1 Afinal, meus irmãos, de quem seria o crime?
Daquele, cujo braço impôs a morte
Ao coração de alguém?
Ou desse mesmo coração caído,
Que inerte e mudo agora se mantém?
2 A quem se atiraria a mancha em rosto?
À vítima tombada? ao verdugo suposto?
Ou será que outro alguém.
É o verdadeiro autor dessa agonia alheia,
Escondido na sombra,
À feição de uma aranha em sua própria teia?
3 Compreendido, porém,
Que o crime sempre nasce
De uma ideia feroz,
Quem teria pensado nele, antes?
Os outros? Talvez nós?
4 Quem lhe teria dado a forma de começo
Na roupagem de alguma frase louca?
O inimigo, o vizinho, o companheiro
Ou nós mesmos com a nossa própria boca?
5 De permeio à incerteza e à insegurança,
Sem que se saiba, ao certo, onde a culpa é nascida,
Transformemos o amor numa fonte perene
Que dissipe na Terra as angústias da vida.
6 E se alguém surge em falta,
Recordemos Jesus, onde a censura medra:
— Aquele que estiver sem sombra de pecado,
Lance a primeira pedra. ( † )
Manoel Monteiro
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