1. — SAULO GOMES — Chico, que pensam os chamados benfeitores espirituais quanto à posição do Brasil atual, seja no terreno político ou social?
CHICO XAVIER — Vamos responder com muito respeito, segundo o que temos ouvido dos nossos benfeitores espirituais. A noite é consagrada ao Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, em cujos ensinamentos empreendemos a nossa formação como povo organizado. Por várias vezes, Nosso Senhor Jesus Cristo se referiu à nossa necessidade da oração e dá, vigilância. Nós sabemos que, segundo os nossos léxicos, orar não é apenas endereça.r a nossa palavra ou nosso pensamento a Deus em súplica ou louvor. Orar significa também discursar, expor os nossos pontos de vista e, por isto mesmo, a oração é uma das expressões mais vivas do espírito democrático do cristianismo, porque cada um de nós ora segundo as suas possibilidades de crer ou de interpretar o fenômeno da fé. Então, sem qualquer expressão eufemística, declaramos que a posição atual do Brasil é das mais dignas e das mais encorajadoras para nós, porque a nossa democracia está guardada por forças que nos defendem contra a intromissão de quaisquer ideologias vinculadas à desagregação. Precisamos honorificar a posição atual daqueles que nos governam, que vigiam sobre os nossos destinos. A oração e a vigilância, preconizadas por Nosso Senhor Jesus Cristo, se estampam com muita clareza, em nosso Governo atual. E nós todos vamos dizer com os nossos benfeitores espirituais: devemos orar muito, pedir muito a Deus e unir os nossos pensamentos para que a união seja preservada, dentro das nossas Forças Armadas, para que nós tenhamos o direito de orar, isto é, discursar, permutar livremente os nossos pontos de vista, dar os nossos pareceres, emitir as nossas opiniões em matéria de vivência particular e coletiva. Portanto, com todo o respeito, sem nenhuma ideia de bajulação, falo pessoalmente de minhas pequeninas confabulações com os espíritos amigos e profundamente amigos do Brasil cristão, em Nosso Senhor Jesus Cristo. Digo que nós devemos pedir para que tenhamos a custódia das Forças Armadas até que possamos encontrar um caminho em que elas continuem nos auxiliando como sempre, para que nós não venhamos a descambar para qualquer desfiladeiro de desordem. Nós não podemos ignorar — abramos um parêntesis — que, muitas vezes, muitos de nós acreditam ,que as Forças Armadas devem apenas funcionar nas ocasiões de beligerância, nas ocasiões de guerra, diante do mundo civil. Mas a verdade é que, espiritualmente, nós estamos em grande conflito. Nós estamos em grande conflito com ideias, trazidas ao nosso meio pelas comunicações de massa, pelas imposições de nosso tempo, em que o problema de massas tem que ser considerado. Nós precisamos resguardar o nosso coração para que essas ideias não se infiltrem em nossa vida pública, em nossa vida coletiva, para que não venhamos a perder o dom da liberdade em Jesus Cristo. Nós sabemos que a persuasão química, a própria chamada felicidade química, podem ser trazidas com nosso povo, através de governos que possamos aceitar, com invigilância. Essas ocorrências eliminariam de nossa vida a nossa possibilidade de viver como povo livre. Essas ocorrências eliminariam a nossa resistência psicológica, e acabaríamos, talvez, num povo, talvez fantoche. Vamos agradecer a situação atual do Brasil, porque o Brasil desfruta de ordem. O Brasil está sob o império da lei e se a Terra está equilibrada no campo cósmico, é porque a Terra obedece a leis. Se o homem está agora deslanchando para outros mundos, através do nosso satélite, não foi desordenadamente que os nossos grandes astronautas conseguiram semelhante realização. Eles atenderam a leis, obedecem a leis. Os foguetes da Astronáutica obedecem a leis. Nós estamos sob o império da lei e devemos ser gratos a Deus e cooperar para que não venhamos a perder a ordem, porque a ordem é como a luz do Sol. De recebermos tanto a luz do Sol, nós, muitas vezes, nos esquecemos de agradecer esse dom da providência divina. Muitas vezes, só compreendemos a ordem quando a desordem aparece. Nós, como brasileiros, não devemos proceder em moldes de insensatez. Reverenciamos aqueles que estão guardando o sentido da ordem em nosso País e fazendo com que cada um de nós possa desfrutar esse benefício da ordem em nossa vida particular, em nossos lares, em nossos grupos sociais, em nossas empresas de trabalho, dentro da liberdade que estamos desfrutando. Porque só não estamos desfrutando uma espécie de liberdade: aquela liberdade de prejudicar a comunidade. E nós estamos no tempo das massas e não devemos prejudicar a ninguém, muito menos à coletividade.