| 1 O templo engalanava-se de luz.
Era uma festa em honra de Jesus.
2 As rosas pareciam joias solitárias,
Emoldurando extensas luminárias.
As flores do recinto eram doce fragrância
E os crentes demonstravam cimos de elegância.
3 No átrio, de onde se via o edifício repleto,
Eis um guarda a exclamar: “Sou um homem correto;
Pobres aqui não entram. Sou mandado.
Tenho as prerrogativas de um soldado.
Não quero ouvir pessoas descontentes,
A festa de Jesus não comporta indigentes.”
4 Certos grupos de damas mal vestidas
Carregavam crianças em feridas.
O chicote do guarda agitou-se no escuro
E ele disse: “Aqui hoje não pode haver monturo.”
5 Mas aparece, ali, família desolada
Que traz consigo jovem obsedada.
Ela profere frases sem respeito
E a mãezinha lhe diz com carinho e com jeito:
— “Cala-te, minha filha; esperemos a paz…”
O obsessor cruel exclama: “Para trás!
Sou das trevas e não suporto a luz,
Não queremos a fé, nem queremos Jesus…”
O guarda conduziu todo o grupo ao recanto,
Enquanto a mãe dizia, a desmandar-se em pranto:
“Quem nos trará, oh! Céus, a bênção do Senhor
Se não temos aqui acolhimento e amor?!…”
6 Das filas da pobreza, um moço desliza,
Vem à jovem que sofre e fala em voz amiga:
— “Posso tentar algum socorro agora?”
— “Tente, senhor!” — rogou a mãezinha que chora.
Quando o estranho, porém, se aproxima de todo,
O verdugo infeliz se atira ao chão de lodo
E brada: — “Sai daqui, Messias Nazareno,
A fim de injuriar-te eu não me desordeno.”
7 Calmo o moço lhe pediu: — “Oh! deixa a menina.
Acomodado à treva, o ódio te domina!…”
A entidade infeliz saiu, desesperada…
Logo o moço tocou a jovem desmaiada…
Ela acordou, beijando a mamãe com desvelo,
Qual se livrasse, ali, de horrível pesadelo.
8 Entre os pobres se ouviu enorme gritaria…
O salvador da moça quem seria?
9 O povo discutia tudo o que sucedeu..
No entanto, o herói da noite desapareceu…
Maria Dolores
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