Maria Dolores
1 Indagas, muita vez, alma querida,
Como apagar ofensas,
Conforme ensinas, crês, queres ou pensas
No perdão por dever…
Fita o mundo em que moras,
Todo bem que se faz ou que se imortaliza
Conserva por divisa:
Renovar e esquecer.
2 A noite cria a escuridão que aflige
Pelo fardo das sombras exteriores,
Mas eis que surge a aurora e canta em cores,
Saudando o novo dia a renascer…
Nada recorda as trevas dissipadas,
O Sol fulge nos lares onde estamos,
Não longe louvam pássaros nos ramos:
Renovar e esquecer.
3 O grande rio abaixa-se de todo
Para abraçar os córregos da serra
E colhe humildemente os detritos da terra,
A servir e a correr;
Por mais que se lhe atire pedra e lodo à face,
Não revida, não chora, não blasfema,
Segue espalhando amor, sustentando por lema:
Renovar e esquecer.
4 No mar, a tempestade grita em fúria…
A nave mais potente, a mais ampla e veloz,
Recorda simplesmente uma casca de noz
Em férrea luta por sobreviver…
Depois a paz do Céu derrama-se no abismo,
O torvelinho cessa, a estrada é mansa
E a maré balbucia a oração da esperança:
Renovar e esquecer.
5 Assim também, se amados te esqueceram,
Se pelos bens, que aguardas e produzes,
Recebes tão somente as lágrimas e as cruzes
De provas que te fazem padecer,
Desculpa, serve, ampara, ama e auxilia
E encontrarás enfim, por mais triste ou cansada,
A clara voz de Deus, lembrando-te na estrada:
Renovar e esquecer.
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