1 Sofres, alma querida, os contratempos
Do dever a cumprir… O anseio, a prova,
O medo, a incompreensão, a insegurança…
E isolas-te no lar, cuja paz te renova.
2 Quando a tristeza te procure a vida,
Não te acomodes sob o desalento…
Ouve os irmãos do mundo que te buscam,
Marcados de fadiga e sofrimento.
3 Venho de minha ronda costumeira…
Numa choça de latas e bagaços,
Vi pobre mãe, a sós, ninando em pranto
Um filho morto nos seus próprios braços.
4 Num telheiro a cair, encontrei um velhinho…
Ele viu-me e falou em voz sumida e mansa:
— “Moça, eu estou morrendo a pedir quem me faça
Uma prece de paz e de esperança…”
5 Mais adiante, achei um hanseniano amigo
Que, em me vendo, clamou: — “Minha irmã, por quem és,
Dá-me água, por Deus! Já não mais me equilibro!…
Quero buscar o poço e caíram-me os pés…”
6 Logo após, descobri triste mulher enferma,
Erguendo, quase morta, a seguinte oração:
— “Meu Deus, além do amparo que me envias,
Se possível, Senhor, dá-me a bênção de um pão…”
7 Por isso, coração, não te dês à amargura,
Esquece-te a servir, sem perguntar a quem…
O Cristo que buscamos nos espera,
Entre leiras de amor, na plantação do bem.
Maria Dolores
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