(Jogral comemorativo dos sessenta e cinco anos de mandato mediúnico de Chico Xavier)
1. — Narrador: O “Centro Espírita Amigos na Dor”, de Boa Esperança, Estado de Minas Gerais, pede licença para, humildemente, levantar sua voz inexpressiva e fazer coro ao grande concerto mundial que comemora os sessenta e cinco anos de mandato mediúnico de Chico Xavier.
O “Amigos na Dor” será a nota dissonante que completa o acorde maravilhoso de um mundo que se rejubila com a obra gigantesca e sublime desse vulto que aí está, à nossa frente, debilitado fisicamente, mas cheio de vida espiritual, de amor, ternura, compreensão.
Vozes: Afinal, quem é esse homem?
2. — Narrador: É alguém que não se limita a cumprir com a obrigação assumida perante a própria consciência, mas que o faz com indizível dose de alegria cristã e devotamento indelimitável. Sua existência se desenvolve num plano de absoluta espiritualidade, infensa às solicitações de ordem material, que constituem o ideal da vida moderna.
Vozes: É um homem suspenso no Infinito!
3. — Narrador: Mas, agora, vamos falar de um menino pobre.
Duas vozes: Ele veio ao mundo no dia 2 de abril de 1910.
4. — Narrador: Filho de operário inculto e humilde lavadeira, até os cinco anos de idade, quando ficou órfão de mãe, foi um menino como outro qualquer, mas estava escrito que aí começaria seu sofrimento. Era preciso que ele passasse pelo crisol da maldade humana para que a Humanidade penetrasse em seu coração generoso e o acompanhasse até o fim, moldando seu caráter, fortalecendo sua vontade, tecendo as malhas da sua estrutura espiritual, preparando os canais por onde iria fluir, mais tarde, a grande obra que lhe estava reservada. Quando sua mãe desencarnou?
Vozes: Em 29 de setembro de 1915.
5. — Narrador: Seu pai se viu na contingência de entregar alguns dos seus nove filhos aos cuidados de pessoas amigas, e o menino pobre ficou com sua madrinha, mulher obsidiada, irritadiça, que o maltratava cruelmente.
Vozes: E ele sofreu, ele chorou, ele morreu mil vezes para viver em nós, a fim de que pudéssemos viver dentro dele.
6. — Narrador: Mas ele, o menino triste, não estava só.
Vozes: Um anjo de Deus, que fora sua mãe na Terra, o assistia em seus momentos de angústia, de desespero, quando, desarvorado, orava lá nos fundos do quintal.
A mãe: Tenha paciência, meu filho! Você precisa crescer mais forte para o trabalho. E quem não sofre não aprende a lutar.
Menino: Mas minha madrinha diz que eu estou com o diabo no corpo!…
A mãe: Que tem isso? Não se incomode. Tudo passa e, se você tiver paciência, Jesus ajudará para que estejamos sempre juntos.
Menino: Mamãe, não me deixe aqui! Leve-me com a senhora!… Estou apanhando muito com vara de marmelo. Veja minha barriga como está toda ferida dos garfos que ela me finca!…
A mãe: Não posso, meu filho, mas sempre que você orar aqui, eu virei ajudá-lo com os meus conselhos. Não reclame. Tudo isso acabará um dia!…
7. — Narrador: E, desde então, o menino triste apanhava calado, sem chorar. Diariamente, à tarde, com os vergões na pele e o sangue a correr-lhe em delgados filetes do ventre, o pequeno seguia, de olhos enxutos e brilhantes, para o quintal, a fim de reencontrar a mãezinha querida sob as velhas árvores, vendo-a e ouvindo-a, depois da oração.
Uma tarde, na hora da prece, sua mãe desencarnada apareceu-lhe e perguntou-lhe o motivo da tristeza que via em seu semblante magro.
Menino: Então, a senhora não sabe? Tenho passado fome… e já não aguento mais…
A mãe: Continue orando e espere um pouco.
8. — Narrador: Sua mãe desapareceu, mas o menino triste continuou orando.
Coro em surdina:
“Pai nosso que estais nos céus,
Na luz dos sóis infinitos,
Pai de todos os aflitos,
Neste mundo de escarcéus!”
7. — Narrador: De repente, um cão penetrou no quintal e deixou cair da boca um objeto escuro. Era um jatobá. Então, a voz de sua mãe ecoou no coração do menino triste, como uma música divina…
A mãe: Misture o jatobá com água e terá um bom alimento. Como vê, meu filho, quando oramos com fé viva, até um cão pode nos ajudar, em nome de Jesus!
Vozes: Graças a Deus! Graças a Deus!
Todas as vozes: Graças a Deus!
8. — Narrador: Um dia, o menino triste, que há dias não chorava, caiu em prantos na hora da oração. A mulher que o criava sob varadas de marmelo e espetadelas de garfos, estava exigindo dele maior sacrifício.
A bruxa: (riso de bruxa) Ah, ah, ah, ah, ah, ah! Chame a benzedeira, chame a benzedeira pra rezar a ferida na perna do Moacir.
9. — Narrador: Moacir era um outro filho adotivo da mulher má, um rapazinho de 12 anos.
Bruxa: Reza essa ferida danada, que não quer sarar! Benzedeira: Ferida ruim assim e tão catinguda só pode curar com simpatia.
Bruxa: Que simpatia é essa?
Benzedeira: É lambida de criança, três sextas-feiras seguidas. Bruxa: Este diabinho serve?
Benzedeira: Quantos anos? Bruxa: Uns cinco…
Benzedeira: Tá muito magro, mas serve.
Bruxa: Então, ele começa amanhã, que é sexta-feira. (riso de bruxa) Ah, ah!
Menino: Minha madrinha vai me obrigar a lamber a ferida, mamãe.
A mãe: Você deve obedecer, meu filho. Seu sofrimento vai acabar. Dentro de pouco tempo, um anjo bom virá cuidar de você e seus irmãozinhos. Não contrarie sua madrinha. Seja humilde. Se você cooperar, teremos a paz que necessitamos para preparar o remédio que vai curar a ferida do menino, e seu sacrifício não será em vão.
Vozes: E ele lambeu a ferida. Três sextas-feiras seguidas!
10. — Narrador: Dois meses depois, acabou seu martírio. Seu pai casou-se novamente e sua madrasta, alma boa e caridosa, o recolheu carinhosamente, a ele e a todos os irmãos que estavam espalhados.
Madrasta: Você sabe quem sou eu?
Menino: Sei, sim! A senhora é o anjo bom que minha mãe falou que me mandaria!…
Vozes: E o menino triste, desde então, passou a ser um menino alegre.
11. — Narrador: No seu novo lar, junto ao pai, à boa madrasta e a seus irmãos, todos viviam felizes, apesar da pobreza da família.
Vozes: A situação era difícil. .A guerra acabara e grassava a gripe espanhola.
12. — Narrador: O salário do chefe da família dava escassamente para o necessário e os meninos precisavam estudar.
Vozes: Não havia dinheiro para cadernos, livros, lápis…
13. — Narrador: Então, a boa madrasta teve uma inspiração.
Madrasta: Plantaremos uma horta, venderemos os legumes.
Menino: A senhora pode contar comigo!
14. — Narrador: Em algumas semanas, o menino alegre já estava na rua com o cesto de verduras.
Menino: Olha a couve!
Todas as vozes: Alface, almeirão, repolho!
15. — Narrador: De tostão em tostão, conseguiram encher o cofre.
Madrasta: Estão vendo o valor do serviço? Agora já poderão frequentar as aulas!
Todas as vozes: E foi assim que, em janeiro de 1919, o menino alegre começou o ABC.
16. — Narrador: Com a saída do chefe da casa e dos filhos mais velhos para o trabalho, e com a ausência das crian4as, na escola, a boa madrasta era obrigada, às vezes, a deixar a casa a sós, porque devia buscar lenha à distância.
Vozes: Aí, surgiu um problema.
17. — Narrador: Certa vizinha, vendo a casa fechada, ia ao quintal e colhia as verduras.
Vozes: Sem verdura não haveria dinheiro para as despesas com a escola.
18. — Narrador: Preocupada, a dona da casa, que não queria ofender uma pessoa amiga por causa de repolhos e alfaces, e não encontrava uma solução, lembrou-se da vidência do menino alegre.
Madrasta: Meu filho, você diz que, às vezes, encontra o espírito de sua santa mãe. Peça-lhe um conselho. Nossa horta está desaparecendo e sem ela não poderemos sustentar o serviço escolar.
19. — Narrador: À tardinha, o menino alegre foi ao quintal e rezou como fazia sempre que queria ver e conversar com sua mãe.
Vozes: Contou-lhe as dificuldades e pediu ajuda.
Mãe: Diga à sua boa madrasta que, realmente, não devemos brigar com os vizinhos. Será aconselhável que ela dê a chave da casa à amiga que vem talando a horta, sempre que precise ausentar-se, porque, desse modo, a vizinha, ao invés de levar os legumes, ajudará a tomar conta deles.
Vozes: A vizinha não mais tocou nas hortaliças, porque passou a responsabilizar-se pela casa inteira.
20. — Narrador: De novo reunido à família, e tudo em paz, o menino alegre, fosse porque tivesse retornado à tranquilidade ou porque houvesse ingressado na escola, não mais viu sua genitora com tanta frequência. Mas passou a ter sonhos.
Vozes: À noite, levanta-se do leito, agitado, conversa com interlocutores invisíveis. Desperta pela manhã, contando peripécias de pessoas mortas — coisas que ninguém podia compreender!…
21. — Narrador: Então, seu pai resolveu levá-lo ao vigário de Matozinhos que, depois de ouvir o menino perturbado, em confissão, recomendou que o garoto não lesse jornais, revistas, livros…
Padre: Ninguém volta a conversar depois da morte. É o demônio que está perturbando você, meu filho.
Menino: Mas, padre, minha mãe também conversa comigo!…
Padre: É o demônio.
Vozes: O menino perturbado refugiou-se, chorando, nos braços da madrasta, criatura piedosa e compreensiva.
Madrasta: Não chore, meu filho, ninguém pode dizer que você está sendo perseguido pelo demônio. Se forem realmente Espíritos que vêm conversar com você, naturalmente isso acontece porque Deus permite.
22. — Narrador: Percebendo que ninguém dava crédito ao que via e escutava em sonhos, certa noite rogou, em lágrimas, à sua mãe, que o ajudasse, que lhe explicasse o que deveria fazer.
Mãe: Não se exaspere, meu filho. Sem humildade é impossível cumprir uma boa tarefa.
Menino: Mas, mamãe, ninguém acredita em mim!…
Mãe: Que tem isso?
Menino: Mas eu digo a verdade!
Mãe: A verdade é de Deus e Deus sabe o que faz.
Menino: Não sei se a senhora sabe… papai e o padre estão contra mim. Dizem que estou perturbado…
Vozes: Mole da cabeça…
Mãe: Modifique seus pensamentos. Você é ainda uma criança, e uma criança indisciplinada cresce com a desconfiança e a antipatia dos outros. Não falte ao respeito para com o seu pai e para com o padre. Eles são mais velhos e lhe desejam todo o bem. Aprenda a calar-se. Quando lembrar alguma lição ou experiência recebidas em sonho, fique em silêncio. Não diga nada a ninguém. Se for permitido por Jesus, então, mais tarde virá o tempo em que você poderá falar. Por enquanto, precisa aprender a obediência, para que Deus, um dia, conceda ao seu caminho a confiança dos outros. Se Jesus permitir, mais tarde estaremos juntos. Não perca a paciência e espere.
23. — Narrador: Acordando em prantos, o menino indeciso enxugou os olhos, resignado.
Vozes: E durante 7 anos consecutivos, de 1920 a 1927, o menino resignado não mais teve qualquer contato com sua mãe.
(sons de igreja)
Vozes: Ia à missa, confessava, comungava e acompanhava as procissões.
24. — Narrador: Levantava-se às seis horas da manhã para começar as tarefas escolares às sete horas.
Vozes: Das três da tarde às onze da noite, trabalhava na fábrica.
25. — Narrador: Em 1923, terminou o curso primário, no Grupo. Em 1925, deixou a fábrica para se empregar na venda do Sr. José Felizardo Sobrinho, onde o trabalho ia das seis e meia da manhã às oito da noite.
Vozes: Com o salário de treze cruzeiros por mês.
26. — Narrador: Entretanto, continuaram as perturbações noturnas. Depois de dormir, caía em transe profundo.
Vozes: Andava pela casa, falava em voz alta, conversava com pessoas falecidas…
27. — Narrador: Em 1927, uma sua irmã caiu doente.
Vozes: Era um caso de obsessão.
28. — Narrador: Um casal de espíritas,
Vozes: José Hermínio Perácio e D. Carmem Pena Perácio.
29. — Narrador: ambos reunidos com familiares da doente, realizaram a primeira sessão espírita que teve lugar naquela casa. Na mesa, dois livros:
Vozes: “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e o “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec.
30. — Narrador: Pela mediunidade de D. Carmem, manifestou-se a mãe do jovem sofrido, que psicografou:
Mãe: Meu filho, eis que nos achamos juntos novamente. Os livros à nossa frente são dois tesouros de luz. Estude-os, cumpra com seus deveres e, em breve, a bondade divina nos permitirá mostrar a você seus novos caminhos.
31. — Narrador: E assim realmente aconteceu. Desde então, o menino pobre, o menino triste, o menino alegre, o menino indeciso, o menino resignado e jovem sofrido iniciou o caminho que o tornaria conhecido no mundo inteiro como:
Todas as vozes: (gritando) Chico Xavier!
32. — Narrador: Foi D. Rosália a primeira e única professora de Chico que descobriu sua mediunidade psicográfica. Fazia passeios campestres com os alunos que deveriam, no dia seguinte, levar-lhe uma composição, descrevendo o passeio.
Vozes: A composição de Chico sempre tirava o primeiro lugar!
33. — Narrador: Desconfiada, D. Rosália, um dia, fez o passeio mais cedo e, na volta, sentenciou:
Professora: Hoje, vocês vão fazer suas composições aqui mesmo, na minha presença. Vamos lá, escrevam suas impressões.
Vozes: Novamente, Chico detém o primeiro lugar, escrevendo uma verdadeira página literária sobre o amanhecer e daí tirando conclusões evangélicas.
34. — Narrador: D. Rosália mandou os alunos para casa e foi mostrar aos seus amigos íntimos a composição de Chico. Todos foram unânimes em reconhecer que aquilo, se não fora copiado, então…
Vozes: era dos Espíritos!
35. — Narrador: Chico contava 17 anos e era feliz, quando sua segunda mãe, de repente, adoece e desencarna. Antes do desenlace, porém, chamou-o à beira do leito e fez-lhe um pedido:
D. Cidália: Meu filho, quero que você me prometa continuar com a casa e não permita que seus irmãos sejam novamente entregues a estranhos.
36. — Narrador: O jovem prometeu. Empregou-se na venda do Sr. Juca, com o salário de 60 cruzeiros por mês e foi tocando pra frente. O dinheiro era pouco, mas com Deus era muito.
Vozes: Dava para as despesas e ninguém passava fome.
37. — Narrador: Aprendera a cozinhar e, ajudado por sua irmãzinha, conservava em dia o expediente do lar. Mas forças negativas começaram a perseguir seu patrão, dono do pequeno armazém de secos e molhados. Diziam:
Vozes: Ele protege um feiticeiro que fala com os espíritos!
38. — Narrador: Vencido pelas circunstâncias, Sr. Juca faliu, ficando o médium desempregado. Foi então que Chico entrou para o Funcionalismo Público, como simples datilógrafo, na Fazenda Modelo, do Ministério da Agricultura, distante 6 quilômetros da cidade. E ali,
Três vozes: no seio de uma natureza festiva, de um sol sempre vivo e acariciante, sob um dossel de nuvens garças, afagado por uma brisa leve e benfazeja, sentindo a música dolente dos pássaros livres e felizes, brincando descuidadamente.
39. — Narrador: É ali que Chico demonstra sua admiração pela natureza.
Vozes: Ama até as pedras e os montes pensativos. Vê em tudo poesia e oração, lições num grande livro aberto.
40. —Narrador: Trata as árvores como irmãs, com graça e doçura. Compreende como poucos a alma do grande todo.
Vozes: Sente tudo, humaniza as coisas, ouve a voz do silêncio…
41. — Narrador: Para ele, as águas falam e ele as entende. A cachoeira marulhenta e a quietude profunda dos rios têm semelhança com as criaturas. Um raio de luz, uma carícia, um inseto que voeja lhe prendem a atenção, fazem-no pensar e lhe provocam sorrisos nos lábios e fulgurações nos olhos vivos, ternos e mansos.
Vozes: Em tudo vê poesia e vida, verdade e luz, beleza e amor.
42. — Narrador: E, acima de tudo,
Todas as vozes: a presença de Deus!
43. — Narrador: Seu maior desejo era ter um quarto seu, com uma janela toda de vidro para ele poder ver o céu à noite.
Vozes: Cheio de estrelas!
44. — Narrador: Sentir os mundos que estão rolando pelo infinito, como lenços a nos acenar, a nos chamar e pedir que lutemos para os merecer.
Vozes: Precisamos olhar menos para a Terra e mais para o céu, porque o silêncio do céu é mais eloquente que todas as vozes humanas!
45. — Narrador: Em 1927, foi fundado o Centro Espírita Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo, sediado na residência de José Cândido Xavier, que se fez presidente da entidade. As reuniões se realizavam às segundas e sextas-feiras.
Vozes: Muita gente, muito entusiasmo, muita promessa!
46. — Narrador: Então, quando reinava grande euforia chegaram, vindos de Pirapora, D. Rita da Silva, com quatro filhas obsidiadas, e um irmão, tio das doentes. As moças, em plena alienação mental, tinham tremendas crises de loucura.
Vozes: Mordiam-se umas às outras, gritavam, blasfemavam!…
47. — Narrador: O espírito de D. Maria João de Deus, a santa genitora de Chico Xavier, explicou, pela mão do filho:
Mãe: Meus amigos, temos desejado o trabalho e o trabalho nos foi enviado por Jesus. Nossas irmãs doentes devem ser amparadas aqui, no Centro. A fraternidade é a luz do Espiritismo. Procuremos servir com Jesus!
48. — Narrador: Isso aconteceu numa noite de segunda-feira. Quando chegou a reunião de sexta-feira, Chico Xavier e seu irmão José Cândido estavam sozinhos, em companhia das obsidiadas.
Vozes: Ninguém mais compareceu.
49. — Narrador: Mas o tratamento foi feito e continuou alguns meses, até a cura completa. Uma noite, porém, em que José Cândido teve de ausentar-se a serviço, pediu a um homem rústico e bom — que residia a pouco tempo de Pedro Leopoldo, e que o povo dizia ser muito experimentado em doutrinar Espíritos das trevas — que fosse ajudar Chico no tratamento das obsidiadas.
Vozes: Sr. Manoel aceitou o convite e, na hora aprazada, compareceu ao Centro, com uma Bíblia debaixo do braço.
50. — Narrador: A sessão começou, eficiente e pacífica. Um dos espíritos amigos, por intermédio do médium, deu a orientação ao Sr. Manoel:
Espírito: “Meu irmão, quando o obsessor infeliz apossar-se do médium, aplique o Evangelho com veemência”.
Sr. Manoel: Pois, não! A vossa ordem será cumprida.
51. — Narrador: E, quando a primeira das entidades perturbadoras se incorporou no médium, Sr. Manoel tomou a Bíblia e bateu com ela, muitas vezes, na cabeça de Chico, exclamando:
Vozes: Tome Evangelho! Tome Evangelho!
52. — Narrador: O obsessor, sob a influência de benfeitores espirituais da casa, afastou-se de imediato e a sessão foi encerrada.
Vozes: Mas Chico esteve seis dias de cama, para curar dolorosa torção no pescoço.
53. — Narrador: E, ainda hoje, afirma satisfeito:
Chico: Sou, talvez, uma das poucas pessoas no mundo a levar uma surra de Bíblia!
(sons de igreja)
54. — Narrador: Um dia, um dos missionários católicos que visitavam Pedro Leopoldo falou, de púlpito:
Padre: Esse médium espírita deve ir para o Inferno.
Vozes: Foi um reboliço!
55. — Narrador: Chico, que frequentara a Igreja desde a infância, ficou muito chocado. À noite, na reunião costumeira, ele diz ao espírito de sua mãe:
Chico: Estou muito triste, o padre me xingou muito!
Mãe: Que tem isso? Cada pessoa fala daquilo que tem ou daquilo que sabe.
Chico: Mas ele me mandou para o Inferno!…
Mãe: Ele o mandou para o Inferno, mas você não vai! Pronto. Fique na Terra mesmo!
56. — Narrador: Em 1931, quando Chico passou a receber as primeiras poesias de “Parnaso de Além Túmulo”, um cavalheiro de Pedro Leopoldo, muito impressionado com os versos, resolveu apresentar o médium e os poemas a certo escritor mineiro, de passagem pela cidade.
Vozes: O filho de João Cândido vestiu a melhor roupa que tinha e, com a pasta de mensagens debaixo do braço, em companhia do amigo, foi ao encontro marcado.
Homem: Este é o médium de quem lhe falei!
57. — Narrador: O escritor leu sonetos de Augusto dos Anjos.
Vozes: Poemetos de Casimiro Cunha, quadras de João de Deus…
58. — Narrador: E, depois de rápida leitura, sentenciou:
Escritor: Isso tudo é bobagem! Esse rapaz é uma besta! Homem: Mas, doutor, o rapaz tem convicção e abraça o Espiritismo como doutrina!…
Escritor: Pois, então, é uma besta espírita!…
59. — Narrador: Desapontado, o médium despediu-se. Em casa, durante a oração, sua mãe apareceu.
Chico: A senhora viu como fui insultado?
60. — Narrador: E como a entidade parecesse alheia ao assunto, o filho contou-lhe o caso.
Mãe: Não vejo insulto algum. Creio até que você foi muito honrado. Uma besta é um animal de trabalho.
Chico: Mas o homem me chamou de besta espírita!
Mãe: Isso não tem importância! Imagine-se como sendo uma besta a serviço do Espiritismo. Se a besta não dá coices, converte-se num elemento valioso e útil. Você não acha que é bem assim? Chico: É, pensando bem, é isso mesmo!…
Monitor: Címbalos quando Emmanuel fala. Som de marimba quando a mãe fala. Som de bongô quando a benzedeira fala. Risadas de bruxa quando a madrinha fala. Sons de igreja quando o padre entra. Fundo musical para o soneto. Efeitos especiais de luz.
(Emmanuel e a mãe falam ao microfone, com alto-falantes)
Vozes: (em surdina, cantando) — “No céu, no céu, com minha mãe estarei, no céu, no céu, com minha mãe estarei!..”
61. — Narrador: Em 1931, Chico acompanhava o enterro de um amigo, que desencarnara em Pedro Leopoldo, quando um padre lhe disse:
Padre: Chico, dizem que você anda recebendo mensagens do outro mundo!…
Chico: É verdade, reverendo. Sinto que alguém me ocupa o braço e se serve de mim para escrever!…
Padre: Tome cuidado! Lembre-se de que o espírito das trevas tem grande poder para o mal!…
Chico: Mas o espírito que se comunica somente nos ensina o bem.
62. — Narrador: O sacerdote retirou de um livro um papel em branco e desafiou:
Padre: Bem, Chico, estamos no Cemitério. Vejamos se há aqui algum espírito desejando escrever!…
63. — Narrador: O médium recebe o papel, concentra-se, sente o braço tomado por uma entidade e psicografa:
“Adeus”
O sino plange em terna suavidade
No ambiente balsâmico da igreja;
Entre as naves, no altar, em tudo adeja
O perfume dos goivos da saudade.
Geme a viuvez, lamenta-se a orfandade;
E a alma que regressou do exílio beija
A luz que resplandece, que viceja,
Na catedral azul da imensidade…
“Adeus, terra das minhas desventuras…
Adeus, amados meus”… — diz nas alturas…
A alma liberta, o azul do céu singrando…
Adeus… choram as rosas desfolhadas,
Adeus… clamam as vozes desoladas
De quem ficou no exílio, soluçando…”
Auta de Souza
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64. — Narrador: Nos fins de 1931, à tardinha, Chico Xavier orava sob uma árvore junto ao açude, pitoresco local na saída de Pedro Leopoldo, quando viu, à pequena distância, uma grande cruz luminosa. Pouco a pouco, dentre os raios que formava, surgiu alguém!…
(forte batida de címbalos)
Vozes: Era um espírito alto, simpático, de atraente e rara beleza!
65. — Narrador: Aproximou-se do jovem médium, com quem manteve longa conversação. Em certo ponto do diálogo, a entidade perguntou-lhe:
Emmanuel: Está você realmente disposto a trabalhar na mediunidade com o Evangelho de Jesus?
Chico: Sim, se os bons espíritos não me abandonarem. Emmanuel: Você não será desamparado, mas, para isso, é preciso que você trabalhe, estude e se esforce no bem.
Chico: E o senhor acha que estou em condições de aceitar o compromisso?
Emmanuel: Perfeitamente, desde que você procure respeitar os 3 três pontos básicos para o serviço.
66. — Narrador: E, porque o orientador se calasse, o rapaz perguntou: Chico: Qual é o primeiro?
Emmanuel: Disciplina.
Chico: E o segundo?
Emmanuel: Disciplina.
Chico: E o terceiro?
Emmanuel: Disciplina.
67. — Narrador: Feito o acordo, o espírito amigo despediu-se e Chico Xavier teve consciência de que para ele ia começar uma nova tarefa.
68. — Narrador: Foi este o primeiro contato do médium com seu guia espiritual, Emmanuel, a quem o Brasil inteiro admira e respeita. Senador romano na época de Cristo, encarnando a personalidade de Publius Lentulus, é fecunda sua obra de universalização do Evangelho, à luz do Espiritismo.
(címbalos: começam pianíssimo e vão crescendo)
69. — Narrador: Depois, várias entidades apareceram na sua estrada. As primeiras páginas da sua grande obra foram psicografadas.
Vozes: A fonte começou a jorrar e tornou-se, com o tempo, por graças de Deus, uma torrente de água pura, maravilhando-nos e dessedentando-nos.
70. — Narrador: Um dia, Chico levantara-se cedo e, ao sair de charrete para a Fazenda onde trabalhava, encontrou no caminho o Floriano.
Floriano: Sabe quem morreu, Chico?
Chico: Não, quem foi?
Floriano: O Juca, seu ex-patrão. Morreu na miséria, sem ter nem o que comer!
Chico: Coitado!
71. — Narrador: E Chico tira do bolso o lenço e enxuga os olhos.
Chico: A que horas é o enterro?
Floriano: Acho que vão enterrá-lo a qualquer hora, como indigente, no rabecão da Prefeitura.
72. — Narrador: Chico pensa um pouco e, emocionado, pede:
Chico: Floriano, me faça um favor: vá à casa onde ele desencarnou e peça para esperarem um pouco. Vou ver se lhe arranjo um caixão, mesmo barato.
73. — Narrador: Chico desce da charrete e manda um recado para seu chefe. Recorda seu ex-patrão, figura humilde de bom servidor, que tanto bem lhe fizera. E ali mesmo, no caminho, ora: Chico: Senhor, trata-se de meu ex-patrão, a quem tanto devo. Que me socorreu nos momentos mais angustiosos, que me deu emprego com o qual socorri minha família, que tanto sofreu por minha causa. Que eu lhe pague, em parte, a gratidão que lhe devo. Ajude-me, Senhor!
Vozes: Tirou o chapéu da cabeça, estendendo-o de porta em porta, pedindo uma esmola para enterrar o extinto amigo.
74. — Narrador: Daí a pouco, toda Pedro Leopoldo sabia do sucedido e estava perplexa, comovida com a humildade de Chico. Um mendigo cego, popular na cidade e que muito o estimava, esbarrou com ele.
Mendigo: Por que tanta pressa, Chico?
Chico: Desculpe, meu nego, estou pedindo esmolas para enterrar meu ex-patrão.
Mendigo: Seu Juca? Já soube que ele morreu. Coitado, tão bom!… Espere aí, tenho aqui algum dinheiro que me deram de esmola, ontem e hoje.
Vozes: E despejou no chapéu do Chico tudo o que havia arrecadado.
75. — Narrador: Com o dinheiro esmolado, comprou o caixão. Providenciou o sepultamento. Acompanhou-o até o cemitério. Regressando à casa, os irmãos e o pai observavam-no, comovidos. Vozes: Em prece muda, agradeceu a Deus.
76. — Narrador: Emmanuel apareceu-lhe sorridente e nada disse. O sorriso de seu bondoso guia dizia tudo.
Vozes: Ganhara o dia, pagara uma dívida e dera de si um testemunho de humildade, de gratidão e de amor ao Divino Mestre.
Vozes: Em meados de 1932, o Centro Espírita Luiz Gonzaga estava reduzido a um quadro de cinco pessoas:
José Hermínio Perácio, D. Carmem Pena Perácio, José Cândido Xavier, sua esposa D. Geny Pena Xavier e Chico.
77. — Narrador: Os doentes obsidiados surgiam sempre, mas, depois das primeiras melhoras.
Vozes: desapareciam como por encanto.
78. — Narrador: Por imposição da vida familiar, o casal Perácio precisou transferir-se para Belo Horizonte.
Vozes: O grupo ficou limitado a três companheiros.
79. — Narrador: Dona Geny adoeceu…
Vozes: E o Centro ficou apenas com os dois irmãos. Narrador: José, no entanto, era seleiro e naquela ocasião teve que trabalhar à noite para um credor que lhe vendia couros e que insistia em receber-lhe os serviços noturnos, numa oficina de arreios, em forma de pagamento.
Vozes: Vendo-se sozinho, o médium também quis ausentar-se.
80. — Narrador: Mas, na primeira noite em que se achou só, no Centro, sem saber como agir, Emmanuel apareceu-lhe:
(címbalos, forte)
Emmanuel: Você não pode afastar-se. Continue o serviço.
Chico: Continuar como? Não tem ninguém aqui para ouvir.
Emmanuel: E nós? Nós também precisamos ouvir o Evangelho para reduzir nossos erros… E, além de nós dois, temos aqui numerosos desencarnados que precisam de esclarecimentos e consolo. Abra a sessão na hora regular, estudemos juntos a lição do Senhor e não encerre a sessão antes de duas horas de trabalho.
81. — Narrador: E, assim, por muitos meses, de 1932 a 1934, Chico abria o pequeno salão do Centro e fazia a prece de abertura às oito horas da noite, em ponto. Em seguida, abria ao acaso “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e lia essa ou aquela instrução, comentando-as em voz alta.
Vozes: Só encerrava a sessão às 10 horas.
82. — Narrador: Por essa ocasião, sua vidência alcançou maior lucidez.
Vozes: Via uma porção de desencarnados sofredores que iam ali à procura de paz, ou eram levados por guias espirituais.
83. — Narrador: Chico ouvia-os e dava-lhes respostas sob a inspiração de Emmanuel. Quem passava na rua olhava desconfiado.
Vozes: Que homem maluco! Reza, conversa e gesticula sozinho!
84. — Narrador: E essas reuniões de médium a sós com os desencarnados, no Centro iluminado, de portas abertas, se repetiam todas as noites, de segunda a sexta-feira.
85. — Narrador: José e Chico possuíam um bonito cão, de nome Lorde.
Vozes: Era diferente dos outros cães.
Chico: Era meu inseparável companheiro de oração.
86. — Narrador: Todas as manhãs e noites, em determinadas horas, quando Chico ia para o quarto fazer suas preces, logo chegava o Lorde.
Vozes: Punha as patas sobre a cama, abaixava a cabeça e ficava em atitude de recolhimento.
Chico: Quando eu acabava de orar, ele também acabava, e ia deitar-se a um canto do quarto.
Vozes: Lorde parecia gente!
Chico: Em minhas preces mais sentidas, Lorde levantava a cabeça e enviava-me seus olhares meigos, compreensivos, às vezes cheios de lágrimas, como a dizer que me conhecia o íntimo, ligando-se a meu coração.
87. — Narrador: Um dia, desencarnou. Chico enterrou-o no quintal de sua casa, com um pedacinho do seu próprio coração.
Vozes: Os animais também têm alma e valem pelos melhores amigos!
88. — Narrador: Seu irmão José, que fora por muito tempo seu orientador e dirigia as sessões do Centro Luiz Gonzaga, adoeceu gravemente e desencarnou, deixando a ele o encargo de amparar a família. Dias depois, Chico verificou que seu irmão lhe deixara também uma dívida, pois esquecera de pagar a conta de luz, na importância de onze cruzeiros.
Vozes: Mas não havia dinheiro! Como faria ele para saldar aquela dívida inesperada?
89. — Narrador: Pensativo, sentou-se na soleira da porta de sua casa. Momentos depois, aparece-lhe Emmanuel.
(címbalos)
Emmanuel: Não se apoquente. Confie e espere!
(címbalos decrescendo)
90. — Narrador: Horas depois, alguém bate à porta. Era um senhor da roça.
Roceiro: O sinhô é o sô Chico Xavié?
Chico: Sim. Às suas ordens, meu irmão.
Roceiro: Soube que seu irmão José morreu e vim aqui pagá uma bainha de faca que ele feiz pra mim.
91. — Narrador: Chico agradeceu-lhe. Ficando só, abriu o embrulhinho que o roceiro lhe entregara. Dentro estavam onze cruzeiros!
Vozes: Para pagar a luz.
92. — Narrador: D. Josefina era uma senhora cega, muito estimada em Pedro Leopoldo e tinha verdadeira adoração pelo Chico.
Vozes: Seu maior desejo era que um dia ele jantasse com ela.
93. — Narrador: Marcado o dia, Chico compareceu. A mesa estava posta. Como convidado de honra, ele sentou-se à cabeceira. Dos lados, duas amigas de ambos, que também foram convidadas. Por ser pobre, D. Josefina fez apenas uma sopa de legumes. Emocionado com a homenagem da dona da casa, o médium foi tomando a sopa e conversando, quando, de repente…
Vozes: Vê uma barata preta no meio do prato!
94. — Narrador: Na repulsa do momento, Chico quis afastar o prato para o lado, ao mesmo tempo em que D. Josefina lhe perguntava: D. Josefina: Então, Chico, está gostando da minha sopa? Olhe que a fiz com muito cuidado e carinho, em sua homenagem!…
Chico: Está ótima, minha irmã. Sou-lhe muito grato pela sua bondade. Não mereço tanto!
95. — Narrador: E, para que ninguém visse seu achado, foi conversando e tomando a sopa!…
Vozes: Dona Josefina ria de contente!
96. — Narrador: Diante da alegria da irmã querida, que se sentia tão honrada, ele esqueceu-se da barata e começou a conversar animadamente, a contar casos e a comer. No fim, o prato estava vazio!
Vozes: Ele engoliu a sopa toda e a barata também! Narrador Era comum, antes da abertura das sessões, algum elemento mal informado provocar discussões acaloradas em torno da mediunidade. E o médium às vezes se irritava, tentando explicar, sem ser compreendido. Certa feita, o espírito de D. Maria João de Deus compareceu e aconselhou:
Mãe: Meu filho, para curar essas inquietações você deve usar a Água da Paz.
97. — Narrador: Satisfeito, o médium procurou o medicamento em todas as farmácias da cidade.
Vozes: Mas não o encontrou.
98. — Narrador: Recorreu a Belo Horizonte.
Vozes: Nada!…
99. — Narrador: Ao fim de duas semanas, comunicou a sua mãe desencarnada o fracasso da busca. Dona Maria sorriu.
Mãe: Não precisa viajar em semelhante procura. Você tem o remédio em casa mesmo. A Água da Paz pode ser a água do pote. Quando alguém o provocar com a palavra, beba um pouco de água pura e conserve-a na boca. Não a ponha fora, nem a engula. Enquanto perdurar a tentação de responder, guarde a Água da Paz, banhando a língua!…
Vozes: Ele compreendeu que sua mãe lhe dava uma lição de humildade e silêncio.
100. — Narrador: Depois do conselho da Água da Paz, o médium sentiu no braço a influência de um novo amigo invisível. Tomou o lápis e o novo visitante, Casimiro Cunha, escreveu:
Vozes:
Meu amigo, se desejas
Paz crescente e guerra pouca,
Ajuda sem reclamar
E aprenda a calar a boca.
101. — Narrador: Um dia, Chico levantou-se às oito horas da manhã. Estava atrasado. A charrete não o esperara e ele foi mesmo a pé para o escritório da Fazenda, caminhando apressadamente. Ao passar defronte à casa de Dona Alice, esta o chamou:
D. Alice: Chico! Estou esperando-o desde as seis horas. Quero que você me dê uma orientação.
Chico: Estou muito atrasado, Dona Alice. Logo mais, na hora do almoço, eu atendo a senhora.
102. — Narrador: D. Alice ficou triste, desapontada, olhando o jovem que retomara os passos ligeiros a caminho do serviço. Um pouco adiante, Emmanuel lhe diz:
Emmanuel: Volte, Chico, atenda à irmã Alice. Gastará apenas cinco minutos, que não irão prejudicá-lo!…
103. — Narrador: Chico volta e a atende.
D. Alice: Sabia que você voltava, conheço seu coração.
104. — Narrador: E lhe pedira explicações de como tomar determinado remédio homeopático que, por seu intermédio, lhe fora receitado pelo Dr. Bezerra de Menezes.
Vozes: Atendida, ficou toda contente!
D. Alice: Obrigada, Chico. Deus lhe pague. Vá com Deus!
105. — Narrador: Chico parte, apressado. Quer recobrar os minutos gastos. Mal andara uns cem metros, Emmanuel volta a aparecer:
Emmanuel: Pare um pouco. Olhe para trás e veja o que está saindo dos lábios de D. Alice, vindo até você.
106. — Narrador: Chico para e olha.
Vozes: Uma massa branca de fluidos luminosos saía da boca da irmã atendida e encaminhava-se para ele, entrando-lhe no corpo.
Emmanuel: Viu, Chico? Imagine se, ao invés de “Vá com Deus!”, ela dissesse “Vá com o diabo!…”, que coisas diferentes estariam saindo de seus lábios!…
107. — Narrador: Uma jovem abatida, num acesso de tosse, chegara ao Centro Luiz Gonzaga, com receita médica.
Vozes: Estava tuberculosa.
108. — Narrador: O médico receitara remédios, mas…
A moça: Chico, o médico me aconselhou a tomar estes remédios durante trinta dias, mas não tenho dinheiro. Você pode arranjar-me alguns cobres?
Chico: Hoje não tenho, minha filha! E meu pagamento no serviço ainda está longe…
A moça: Que devo fazer, então Estou desarvorada!…
109. — Narrador: Chico pensou, pensou… e disse-lhe:
Chico: Peça à Mãe Santíssima socorro e este não lhe faltará. A que horas deve tomar os remédios?
A moça: De manhã e à noite.
Chico: Então, você corte a receita em sessenta pedacinhos. Deixe um copo de água pura na mesa, em sua casa e, no momento de usar o remédio, rogue a proteção de Maria Santíssima. Tome um pedacinho da receita com água abençoada, em memória dela e, repetindo isso duas vezes ao dia, no horário determinado, sem dúvida, pela fé, você terá usado a receita.
110. — Narrador: A enferma agradeceu e saiu.
Vozes: Um mês depois, visitou o Centro, corada e refeita. Chico: Oh! É você?
A moça: Sim, Chico, engoli os pedacinhos da receita e estou perfeitamente boa.
Chico: Então, minha filha, vamos render graças a Deus!
111. — Narrador: Cinco anos após iniciar sua grande missão no campo da mediunidade publicou, em 1932, seu primeiro livro, o célebre “Parnaso de Além Túmulo”. Hoje, decorridos 60 anos daquele lançamento e 65 de exercício ininterrupto da mediunidade, o famoso médium já lançou 360 livros no nosso idioma.
Duas vozes: Quarenta e cinco obras foram vertidas para o castelhano, dez para o esperanto, cinco para o inglês, duas para o francês, uma para o japonês, uma para o grego, três para o tcheco e duas para o italiano.
Todas as vozes: Oitenta e seis obras em braile, vinte e duas em hebraico e seis discos gravados.
112. — Narrador: A tiragem dos seus livros, cujas edições se esgotam com incrível rapidez, já atingiu milhões! Os direitos autorais de suas obras, sem exceção, são doados a instituições espíritas.
Vozes: Principalmente para fins assistenciais.
113. — Narrador: A obra mediúnica de Francisco Cândido Xavier tem sentido eminentemente evangélico-cristão. Mesmo quando psicografa temas científicos ou filosóficos, sociológicos ou poéticos, infantis ou históricos, nota-se que o perfume da mensagem cristã da Imortalidade recende em cada palavra, valorizando cada conceito. Em 1959, transferiu-se para Uberaba, onde continuou e continua seu messianismo mediúnico.
Vozes: Sua fama é internacional. Muitas cidades brasileiras já lhe concederam a cidadania!
114. — Narrador: A imprensa brasileira vem dedicando-lhe longos editoriais e até mesmo edições especiais, focalizando seu trabalho como:
Vozes: o fenômeno do século!
115. — Narrador: Fenômeno não apenas no sentido de mediunismo espiritual mas, e principalmente, pelas características e irrefutabilidade das mensagens de que é intermediário e pela vasta influência que suas obras exercem no complexo sócio-cultural-religioso do Brasil. Pela capacidade extraordinária de sintonia com mais de oitocentas entidades espirituais, pela quantidade e qualidade das obras publicadas, de elevada concepção moral e educativa, pelo tempo de exercício ininterrupto da mediunidade, pela variedade de aptidões mediúnicas reunidas num só instrumento:
Duas vozes: audiência, cura, transporte, materialização, psicografia, psicometria e psicofonia.
116. — Narrador: Por todas essas faculdades reunidas, Francisco Cândido Xavier pode ser considerado, de fato, o maior médium do mundo. No entanto, na sua humildade, ele diz:
Chico: Sou apenas um animal em serviço… uma besta, por exemplo, carregando livros e documentos.
117. — Narrador: Olhos voltados para Deus. Mente cristocêntrica, Francisco Cândido Xavier se julga, entretanto, um pequenino ser, liliputiano, e ninguém o convence do contrário. Em razão mesmo de sua mediunidade em singulares imersões no passado histórico da raça humana, sua clarividência da milenária cadeia de vidas sucessivas e solidárias deu-lhe ao espírito, já por natureza humilde e generoso, as razões para o reconhecimento da grandeza única de Deus e da pequenez espiritual de todos nós face à Majestade Divina. Seu trabalho na época atual representa poderoso coadjuvante na ingente e inadiável tarefa de aproximar a criatura do Criador.
Todas as vozes: Chico, alma boa, querida e generosa, Deus lhe conceda muitos anos de vida física e, nos milênios do tempo, os indistinguíveis dons da alegria e da felicidade com Jesus!
(Jogral elaborado por Carlos Alves Neto)