1 Querida mãezinha Vilma,
Eu já sei que a Senhora
regressou inda agora
de Alagoinhas
para saber notícias minhas.
É isso o que acontece
nos tormentos do amor
mesmo que a gente esteja
na Vida Superior.
2 Onde a gente se veja
sem aquela criatura que se ama,
sente-se o peito em chama
em sofrimento atroz…
Creio hoje mamãe,
que isso sucede sempre
com todos nós.
3 A Senhora bem sabe
que preciso marcar
a querida vovó
nossa Maria de Souza,
e a fim de enviar-lhe agora o meu carinho
em meu longo caminho,
não desejo outra cousa.
4 Bahia é Piracicaba,
Piracicaba é Bahia,
é um amor que não se acaba
o amor de vovó Maria.
Graças a Deus é assim,
todos os corações
na família querida
alimentam-me a vida
em se voltando para mim.
5 Sinto não merecer
tantas vozes de afeto e de ternura,
vejo-me agradecida;
entretanto, a secura
que ainda me assinala
é uma tristeza-triste,
dessas que não se sabe como surge
e também como existe.
6 Estou admirada
com a sua coragem para vir
de tão longe, mamãe,
para que o nosso encontro
fosse assim qual estrela
a brilhar e a subir
no céu de nossos pensamentos…
7 E pode acreditar
que eu também para vê-la
ausentei-me a correr do novo lar
que me abriga no Além,
unicamente respondendo
aos seus apelos maternais
que vão se repetindo e repetindo,
até que a sua filha,
por mais se oculte na floresta
do meu trabalho novo,
já não suporta mais
essas longas ausências!
8 Ah! Mamãe, as nossas próprias existências
assemelham-se a plantas geminadas,
que não mais vivem separadas
por mais que se lhes dê
proteção e carinho.
9 Pode crer a Senhora
que se o seu coração luta,
se aflige e chora,
padeço também eu…
Admito por mim,
que só Deus poderá definir
esta doce simbiose
em que ambas vivemos…
10 Apenas no porvir
no imenso Céu sem fim
conseguiremos penetrar
tudo aquilo de anseio e de esperança
que trazemos em nós.
11 Sinto que a sua voz
completa quando digo
e se penso nesse ou aquele passo,
ei-la comigo
vivendo minha ideia em pleno Espaço.
12 Prossigamos fazendo
nesse ou naquele nível
todo o bem aos irmãos da lágrima e da prova
que nos seja possível,
porque hoje mamãe, a Caridade
é o nosso ponto em luz
para os nossos ajustes de saudade,
em marcha de alegria
a fim de que nos surja o novo dia
da Perfeita União…
13 Sei também que a senhora,
preferiu a mudança,
de Rui Barbosa para Alagoinhas,
entretanto, mãezinha, não se esqueça
de que na Terra, em qualquer parte,
temos dor-de-cabeça…
14 Peço-lhe ao coração
continuarmos juntas na missão
que vem a ser o doce aprendizado
da nossa vida com Jesus,
entendendo mamãe, seja onde for,
que é preciso doar do que tenhamos
um pouquinho de amor
aos que lutam em dores e problemas
muito mais graves do que os nossos.
15 Auxilie a meu pai
a seguir sempre adiante,
sem deixar de ser onde se veja,
nosso belo gigante
de trabalho e alto compromisso.
16 Não desejo encontrá-lo,
em perguntas e ócios.
Deixe-o, mamãe, cuidar de seus negócios
que o farão sempre mais forte, calmo e útil,
papai precisa disso.
17 Ao nosso Luizinho,
o abraço de ternura
da irmã que o procura
por refúgio de paz e de bondade,
conquanto a estreita idade,
em que nosso querido Luizinho ainda se vê
e diga, por favor, ao nosso caro João,
que observo e bem sei
que ele estima correr
qual o vento que passa…
18 Entretanto, que o mano não olvide
que é princípio de lei
o Quilômetro Oitenta
quem se disponha a procurar o Oitenta e Um
que se saiba afrontando
os desastres infelizes
que vão formando, terra em terra,
triste lugar comum.
19 Estimaria tanto ajudar
aos queridos irmãos,
entretanto, não posso ultrapassar
os meus próprios limites…
20 A vida é disciplina,
ordem por segurança
e ninguém foge sem dano
de quanto estabelece
a Bondade Divina
em nosso próprio apoio…
21 Muitas lembranças para o Ageu
o irmão que o Céu me deu
para conforto e querer bem…
Ao Paulinho,
espero que o Senhor
possa dar-lhe ao caminho,
novos projetos de Ventura.
22 E cultivando, mamãe, a prece benfazeja,
espero que assim seja.
Graças a Deus, a Virna
sente-se liberada
e, percorrendo nova e bela estrada,
será sempre feliz.
23 Nesta carta de agora
peço ainda à Senhora
transmitir à vovó — nosso anjo Dulcina —
sempre o amor presente,
que continuo sendo
sempre a sua menina.
24 E porque não desejo exceder-me
em lápis e papel,
beijo-lhe o coração,
mamãe lembrada e querida,
força de minha vida
continuando a ser
aqui, agora e sempre,
a sua companheira,
a sua filha para vida inteira,
sempre alegre e feliz por pertencer-lhe
ao belo coração
que tenho por morada
de todos os meus sonhos
de luz e perfeição.
25 Muitos beijos, mamãe, da sua filha,
de sua filha em ânsias sempre iguais,
entendendo que o amor no mundo que lhe devo
é santa obrigação que me cabe cumprir,
agora e no porvir.
Cada vez sempre mais.
Sempre a sua Cristiane.
Cristiane Rodrigues de Moraes.
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