O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Diálogo dos vivos — Autores diversos — F. C. Xavier / J. Herculano Pires


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 Como agir?

Francisco Cândido Xavier


Antes das tarefas espirituais da noite, com vários amigos que nos visitavam a instituição, comentávamos as circunstâncias em que tantas vezes nos vemos impossibilitados de fazer o que desejamos, no que se refere à prática do bem.

Em muitas ocasiões somos constrangidos por nossos deveres a dar o que nos exigem em alto nível de quantidade, quando só possuímos muito pouco. Em ocasiões outras a experiência nos pede atitudes de tolerância que, de momento, não somos capazes de mostrar de todo, a fim de não favorecer a perturbação.

Às vezes queremos dar tempo e alegria aos outros, sem conseguirmos faze-lo senão em escala mínima, de modo a não criar dificuldades e inquietações em outras pessoas. Como agir nesses casos?

Explanávamos sobre o assunto quando o horário nos chamou à reunião doutrinária. Abertos os estudos da noite, O Evangelho Segundo o Espiritismo nos ofereceu a exame os itens 5 e 6 do capítulo XIII, ( † ) contendo a lição do óbolo da viúva. Feitos os comentários por diversos irmãos, ao término da reunião o nosso caro Emmanuel trouxe-nos pela psicografia a página Melhor Assim.




 MELHOR ASSIM


Emmanuel


1 Terá soado o momento de tua cooperação, no amparo a outrem, e efetivamente estimarias entregar o máximo de ti, segundo as circunstâncias, mas se não podes dar, na medida dos teus desejos, cede a migalha que possuis, de vez que será melhor ofertar o mínimo de que dispões que te recusares ao benefício, cerrando as portas do amor aos semelhantes.

2 O desafio à humildade terá surgido à frente e decerto surpreenderias razão para grande prazer com a capacidade de revelar compreensão angélica, diante daqueles que te examinam a evolução espiritual; no entanto, se não consegues fazer isso, não escondas esse ou aquele pequenino gesto de tolerância, porque será mais justo articular apagado impulso de entendimento que desertar do concurso fraterno, dando pasto à agressividade exagerada, perante ofensas e pedradas que, no fundo, não passam de manifestações de enfermidade ou desequilíbrio no comportamento alheio.

3 Caso não desfrutes a oportunidade de empenhar um dia de serviço aos irmãos mais necessitados do que nós mesmos, quando se te faça possível, oferece uma hora em favor deles, porquanto será mais proveitoso mobilizar alguns minutos na execução das boas obras que te omitires, junto delas, gelando a confiança e o ideal do bem nos irmãos de experiência e caminho.

4 Na ocasião em que não te vejas capaz de testemunhar alegria, nos instantes de crise, sem outro recurso senão aquele de exteriorizar um sorriso pobre, em auxílio de teu ambiente pessoal, será mais valioso esse pobre sorriso que qualquer palavra menos feliz tendente ao mergulho no desespero, agravando os problemas dos que te cercam, a esmolarem apoio e compreensão.

5 Ampara o bem dos outros, na garantia do teu próprio bem.

6 E quando não possas entregar o máximo qual desejas e tanto quanto se espera de ti, oferece o mínimo ao teu alcance, porquanto a ausência do melhor que se possa realizar é uma brecha ao pior talvez por surgir; e, por isto mesmo, o mínimo de bem será sempre uma luz dissipando as trevas que se adensam constantemente onde não há bem nenhum.




 DESAFIO À HUMILDADE


Irmão Saulo


Somos constantemente desafiados no campo de lutas da vida. A expressão de Emmanuel, definindo a situação em causa como um desafio à humildade, exige maior atenção de nossa parte. A pobre viúva no Templo de Jerusalém, vendo os ricos depositarem grandes somas no cofre, segundo a parábola evangélica, foi desafiada na sua humildade. Mas respondeu ao desafio de maneira positiva, depositando ali a sua ínfima contribuição.

De outra feita, após o Sermão do Monte, os apóstolos de Jesus foram desafiados na sua humildade pela multidão faminta que reclamava alimentos. Podiam omitir-se quando o Mestre lhes pediu o que levavam no bornal, alegando a insuficiência de seus recursos. Mas não vacilaram em entregar os poucos pães e peixes da merenda pobre que Jesus multiplicou para saciar a fome do povo.

Muitas vezes somos desafiados pelos que pedem socorro exibindo necessidades que não podemos atender. Mas se formos humildes poderemos dar pelo menos um pouco para aliviar a miséria. E se dermos o nosso pouco pensando no Mestre, talvez ocorra de novo o milagre da multiplicação. Porque, se dermos em espírito, estaremos dando mais do que o simples óbolo material.

O mesmo acontece em relação às dores, aflições e sofrimentos alheios. Quantas vezes somos procurados por pessoas que sofrem dores tão profundas que não temos recursos para cobrir aquele abismo de angústias. Mas se elevarmos o pensamento ao Mestre e dermos o que nos for possível, talvez nossas palavras, embora inseguras e descoloridas, possam levar ao sofredor o bálsamo do entendimento e da consolação. Em nossa vaidade desejaríamos proferir palavras milagrosas, mas em nossa humildade é que realmente poderemos produzir o milagre do socorro divino.

O desafio à humildade é também um convite à fé. Se conhecermos a nossa fragilidade e a nossa pobreza, conhecemos também o poder e a riqueza de Deus. Não é justo querermos resolver por nós os problemas alheios, quando não resolvemos os nossos. É vaidade e pretensão querer mostrar uma superioridade que não possuímos. Mas se tivermos humildade para reconhecer o que somos e fazer apenas o que podemos, nosso óbolo material ou moral será como o da viúva: pesará mais que o dos ricos.


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