1 Enquanto brincava Alberto
Junto aos bancos do portal,
O touro bravio e forte
Avançou para o quintal.
2 O pequeno quis correr
Tentando defesa incerta,
Mas o touro atravessara
A grande cancela aberta.
3 Canteiros e vasos lindos,
Floridos e bem cuidados,
No curso de alguns momentos
Jaziam espatifados.
4 Alberto não resistiu
Ver a sanha do animal.
E, em pranto de desespero,
Busca a saia maternal.
5 Dona Gertrudes, porém,
Que via, aflita, o jardim,
Num gesto de proteção
Toma o filho e diz-lhe assim:
6 — Vês, Alberto, as nossas flores
Tombando, desprotegidas?
Sob os olhos, temos hoje
O quadro de nossas vidas.
7 Recorda, filho, que o touro,
Em força desesperada,
Penetrou-nos o jardim
Pela porta descuidada.
8 Notaste, neste desastre,
A lição que é forte e bela?
O touro nunca entraria
Se guardasses a cancela.
9 E, ao passo que o pequenino
Ouvia com atenção,
A mãezinha concluía
A doce observação:
10 — Quem deseje conservar
As luzes do sentimento
Necessita resguardar
A porta do pensamento.
11 Em nossa estrada, meu filho…
Há monstros destruidores…
Defendamos a cancela
Que protege nossas flores.
João de Deus
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