25|03|1942
1 Prezados irmãos Clóvis e Aurélia,
Rogo a Deus lhes proporcione o conforto de Sua divina luz!
2 Aqui me encontro para lhes manifestar a amizade de sempre. Graças ao Pai celestial, minhas tempestades se amainaram. Brando alívio seguiu-se às minhas sombrias dores de outros tempos e apenas agora vejo a pequenez de minha alma, outrora cheia de blasfêmia e revolta ante a grandeza da Providência Divina. Até que descubramos a estrada justa, quantas lágrimas vertidas!
3 Não conhecerão vocês, na existência humana, outra riqueza maior que a de se prepararem para a Eternidade com a luz de tão sublimes conhecimentos! Os homens do interesse mundano costumam ser grandes cegos de espírito, que mais tarde defrontam, fatalmente, o abismo onde me despenhei no regresso das lutas materiais.
4 Deste lado da verdadeira vida reconhecemos que nenhuma verdade existe mais luminosa que esta, porém, entre as paredes dos fluidos terrestres, nossa vida é atormentada por singulares desequilíbrios. A preocupação do bem-estar, do dinheiro, da evidência social opera em nossa alma profundos desastres invisíveis no mundo terreno, mas são francamente observados na vida real, onde os nossos maiores sofrem com a intensidade de nossas fraquezas. É o engano trágico da maioria das criaturas! Iludidas pela fantasia de conforto, descem aos pântanos mais escabrosos, supondo-se em elevações brilhantes e definitivas…
5 Tudo não passa, porém, de meros aparatos do mergulho na indiferença a Deus e no esquecimento dos deveres mais sagrados que Jesus nos confiou. Como observam, meus caros, venho estudando igualmente a ciência da vida espiritual, copiando o impulso de vocês dois. Tenho me esforçado com vigor, a fim de buscar algo dessa luz que não se apaga nos corações. Com essa tarefa, sinto que posso ser mais útil à Miquita n e às filhinhas.
6 Às vezes, os velhos enganos ameaçam-me a alma sensível. Os fantasmas do sofrimento erguem-se na estrada vulgar, mas reconheço agora que Jesus me ajuda a cerrar a porta do coração à sua passagem, e dentro de mim somente permanece o bom desejo do auxílio santo, com o olvido de todas as questões que vão ficando à distância de nossa atração para os caminhos iluminados em busca de Deus.
7 Espero, meu caro Clóvis, que você e Aurélia descansem satisfatoriamente nos próximos dias, até que se verifique o término do período da licença-prêmio. Essa licença foi uma compensação que vocês utilizaram muito mais em serviço de nossos generosos velhinhos que mesmo no proveito próprio. Mas podem crer que todos os devotamentos do lar são sublimes ofertas a Jesus!
8 O nosso venerável e santo amigo bem merece a nossa dedicação! Suas mãos generosas sempre estiveram prontas ao abraço de amor consagrado a todos… Se mais fizéssemos, meus amigos, não chegaria para a retribuição de um terço da nossa dívida geral de afeição e devotamento, da qual o generoso Marechal é um credor dos mais ricos e tolerantes que conheço. n
9 Amigos espirituais nossos, meus caros irmãos, vêm auxiliando a vocês na luta pelo restabelecimento integral do equilíbrio orgânico. Não faltam a Clóvis os passes reconfortadores e salutares que lhe têm feito imenso bem. Que Deus o abençoe e proteja em todos os dias da vida!
10 Ainda preciso muito do auxílio de vocês. Não será para o momento que passa, entretanto, creio que não se demorarão muitos anos para a minha volta… Peço, então, a vibração fraternal de vocês para que seja auxiliado na escolha de futura tarefa a cumprir. 11 Muito lhes agradeço por tudo que têm feito pelos meus, que são os nossos do coração. Jesus recompensará os queridos irmãos com as suas bênçãos de vida e de luz, concedendo-lhes vastas possibilidades de alegria e ventura!…
12 Renovo a vocês os meus votos de muita saúde e paz no período de descanso em curso, bem como os melhores e mais sinceros agradecimentos de meu coração.
O amigo reconhecido e irmão de sempre,
Gomide n
Notas da organizadora:
[1] Miquita era esposa do Espírito comunicante, Gomide, irmã de Clóvis, casado com minha tia Aurélia Amorim.
[2] Em referência ao Marechal Feliciano Mendes de Moraes. Era pai de Clóvis e de Miquita, sogro, portanto, do comunicante. Clóvis, cunhado do comunicante, padeceu, nesta encarnação, por longo tempo, de distúrbios neurológicos.
[3] Conforme nota anterior, Gomide era cunhado de Clóvis.