1 Descuidada, a pequenita,
Face rósea de romã,
Revirava, buliçosa,
Os óculos da mamãe.
2 Vidro aos olhos, contemplando
A região colorida,
Demonstrando-se assustada,
Exclama, surpreendida:
3 — “Oh! mamãe, tudo está negro!
Que enorme transformação!…
Parece que toda a casa
Está pintada a carvão.”
4 Muito aflita, retirando
O vidro de cor escura,
A pequenina observa
Mais tranquila, mais segura:
5 — “Agora, sim… Tudo claro,
O armário, a mesa, o jarrão…
Que alívio, mamãe querida,
Ver as coisas tais quais são!”
6 — “Vês, filha? — diz-lhe a mãezinha,
Que buscava meditar, —
Na vida, tudo depende
Do modo de analisar.
7 “Quem aplique aos próprios olhos
O vidro do pessimismo,
Envolve-se em densas trevas,
Projetando-se no abismo.”
João de Deus
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