1 Querido papai, peço a bênção.
2 Estou escrevendo com o auxílio de minha vó Luíza.
3 Estou na escola aprendendo. Isso tem um ano inteiro. Só para escrever ao senhor e à minha mãe pedindo para ficarem tranquilos.
4 Não sei explicar como é isto, mas cresci bastante. Penso estar na idade da Sandrinha, porque não tenho tido muita dificuldade para aprender aqui.
5 Papai, eu vi como choraram. Fiquei tão assustada quando minha vó me levou em casa e ninguém me reconhecia.
6 Chorei também muito, mas estou numa escola onde nos ensinam a confiar em Deus.
7 Minha vó e as professoras diziam: “Flavinha, você não pode chorar mais.” E explicavam que o senhor e minha mãe, com minha avó Ana, choravam porque me viam em lágrimas.
8 Custei a entender, papai, que a saudade foi nos dois lados da vida.
9 Um dia, falei com vó Luíza que o senhor e mamãe estavam separados de mim por um rio de lágrimas, porque ouvia o que falavam, me chamando, e gritava respondendo, sem que me ouvissem.
10 Minha avó achou graça no que eu dizia, mas me falou que é assim mesmo. Para não sofrer assim, só se nós não tivéssemos tanto amor.
11 Agora, papai, tudo está melhorando. Mamãe e o senhor estão com muita fé em Deus e isso me auxilia muito.
12 Tenho até ficado por algumas horas em nossa casa de São Caetano, quando vó Luíza vai trabalhar com o senhor e minha mãe no serviço de Jesus pelos outros.
13 A Sandra tem me visto algumas vezes mas faço força para que isso não aconteça para que não se assuste.
14 Papai, peço a você e mãezinha continuarem fortes na confiança em Deus. Não pensem que o sarampo se agravou por descuido.
15 Já fui esclarecida que meu tempo em casa deveria ser muito ligeiro, e por isso não nasci com os pulmões muito resistentes.
16 Acho, papai, que estive com o senhor e com mamãe para que um canteiro de saudades fosse cultivado entre nós. Por essas flores, parece que ficamos mais perto da caridade e vó Luíza me diz sempre que a caridade é a presença de Jesus.
17 Creio que vou compreender muita coisa que sinto e não sei interpretar. Peço ao senhor e mamãe continuarem fortes e felizes.
18 Nossa Sandrinha e nossa Ana Luíza ficaram e precisamos espalhar alegria para que todos os nossos estejam contentes.
19 Peço a Deus recompense minha vó Ana e meu avô Francisco pelas preces e pensamentos de carinho que me enviam sempre.
20 Vejo muitos parentes nossos, mas eles falam e não me lembro muito dos nomes todos. Mas, vó Luíza me explica as coisas. De um deles, não posso esquecer, o que diz ser meu avô Canzi, protetor de mamãe.
21 Outros me ajudam, mas não tenho facilidade para reter tudo o que vejo aqui. Vó Luíza, eu conheci porque foi ela quem me retirou do leito.
22 Acordei, pensando naquilo que eu via sem saber explicar, mas minha avó me abraçou e me disse que descansasse. Prometeu trazer minhas bonecas e falou que eu não estava assim tão longe…
23 É tanta coisa para contar que não vejo o jeito de seguir. Estou, como disse, numa escola, mas a casa mesmo onde estou é o lar da minha vó Luíza que me conta o tempo em que também trazia o senhor, em pequeno, nos braços.
24 No princípio ela contou-me muitas coisas para me ver tranquila e acreditei em tudo o que ela me disse, porque minha vó tem o carinho do senhor e o carinho de mamãe nos braços quando me guarda. Ela está comigo e pede ao senhor lembrar dela só nas horas de alegria e de paz em que foi mãe feliz pelos filhos queridos que Deus lhe deu.
25 Papai, agora vou parar. Estou com o senhor e mamãe nas tarefas de caridade. Na casa em que o tio Tullio e tia Nice trabalham, vou sempre em sua companhia.
26 Quero dizer que estou aprendendo na escola não somente ler e escrever mas também a tratar dos pequeninos que chegam aqui assustados e doentes.
27 Temos muitos amigos e muitas distrações, muitas preces e muitos cânticos, mas não vi pequenino algum que chegasse diferente de mim, sem sentir falta dos pais e dos irmãos.
28 Papai, eu queria dizer tantas coisas mais e não posso. Agradeço ao senhor e à mãezinha tudo o que fazem para me ajudar.
29 Papai, o senhor e mamãe auxiliem as outras crianças — as outras, quando digo, são aquelas que andam no mundo precisando de proteção.
30 Papai, estou bem, peço não chorarem mais. Um beijo à Sandrinha e outro em Ana Luíza. Muitas lembranças para vó Ana e o senhor com mamãe recebam todo o amor e todo o carinho da filhinha do coração
Flavinha.
(Página recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em reunião pública do Grupo Espírita da Prece, na noite de 19.09.1975, em Uberaba, Minas Gerais).
Esclarecimentos
Flávia Canzi Biondi
Desencarnou no dia 6 de julho de 1972.
Pais: Pedro Biondi e Margarida Canzi Biondi.
Vó Luíza: Luíza Biondi, avó paterna, desencarnada em 21/02/1950. Carta mediúnica de sua autoria integra o livro Vivendo Sempre, de Francisco Cândido Xavier e Espíritos Diversos. (Ed. IDEAL, S. Paulo, 1ª ed., 1981.)
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