1 Notas do Além, quanto à brigas,
Prezada Tereza Marta,
É aquilo que você pede
No texto de sua carta.
2 Existe uma briga boa,
É aquela de que provém
A ideia de se fazer
A paz, o progresso, o bem…
3 Algum de nós tem um plano
Para a vida em derredor,
Surge alguém apresentando
Um plano muito melhor…
4 Escutam-se bate-bocas,
Pareceres diferentes,
Amarguras momentâneas,
Companheiros descontentes…
5 Parece uma tempestade…
Toda a equipe em convulsão…
Mas se o bem palpita em todos,
O conflito não foi vão.
6 Afirma-se a caridade,
A tolerância aparece,
A humildade acende a luz
No combustível da prece.
7 Ressurge o clima do amor
Na paz que se lhe consente,
A briga deixa de ser
E o trabalho segue à frente.
8 Esta é a rixa proveitosa
Em que o melhor se detém,
Construindo e restaurando
Sem prejuízo a ninguém.
9 Entretanto, o desacordo
No capricho pessoal
É sempre invasão das trevas
Trazendo a forca do mal.
10 Nós mesmos, quanto ao assunto,
Ao tempo que nos alcança,
Temos histórias amargas
Arquivadas na lembrança.
11 Matilde brigou com Nélia
Em rumorosa contenda,
Com três mortes sem razão
Nos colonos da fazenda.
12 Zequinha entestou com Lopes
Disputando bagatela,
Depois fizeram as pazes…
Quem morreu foi Felisbela.
13 Recorde as velhas demandas
No Roçado da Mutuca…
Com tiro vai, tiro vem,
Morreu a filha de Juca.
14 De tanta luta em família
Enlouqueceu Dona Irene,
Ateando fogo em casa
A jorros de querosene.
15 De tanto atrito no lar,
Na Fazenda Serafina,
Neneco perdeu a casa
Com fósforo em gasolina.
16 A briga nas boas obras
Com problemas de alarmar,
São outras tantas histórias
Que precisamos lembrar.
17 O Centro da Caridade
Por brigas de Conceição,
Depois de tanto trabalho
Acabou de supetão.
18 O Círculo da Bondade
Feito por damas de prol,
Apagou-se pelas brigas
De Donana do Paiol.
19 Irmão Nico ergueu o grupo:
— “A Paz Que Nunca Se Atrasa” —
Mas brigou com tanta gente
Que arrasou a própria casa.
20 Havia um Grupo de Estudo,
Na antiga Mata das Flores,
A briga enrolou a escola
Em chusmas de obsessores.
21 Brigava tanto, mas tanto,
O nosso irmão Nicolau,
Que após seis anos de prece,
Transformou-se em bate-pau.
22 É isso aí, minha irmã,
No lugar em que estiver,
Aja muito, fale pouco,
Faça o melhor que puder.
23 Quanto ao mais, no dia a dia,
Fique ligada no bem,
Que a briga, de qualquer modo,
Não dá camisa a ninguém.
Cornélio Pires
|