do progresso que o Cristianismo deu ao nosso mundo, a carta de habilitação nos foi posta em mãos. Nela aprendemos a necessidade básica de amor ao próximo, de desapego aos bens terrenos, de orar e vigiar para que as tentações não nos empolguem; de tomar consciência da fragilidade humana e da responsabilidade do Espírito, como ser imortal, diante das leis de Deus.
A lei de causa e efeito age em nosso destino como exigência de nossa própria evolução. Mas a lei do amor está em nós como providência divina que nos permitirá superar os efeitos negativos. O amor dissolve o mal. Quem ama repara voluntariamente as faltas do passado. Se a lei de renovação nos impele ao pagamento de pesados compromissos, o amor é o tesouro de que dispomos para adiantar esses resgates. Podemos pagar com amor o preço do progresso, ao invés de nos submetermos por negligência à cobrança compulsória.