O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Continuidade — Familiares diversos


1

Laura Maria Machado Pinto

ESCLARECIMENTOS


Nascimento: 14 de janeiro de 1949. Desencarnação: 22 de julho de 1982. Idade: 33 anos.

Esposo: Henrique Pinto — Av. Engº Luiz Carlos Berrini, 991, São Paulo — SP.

Patrícia de Fátima Machado Pinto — Filha. Cursava o 1.º Grau no Ginásio Nossa Senhora Aparecida; em Moema e Ballet na Izabel Schmidt Ballet. Desencarnada no acidente.

Maria Beatriz Machado Pinto — Filha. Cursava o primeiro colegial no Ginásio Nossa Senhora Aparecida, Moema. Desencarnada no acidente.

Zélia Aparecida Lana Fontes — Formada em Enfermagem. Desencarnada no acidente.

João Evangelista Lana — Fazendeiro, pai de Zélia. Desencarnado no acidente.

Vó Carmela — Carmela Curia, materna de Henrique, desencarnada em 1949.

Carlos Fontes Filho — Esposo de Zélia A. Lana Fontes.

Tio Domingos — Domingos Aloi, tio de Henrique, desencarnado em 1950.

Mãezinha Maria — Maria Piconi Machado, mãe de Laura Maria.


COMENTÁRIOS


O que dizer a um homem que perdeu toda a sua família aqui na Terra, quando o seu lar florescia em felicidades!

O que dizer! Vejamos como lhe aconteceu.

Afim de aproveitar o fim de férias escolares em julho, Dona Laura Maria Machado Pinto, acompanhada das filhas e mais a afilhada de casamento Zélia Aparecida Lana Fontes, (casada há 90 dias com Carlos Fontes Filho, sócio de Henrique Pinto), dirigiram-se à fazenda do pai de Zélia, Sr. João Evangelista Lana, em São Sebastião do Paraíso — Sul de Minas.

Já na fazenda, o Sr. João Evangelista, sugeriu visitarem parentes na cidade de Cássia, onde chegaram no dia seguinte.

Posteriormente, também passeando, dirigiram-se à cidade de Franca em visita a outros parentes, onde ficaram até o dia 22 de julho de 1982.

Nesse mesmo dia, por volta da 20:30 horas, em noite de luar, resolveram retornar à fazenda em São Sebastião do Paraíso e; tomando rumo de Batatais, pela Rodovia Cândido Portinari, aconteceu o inesperado.

Na altura do quilômetro 12, defronte ao Clube Esportivo e Recreativo de Franca, no lugarejo conhecido por Restinga, um caminhão da cidade de Nuporanga colidiu frontalmente com o automóvel dirigido por Dona Laura onde se encontravam as cinco pessoas.

O choque foi inevitável e, com a sua violência, o tanque de combustível da Brasília, por estar cheio, explodiu e tudo instantaneamente virou cinzas.

O marido e pai Henrique Pinto, aconselhado por Dona Yolanda Cezar, resolveu conhecer Chico Xavier. Algumas visitas foram feitas até que, numa delas, foi recebida a linda mensagem.

A fé e a esperança em Chico Xavier eram muito grandes.

O recebimento dessa mensagem foi como um bálsamo. Passou a não se sentir tão só como dantes.

Palavras do Sr. Henrique Pinto:


“Passei por momentos terríveis, indesejáveis a qualquer ser humano. Foram dois meses de martírio. Tive a impressão de que o mundo desabara sobre minha cabeça.

A mensagem trouxe-me calor, ânimo e vida.

Passei a não me sentir mais só.

Deixei de lado as intenções de acabar com tudo, inclusive com minha própria vida.

Hoje, com toda essa experiência de vida, sou feliz.

Às famílias que passaram por esses momentos, coloco-me ao inteiro dispor para, com palavras confortadoras, tentar reanimá-las.

É difícil concebermos tais acontecimentos, mas de uma coisa podemos ter certeza:

Nenhuma porta é fechada por Deus, sem que uma infinidade de outras sejam abertas.

Para mim ficou mais claro que tudo na Terra é efêmero: Tudo o que é do homem se acaba, menos o amor de Deus que é Infinito.

As novas portas que se abriram me permitiram novos horizontes e me deram outras razões para viver. Pude crer que há mil verdades entre a vida e a morte, e que somos uma migalha no imenso Universo. Por isso, só temos que viver com amor no coração, sem motivos para orgulho, vaidade e tolices humanas.

O homem espera paz, união entre os seus e motivo de amor para continuar vivendo. A mensagem me deu tudo isso.

Tive coragem de me reerguer, de constituir nova família e viver com alegria e prazer entre os que agora me abrigam.

Cultivo com todos que agora convivem comigo, um ambiente altamente sadio, alegre e cheio de esperança. Trabalho com dedicação inteiramente voltado à minha nova família, carregando a minha cruz com dignidade.

Força maior para viver, dão-me agora, minha atual esposa, Marilda Aloi Pinto e minha filhinha, Marianna Aloi Pinto, nascida em 22.10.1987.”


MENSAGEM


1 Henrique, é muito difícil escrever depois de tamanhas provações.   2 Isso ocorre porque de um lado é a dor fixada de modo irremovível e de outro a transformação amarga na essência, mas sempre configurando a promessa de melhores dias.

3 Compreendo o seu sofrimento que é o nosso, entretanto, estaria consolada com o reconforto que você pudesse articular, adentro de você mesmo, em nosso benefício. Nossas lágrimas se entrelaçam, nossas tribulações ainda não diminuíram. 4 Ainda assim, muito embora traga o coração partido pela saudade e pela angústia daquele acontecimento que as palavras não descrevem, peço a você coragem e fé em Deus. Endereço este mesmo apelo à mãezinha Maria e ao Carlos que nos acompanham.

5 Seria faltar com a verdade informar que nos achamos bem, qual se houvéssemos atingido São Paulo numa viagem feliz. Aquela tempestade concentrada de opressão que nos retirou do corpo foi algo de espantoso que a mente humana ao que acredito, não consegue conceber.

6 Seguíamos respirando o ar puro da estrada, conversando com as crianças, quando fomos colhidos pelo peso irresistível de ferro e fogo que nos consumiu a existência física em rápidos minutos.

7 Creiam vocês que não houve lugar para a dor, porque as aflições reunidas numa só invasão de assombro e sofrimento, nos deixou desorientados.

8 Tivemos instantes de lucidez, fora da vestimenta corpórea, no entanto, a Providência Divina jamais nos abandona. 9 Lá mesmo, ante a visão do campo aberto, uma equipe de enfermeiros nos aguardava. Aquilo nos fez pensar em preparação. 10 Agarradas comigo, as nossas queridas filhas Patrícia e Beatriz me tomavam a alma toda. 11 Gritos e lamentações surgiam, próximos de nós, no entanto, as ambulâncias que não conhecíamos nos recolhiam com pressa.

12 Zélia, como que aparvalhada, buscava em meus olhos alguma força que também a mim faltava, de todo, naquela hora em que unicamente a ideia de Deus me dominava os pensamentos.

13 O nosso amigo senhor João desmaiara e, ainda na inconsciência, as nossas pequenas atendendo-me aos pedidos se acomodavam nos veículos de socorro. 14 Não sei. Tive a impressão de que uma energia estranha a mim própria me resguardava numa couraça de metal impermeável, porque a noção de responsabilidade prevalecia por dentro de mim.

15 Uma fogueira que nos despojasse do corpo, deliberadamente, não nos faria tanto pânico. Uma espécie de pânico mortal, se pudéssemos dizer que penetrávamos num domínio em que a morte existisse.

16 Sentia-me exausta, com o cérebro tangido por alucinações de pavor que não conseguiria comunicar ao papel se o desejasse, me marcava todas as emoções, quando uma senhora de semblante simpático se abeirou de mim e notificou-me que o acidente imprevisível na Terra, fora anotado na Vida Espiritual antes de vir a ser e que ela estava junto de nós, com o fim de estender-nos mãos amigas.

17 Apesar do espanto que me arrasava diante daquele montão de cinzas e objetos fumegantes, ainda tive meios de perguntar-lhe a que vinha e quem era que com tanta bondade se interessava por nós. 18 Ela me informou ser a vovó Carmela, nome de que não me lembrava naquela hora de suplício de que ainda não nos desvencilháramos. Vovó Carmela! Fosse quem fosse, confiei-me àqueles braços que me estendiam carinho e proteção. Abracei-me a ela, a avó que naquele momento se me fazia plenamente desconhecida e só então consegui dar vazão às lágrimas que meu peito represava.

19 Querido Henrique, você pode imaginar o mundo de pensamentos contraditórios que me desabrochava no íntimo. Por quê? A interrogação me atormentava, no entanto, ambas as máquinas socorristas que nos amparavam se colocavam em movimento. A vovó Carmela se instalou ao meu lado e abrigou-nos as filhinhas então desacordadas.

20 Até ali os meus raciocínios se mostravam vigilantes. Não creio que isso acontecia em razão de forças de que eu mesma não dispunha.   21 Acontece que, por dentro de mim, os instintos de mãe falavam mais alto, o cansaço me envolvia de todo, mas o anseio de velar pelas filhas não me permitia o repouso.

22 Minha benfeitora falou do estranho poder materno de que Deus dotou a alma da mulher-mãe e me afirmou que o descanso me alcançaria tão logo visse as meninas devidamente protegidas e reconfortadas.

23 Entre o medo e a inconsciência, notei que retornávamos para as vizinhanças de Franca, onde um hospital de emergência nos recebeu.   24 Somente aí, ao ver que os nossos companheiros e as filhas queridas encontravam abrigo e apoio certos, é que consegui aceitar o repouso no leito improvisado que se me oferecia. 25 Entrei num torpor emoldurado de inquietação, pois, na realidade, eu mesma ignorava se éramos mortos-vivos, atingindo um local desconhecido para mim para o tratamento de que necessitávamos ou se éramos vivos-mortos com a possibilidade de regressar aos nossos lares. 26 Pensava em você com insistência, queria vê-lo, reclamava-lhe a presença, no entanto, agradecia também a Deus a sua ausência daquele conflito de forças em movimento que nos havia esmagado. 27 Não era justo desejar que você ali estivesse, simplesmente, por egoísmo de minha parte, suportando conosco aquela travessia de sofrimento e perplexidade inenarráveis.

28 Então, pude chorar, a sós, de verdade. Não poderia sustentar qualquer ilusão. Estávamos numa vida diferente, arrancados todos de nosso corpo físico, a pancadas e chamas que não gastaram senão momentos rápidos para nos expulsarem do mundo.

29 Penso que a Infinita Bondade de Deus manipula recursos de amparo, qual se fosse constituída por braços mágicos. Fôramos conduzidos para lugar de silêncio e misericórdia.

30 Admito que não suportaria ver você, chorando por mim, desconhecendo em que cinzas se me consumira a identidade pessoal. Refletindo na sua agonia espiritual, diante do que restava de nós, deixei que as lágrimas ensopassem as vestes alvas do pouso em que me estirara.

31 Mãos devotadas ao Bem me alcançaram e me transmitiam brandos anestésicos para mim invisíveis e, logo após, achei o caminho indeterminado do sono em que me prostrei não sei por quanto tempo. 32 Mais tarde, acordei para reconscientizar-me de tudo o que nos ocorrera, encontrando suficientes energias para chorar mais intensamente.

33 A vovó Carmela e outras afeições se encarregavam de consolar-nos. Nós, os adultos, para logo entramos no conhecimento do acidente de que nos retiráramos tão despojados de tudo, como quando nascemos na Terra.

34 Somente a Patrícia e a Beatriz indagavam de nossa volta para casa e os nossos diálogos se acentuaram até hoje, de maneira a recolhermos esclarecimentos precisos sobre a desencarnação, assunto sobre o qual, habitualmente, na Terra não se pensa, conquanto a fatalidade de semelhante encontro com as realidades que nos presidem a vida.

35 Nossa situação prossegue desse modo até hoje, porque você compreenderá que dois meses é tempo demasiadamente curto para se medir o tamanho de acontecimentos tão dolorosos.   36 Ainda assim, venho até aqui amparada pela vovó Carmela e por um benfeitor que se nos deu a conhecer por irmão Domingos, a fim de rogar a você e à mamãe, tanto quanto a todos os nossos, conformação e coragem. 37 Zélia nos recomenda transmitir idêntica solicitação ao Carlos, porquanto ambas pedimos a vocês dois para tolerarem as dificuldades do momento, procurando viver e renovar o próprio caminho.

38 Querido Henrique, você sabe que eu não entregaria você a ninguém, no sentido de me substituir junto ao seu coração de esposo dedicado e amigo, entretanto, neste outro lado da vida, é impossível que o nosso amor deixe de ser amor verdadeiro e o amor verdadeiro pede forças para afirmar-lhe que, depois do aguaceiro de pranto, outras alvoradas surgirão. Você está moço e não nasceu para uma vida de experimentações e desequilíbrios.

39 O lar tão nosso não foi destruído. Permanece o sustentáculo de tudo o que tínhamos e fomos, que é você. Pense comigo, amado companheiro, na imposição de um retorno à realidade humana. Não digo que você se apresse através de deliberações sugeridas pela dor que ainda nos pressiona os sentimentos.

40 Entretanto, busque tranquilizar-se afim de meditarmos com acerto. Semelhante comportamento é igualmente o meu, agora em que me vejo na contingência de rogar a Deus nos auxilie a vê-lo reintegrado em sua vida normal de homem de bem. 41 Não nos percamos da fé e estejamos conscientes de que as circunstâncias oportunamente nos trarão alguém que me ampare, amparando a você, como se faz preciso. 42 Você não nos perdeu, querido esposo, apenas viemos antes. Você, porém, ainda tem muitas realizações a promover no bem dos outros.   43 Que você e o nosso amigo Carlos não admitam a ideia da morte. Compreendemos que a formação cristã que nos levantou os sentimentos de confiança para a vida não nos aprova a inspiração do suicídio direto, mas temos muitas formas indesejáveis de deserção voluntária, como seja o esquecimento de nosso interesse pela vida. 44 Não julgue que a sua Laura Maria estivesse desagregando o afeto que lhe consagra num estranho processo de indiferença. É que existem momentos, entre a existência no corpo e a morte reconhecida, nos quais as nossas almas são obrigadas a uma opção humana e cristã perante os entes adorados que deixamos.

45 Muito mais justo, continuar amando a você qual se lhe fosse outra mãe carinhosa e atenta, junto de outra companheira que lhe amenize os dias terrestres, do que observá-lo em delírio, afrontando as Leis de Deus, a pretexto de buscar-nos para um reencontro que se faria então mais remoto, pela insubmissão a Deus e à vida em que pretenderia alicerçar-se. 46 Você sempre me ensinou equilíbrio e compreensão, quando o ciúme rondava de longe o meu zelo por sua paz. Agora, isso deve ser mais forte em minha alma de esposa repentinamente transformada mas não destruída. Apresento-me perante você e diante de minha mãe a fim de confirmar-lhes que estou de acordo com os preceitos de Deus e não segundo os meus desejos.

47 Querido Henrique, perdoe-me se me exponho, assim, nestas palavras, nas quais procuro reerguer-lhe as forças. Acontece que amo a você com a dedicação de todos os dias e não se me faria possível dizer-lhe o que afirmo, sem o misto do carinho humano que precisa ceder ao carinho espiritual. Minha mãe saberá entender-me. E o mesmo acontecerá ao nosso amigo Carlos, para quem a nossa Zélia espera igualmente um dia novo.

48 Querido Henrique, quando você conversar comigo, muitas vezes, visualizando-me os retratos e as imagens, especialmente à noite, quando a solidão se nos faz mais amiga, quando isso ocorra, não chore tanto… As suas lágrimas me caem no coração, queimando-me os sentimentos. 49 Lembre-se de mim e me auxilie, mas prometa-me que viverá e será forte, diga que confiará em Deus e no tempo e que estamos decididos a acatar as provas que nos foram reservadas. 50 Anime-se reanimando-me. Ainda preciso de suas forças para me escorarem a vida. Deus nos auxiliará. Tenho disso a certeza. 51 Nossas filhinhas estarão conosco. Crescerão aqui, amando a você cada vez mais, qual me acontece. Se voltarão à Terra mais cedo, talvez até mesmo para pousarem nos seus braços paternos, ao modo de aves saudosas do ninho que você nos ofertou, ainda não sei. Mas tudo se fará com a proteção de Jesus, cujo amor ilimitado nos guarda a todos.

52 A nossa Zélia agradece à mãezinha Laura as vibrações e preces de bondade e proteção com que a reconforta e eu agradeço à querida mamãe as orações com que nos acompanha. Não posso especificar os meus agradecimentos porque teria de alongar-me indefinidamente. 53 Querido Henrique, auxilie-me com a sua coragem e envie-me os seus pensamentos de esperança para que eu saiba aceitar as ocorrências como são e como devem ser. Saiba que estarei com você em quaisquer momentos da vida e em todos os empreendimentos novos que você seja induzido a realizar.

54 Abençoe-me com as suas energias positivas de homem de bem e receba todo o coração da esposa e hoje companheira maternal que deseja ser para você o apoio e a compreensão de que ambos necessitamos para ser mais felizes. Em você e com você todo o carinho, com as muitas saudades e esperanças da


Laura Maria.


Rubens S. Germinhasi


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