31. — Como interpretar o conceito de oposição no trabalho representativo dos interesses públicos?
Observamos que o assunto tem duplo sentido, porque, quando a oposição de uma criatura está reconhecidamente no campo do desequilíbrio com prejuízo da comunidade, a oposição é criticável dentro da própria comunidade.
Mas quando a criatura está dedicada ao bem de todos, à ordem pública, à segurança geral e ao progresso comum, se essa criatura está conquistando influência, ao passo que nos achamos apoiando caprichosamente as sugestões da oposição, fica logicamente demonstrada a nossa obrigação de fazer mais e melhor do que aqueles que estejam trabalhando na construção do bem estar de todos.
32. — Como exercer o direito de discordar?
Neste assunto de oposição e discordância, lembremo-nos também do exemplo do Estado de Goiás.
Nenhum de nós pode desfigurar a campanha abolicionista em nosso País; nós todos, em nos transferindo ao passado e vivendo no presente, somos claramente pela campanha abolicionista que nos proporcionou a luminosa alegria do 13 de maio de 1888, mas para assinalarmos a elevada missão do Estado de Goiás, em nosso País, e a missão de equilíbrio e de ordem do planalto que hoje guarda o cérebro e o coração da nacionalidade, recordemos um exemplo.
Na campanha abolicionista do Estado de Goiás apareceu um homem extraordinário, distinto poeta e escritor destes pagos, o Dr. Antônio Félix de Bulhões Jardim. Ele organizou na capital primogênita do Estado de Goiás um centro libertador, com alforrias pagas pela contribuição de abolicionistas generosos, e respeitando a autoridade constituída e venerando sentimentos de humanidade, ele propôs a Goiás e a todo o País que todos os senhores de escravos libertassem as criaturas cativas de moto próprio, sem necessidade de rebelião e sem espírito de combatividade negativa.
33. — Por que é que as pessoas do Além Túmulo, quando se manifestam nas sessões espíritas, só falam das coisas deste mundo e não contam como são as coisas lá?
Devemos dizer que pessoalmente não estamos cansados, mas compreendemos que o grande público, aqui presente com tanta gentileza e com tanta generosidade, deve estar realmente fatigado. Respeitando, porém — mas respeitando profundamente mesmo — a autoridade do nosso digno entrevistador, tomamos a liberdade de dizer que o Espírito de nosso benfeitor espiritual André Luiz tem uma série de livros que foi trazida por nosso intermédio de 1944 até agora, livros estes em número superior a 15, trazendo notícias do mundo espiritual…
34. — Não acha V. S. que a Doutrina Espírita e muitos de seus fenômenos parapsicológicos, como ocorre nos casos da necromancia, telecinesia e telepatia, pode ter sua explicação à luz das causas e efeitos da Psicanálise ou da própria Psicologia?
Nosso profundo apreço ao nobre jornalista que formula a interrogação.
Mas vendo Espíritos, habitantes de um outro mundo, desde 5 anos de idade tempo em que pude ver de perto minha mãe desencarnada que me prometera voltar do Além, para velar novamente por nós, filhos dela, que deixava na primeira infância — e continuando esses fenômenos da mediunidade em minha vida, durante tantos anos, de minha parte não posso transferir a minha certeza da vida espiritual a companheiro algum.
Cumpro apenas o dever de registrar as mensagens, as notícias dos nossos amigos espirituais nos livros que nunca me pertenceram, que sempre foram entregues à comunidade espírita cristã em seus trabalhos editoriais, sem nenhuma vantagem pecuniária em nosso favor, no que apenas estamos cumprindo um dever.
Desde a infância, há precisamente quase 60 anos, e desses quase 60 anos, 47 estou eu na mediunidade organizada ou treinada com os ensinamentos de Allan Kardec, apesar das imperfeições que carrego. Compreendo e aceito a mediunidade em minha vida — perdoem a minha expressão — como se eu fora um cego animalizado ou mesmo um animal em serviço, obedecendo àqueles que me trazem tanta luz ao caminho, que me amparam sempre com tanta bondade e aos quais seria ingratidão de minha parte sonegar o concurso e a boa vontade que devo a todos eles.
Creio na mediunidade e creio na vida espiritual.
Procurando na Parapsicologia como é que os senhores parapsicólogos definiriam a psicografia em meu caso pessoal, verifiquei que eles me denominavam o processo de trabalho medianímico (perdoem-me esse possessivo meu, entretanto é necessário que eu fale assim) como sendo um fenômeno de prosopopese.
Não cheguei a compreender todo o sentido da palavra pelo meu desconhecimento das raízes que a formaram; a psicografia em meu caso, então, seria um caso de prosopopese ou mudança psicológica da personalidade, dando ensejo a que personalidades supostas se manifestem por meu intermédio, sem que eu tenha qualquer conotação em quadros patológicos.
Confesso, porém, que para mim, que me sinto espírita-cristão, o assunto não ecoou com a significação que eu esperava, porque não sinto necessidade de palavras assim tão difíceis para determinar uma questão simples que apenas envolve a comunicação entre dois mundos.
Para mim, a psicografia é o intercâmbio espiritual entre Espíritos que estão encarnados neste mundo e Espíritos que estão desencarnados, vivendo em outras condições vibratórias, na Terra e fora da Terra; mas naturalmente que a ciência tem o direito de cunhar as expressões que deseje para melhorar-nos os conhecimentos e evitar os abusos de criaturas capazes de criar problemas para a comunidade com o abuso provável desses mesmos conhecimentos.
Respeitamos a ciência parapsicológica, mas estamos satisfeitos com o termo mediunidade psicográfica, porque eu sei que a página por mim psicografada, não me pertence e sim ao Espírito que escreve.
35. — Qual a explicação que pode ser dada pelo Espiritismo acerca do transplante de órgãos e qual a explicação, acreditável ou não, do congelamento de pessoas que estão fadadas à desencarnação para que, posteriormente, depois de descoberta a cura da doença, que as afeta, elas possam, então, voltar a viver — a viver não — voltar à sua própria vida?
Não nos é licito desconsiderar as conquistas da ciência neste particular, porque o transplante de córnea é de êxito absoluto e provavelmente amanhã, no futuro próximo ou talvez remoto, a ciência poderá garantir os transplantes de órgãos entre criaturas vivas, considerando-se o doador como pessoa prestes a partir da existência material, entendendo-se, porém, que os órgãos plásticos serão sempre os órgãos ideais para a solução das questões de ortopedia em nossa vida física, propriamente considerada.
Mas é possível que em amanhã muito próximo tenhamos os bancos de órgãos de criaturas que possam doar o corpo todo para que a ciência congele os restos que possam remanescer de nossa experiência no mundo físico, aproveitando, e muito acertadamente, determinadas engrenagens que a morte tentou aposentar e que ainda possam servir aos que continuam trabalhando e lutando por uma vida melhor neste mundo.
Este para nós é o problema do transplante.
Quanto ao congelamento de cadáveres ou de pessoas prestes a partir da Terra e que preferem o congelamento, esperando a ressurreição no corpo do futuro, diz o nosso Emmanuel que no Egito Antigo o processo de mumificação era mais ou menos semelhante; que muitos Espíritos ficavam ligados por força da provação deles mesmos aos restos mortais nas tumbas que lhes diziam respeito, de vez que a mumificação era tão perfeita que a criatura permanecia ligada aos próprios restos, esperando retomar o corpo físico para a continuidade mais longa da jornada na Terra. De modo que isso, na essência, vem de longe.
Na atualidade, o assunto vem merecendo considerações especiais e é possível que muitos Espíritos permaneçam também ligados a implementos físicos que lhes hajam pertencido e que estejam em regime de congelamento.
Embora a maioria desista de esperar a volta, muitos poderão talvez voltar, mas não sabemos ainda em que condições estará o cérebro de um corpo congelado durante muito tempo para funcionar nas condições de cabine destinada ao controle do Espírito reencarnado que deseja estabelecer a ordem sobre a sua própria vida orgânica, a fim de ser útil na Terra.
36. — Pergunta de conceituado jornalista goiano, católico por formação e convicção:
Sou dos que acreditam todavia em todas as religiões, desde que se consagrem ao bem e objetivem ao supremo Criador.
Não acredito, porém, em sucessivas reencarnações pelas quais ocorreria a evolução do Espírito,
conforme sustenta a Doutrina Espírita, mas numa vida eterna que obviamente não é a terrena. Assim, cada qual
com seu mundo interior desconhecido, porque ninguém conhece a si mesmo, cria psicologicamente
seu próprio inferno, seu próprio Céu.
O preâmbulo vem a propósito da seguinte pergunta:
Cristo, dotado de poderes sobrenaturais, é um Espírito que veio ao nosso mundo no seu grau máximo de evolução espiritual; como se explica, então, à luz do Espiritismo, ter ele passado pela expiação do Calvário?
Digamos de nossa parte que Nosso Senhor Jesus-Cristo permanece em Plano de tamanha sublimação que pessoalmente não nos reconhecemos com o direito de formar qualquer critério em torno dele. Para nós, pessoalmente, ele é o Governador Espiritual do nosso planeta, em nome de Deus.
Acreditamos que o suplício do Calvário terá sido uma epopeia de amor.
Quando vemos o coração materno neste mundo decidido a sofrer qualquer espécie de martírio por amor ao filho ou aos filhos, por que não considerar Nosso Senhor Jesus-Cristo capaz de sofrer a imolação da cruz em nosso favor, absolutamente por amor a nós outros, os componentes da família humana?
Com respeito à reencarnação, esperemos que a ciência possa positivar essa ocorrência natural da vida e da evolução, porque sem a reencarnação não perceberíamos qualquer lógica no problema da dor e do destino, no campo da Humanidade.
Acreditamos na reencarnação e temos certeza formada sobre isso, mas não podemos transferir a nossa convicção aos melhores amigos, por mais respeitáveis sejam eles.
Quanto à criação de um inferno e de um purgatório por dentro de nós, isso é mais do que lógico e o nosso caro entrevistador está com a razão.
Somos nós mesmos os autores do purgatório ou do inferno por dentro de nós. Sem dúvida, não existem outros; mas, por isso mesmo, quando partimos deste mundo com o problema da culpa, retornaremos a ele, evidenciando as consequências dessa mesma culpa.
Plasmamos neste mundo e no outro, com as repercussões dos nossos próprios atos, o estado espiritual que estabelecerá em nós o Céu, o purgatório ou o inferno, sendo de notar que purgatório e inferno serão transitórios, porque a Misericórdia Divina cobre a Divina Justiça.
E sempre haverá para o Espírito eterno, filho de Deus, a possibilidade de conciliação com Deus nas Leis Divinas, através da pacificação da própria consciência.
Francisco Cândido Xavier
Emmanuel