1 Recebi o seu pedido,
Prezado amigo Antenor,
Você deseja saber
O que pensamos do amor.
2 Falarei do amor terrestre,
Não daquele que conduz
Nossa vida e pensamento
Para a união com Jesus.
3 É verdade que não tenho
Direito algum que me assista;
Por isso, exponho a você
Meu simples ponto de vista.
4 Conforme acredito hoje,
Nos pobres estudos meus,
O amor na totalidade
É a natureza de Deus.
5 No entanto, pelo que vejo,
Quanto ao que sinto e ao que faço,
O amor é Deus em nós todos…
Cada qual tem um pedaço.
6 De tudo, porém, que amamos,
Até quanto conhecemos,
Quanto menos possessão
Maior a porção que temos.
7 O amor, quando chega, alcança
Nossa vida rotineira,
Parecendo o orvalho à noite,
Quando cai na laranjeira.
8 Mas é preciso cuidado
Por dentro do coração.
Toda afeição caprichosa
Traz grande perturbação.
9 Quando a pessoa faz isso,
Lá se vai a luz do bem:
Carinho vira paixão
Que não dá paz a ninguém.
10 Olhe a história de Quinota:
Dizia adorar Lineu,
Porque o moço quis a prima,
A coitada enlouqueceu.
11 Delfim perseguindo Joana
Que, de fato, o não queria,
Atirou sobre o pai dela
E acertou Dona Maria.
12 Joaquim namorava Zélia;
A paixão nele era fogo…
Quando viu Zélia doente,
Colou-se à Tina Diogo.
13 Antônia clamava sempre
Que amava Zeca Vilaça,
Mas Zeca perdeu as pernas
E Antônia sumiu da praça.
14 Recorde o que sucedeu
Com Camilo Felisberto,
Desprezado por Joaquina,
Matou-se com tiro certo.
15 O amor, na Terra, em verdade,
Pode ter grande aconchego,
Mas para viver em paz
Não deve ter muito apego.
16 O amor, enfim, vem de Deus,
Mas se em nós vira paixão,
Parece cousa de louco
Ou trama de obsessão.
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