1 Aqui vai minha resposta,
Meu caro Lico Assunção,
Quanto ao que vejo no Além,
No estudo da incompreensão.
2 O tema, em si, é tão sério
Que em toda e qualquer idade,
A história da incompreensão
É a história da Humanidade.
3 Discórdias e dissensões
Em que o ódio se encastela,
E a guerra — o horror de milhões —,
São sombras que vivem nela.
4 Há quem tome a incompreensão
Por assunto sem valor,
No entanto, vejo-a daqui
Por fluido destruidor.
5 Nascida da ignorância
Da Vida Espiritual,
É a sombra que se condensa
Gerando a sombra do mal.
6 Agride, acusa, vergasta,
Separa, fere, suspeita,
E quase sempre se oculta
Por delinquência perfeita.
7 Parece um caldo de lodo
Tocado de força extrema;
Nele, as moléstias do orgulho
Proliferam sem problema.
8 Não é só para a doença
Que essa treva se despacha,
Onde alguém lhe dê guarida,
Vai complicando o que acha.
9 Você recorda o Antonico:
Vendo a esposa com Porfiro,
Sem entender-lhes a prosa,
Matou a mulher num tiro.
10 Sem saber que Ana ajudava
Ao pai oculto em Lajão,
Géo julgando-se enganado,
Suicidou-se sem razão.
11 Entretanto, a incompreensão
Dando força ao que não é,
Opera com mais destreza
Nas grandes obras da fé.
12 Fundou-se o Grupo Fraterno,
Na Fazenda dos Macacos;
Incompreensão deu de cima,
O Grupo jogou-se aos cacos.
13 Era médium das melhores
Dona Liquita Valença,
Porque poucos a entendessem
Largou-se de toda crença.
14 Era homem de oração,
O nosso Balbino Jece;
Incompreensão veio a ele,
O moço fugiu da prece.
15 Nobres senhoras fizeram
O Educandário Harmonia;
Incompreensão revelou-se,
A escola acabou num dia.
16 Era bom médium de curas
O nosso Adalvino Adão
Incompreendido entre amigos,
Perdeu-se na obsessão.
17 Juca era médium servindo
Numa limpeza sem jaça;
Recebendo incompreensão,
Derivou para a cachaça.
18 Era apontada em missão
Nossa médium Leodegária;
Incompreensão veio ao grupo,
Apagou-se a missionária.
19 Lia, médium de cabine,
Produzia voz direta;
Incompreensão discutiu,
A moça ficou pateta.
20 Escrevia lindos textos
A médium Joana Azevedo;
Encontrando a incompreensão,
Fugiu do lápis com medo.
21 Dedicando a vida aos passes,
Era grande o João José;
Escutando a incompreensão,
O rapaz perdeu a fé.
22 É isto aí, caro irmão…
Por tudo o que tenho visto,
Para curar essa chaga,
Precisamos mais de Cristo.
23 Só se cura a incompreensão
Pela farmácia do bem,
Formada no amor de Cristo
Que não despreza a ninguém.
24 Dos remédios mais aceitos,
Que não se aplicam em vão,
São eles: serviço, paz,
Bondade, apoio, perdão…
25 Quanto ao mais, tudo se explica,
Neste conceito comum:
Incompreensão sem amor
Arrasa com qualquer um.
Cornélio Pires
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