O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Cartas de uma morta — Maria João de Deus


18

Uma palavra aos sofredores

Páginas recebidas em 30/10/1936


1. Concluindo a segunda edição do nosso volume, dedicado às órfãzinhas, meu filho desejaria que eu dirigisse uma palavra aos sofredores.

2 Mas não posso dizer-lhes mais do que já lhe disse no conjunto de minhas páginas despretensiosas e humildes. Contei a todos os que sofrem, com palavras simples, as minhas impressões de Além-Túmulo, tentando dirigir-me, em particular, a todos os sofredores para os quais o vento do infortúnio é mais frio.


3 Muitos Espíritos passaram, despreocupadamente, os olhos pelas páginas em que procurei gravar as emoções de minhalma, não obstante as dificuldades insuperáveis para me fazer compreendida. Outros lamentaram a ausência de característicos científicos em meus comunicados, ansiosos do rigorismo das críticas minuciosas.

4 Estas cartas, todavia, não foram grafadas para as teorias científicas que florescem no século, à beira da estrada do Espiritismo evangélico. Consagrando o meu respeito e a minha veneração aos estudos dos sábios terrenos, eu não saberia corresponder aos seus desejos de conhecimento superior, dentro da minha insignificância individual.

5 Escrevi-as pensando nas mães sofredoras, cujo coração dilacerado não tem outra luz, no caminho escuro da Terra, que as esperanças e súplicas postas no Céu; vejo-lhes, daqui, as amargas dificuldades e os acerbos desgostos e sinto-lhes, comovida, a tortura dos aflitos, clamando pela misericórdia infinita de Jesus. 6 Grafei-as ponderando as expectativas ansiosas dos homens desolados que as dores cercam e humilham, nos carreiros aspérrimos do dever e das obrigações mais penosas.

7 Sim!… A falange onde me encontro para executar as mais santas determinações espirituais, sabe de muitas misérias ocultas e de muitas lágrimas desconhecidas…  8 Nem sempre os grandes infortúnios se circunscrevem às casas públicas do sofrimento. Sob as sedas faustosas e sob o som de músicas festivas, buscamos cicatrizar as úlceras cancerosas e paralisar os soluços em muitos corações que se purificam na Terra.

9 Não desdenhamos as atividades preciosas dos Espíritos insatisfeitos que alargam atualmente os horizontes científicos do século, com o concurso do Além-Túmulo. Mas consideramos a expressão evangélica e moralizadora do Espiritismo como seu objetivo primordial.

10 A Europa, desde os fins do século passado, não se encontra repleta de fenômenos supranormais, servida pelas constituições medianímicas mais poderosas? Grandes mestres não têm oferecido ao continente inteiro o fruto de seus exames e de pesquisas, no caminho largo das ciências terrestres? Entretanto, há muitos anos sucessivos, a confusão ali se estabeleceu nas almas, envenenando as fontes culturais do Velho Mundo.

11 Nos terríveis enganos políticos da Igreja católica romana, a Europa inteira se prepara, aguardando inquieta, a guerra cruel dos extremismos.


12 Entre a ciência humana e a sabedoria espiritual sempre existiu considerável distância. A primeira é filha do labor inquieto e transitório dos homens. A segunda é filha das grandes e abençoadas revelações das almas. Na primeira sobram as dúvidas amargosas e as hipóteses falíveis. Na segunda vibram as grandes e eternas esperanças do coração, do iluminado ideal da vida superior.

13 Dentro das ciências terrestres prevaleceram, em todos os tempos, as descrenças inquietantes e angustiosas; os trabalhos dissolventes da crítica dos campos adversos sempre objetivaram a destruição de patrimônios sagrados do ser.

14 Ainda agora, muitos jornalistas e estudiosos eminentes, às véus, falando de Crookes e de Lombroso, procuram desmerece-los, acusando-os como possuídos de declínio de compreensão no trato com os fenômenos espíritas. E, nesse movimento de acusações, perde-se um tempo precioso, a par de muitas energias que poderiam se empregar na construção do edifício da felicidade humana.

15 Fenômenos? O homem nunca encontrará outro maior que a vida de Jesus, localizada na História. Mensagens elucidativas? Poderia haver alguma maior que a da palavra permanente do seu Evangelho?

16 É para vós, os Espíritos sofredores da Terra, que o Espiritismo trouxe uma aleluia de esperanças e glorificações. Heróis obscuros e ignorados do mundo: Alguém sabe dos vossos sacrifícios, de vossas renúncias e dedicações que o planeta terreno não pode conhecer!…

17 Chorai vossas lágrimas remissoras de olhos postos no Céu, onde se guardam todos os vossos prantos e onde são conhecidas todas as vossas preces e aspirações.

18 Aprendei nas experiências penosas da Terra a soletrar o abecedário do amor, da piedade e da resignação, porque se viveis a dolorosa angústia das almas infortunadas e incompreendidas no mundo, há no Céu quem vos estenda as suas mãos carinhosas e compassivas.

19 Trabalhai, sofrei e confiai na misericórdia divina, pois não foram pronunciadas para os Espíritos satisfeitos e felizes aquelas divinas palavras: “Bem aventurados os aflitos na Terra, pois que a eles pertencem as alegrias do Céu.”


Maria João de Deus


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