1 Alma querida, às vezes, choras
Na rotina que acolhes por dever
Pelo fio das horas
Que o relógio te aponta
No que tens a fazer.
2 É a profissão que te reclama tempo,
É o lar, pedindo-te atenção,
Através de pequenos compromissos,
E o tempo voa
Qual dádiva do Céu que passa em vão.
3 Mas a rotina inclui outros problemas:
É o carinho de alguém que chega de improviso,
É o amigo que vem
Recordar quanto é preciso
Trabalhar para o bem.
4 É o parente que chega para confidências,
Largou-se do trabalho por minutos,
Num estreito intervalo.
Fala das provações que está sofrendo
E faz-se imprescindível confortá-lo.
5 E o dia passa nas tarefas
E nos encontros com que não contavas…
O Sol se foi e eis que a sombra se inclina
Por toda a casa e ouço-te o lamento:
— “Como é triste a rotina!”
6 Entretanto, alma irmã, ainda hoje,
Pude cumprimentar pessoas generosas
Aturdidas por amargura imensa…
Desejam trabalhar mas não conseguem,
Algemadas ao peso da doença.
7 Acompanhei equipes de visita
Aos irmãos que tateiam livros, vasos, flores,
Segregados em rude solidão…
Anseiam abraçar amigos que aparecem
Mas estão cegos da visão.
8 Diversos companheiros vi, de perto,
Mostrando no silêncio
Raciocínios agudos…
Pretendem dialogar, trocando ideias,
Entretanto, estão mudos.
9 Abeirei-me de muitas criaturas
Em estradas e ermos esquecidos
Aguardando o socorro que não vem…
Recordam com saudade os entes que mais amam
E não surge ninguém!…
10 Reflete nos irmãos, em grandes provas,
Que vivem sem a mínima esperança,
Da esperança que adoça os dias teus…
E, louvando a rotina que te guarda,
Rende graças a Deus!…
Maria Dolores
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