1 Ao Homem que caíra em franco desalento
O Tempo apareceu, qual companheiro atento,
E falou-lhe, depois, com carinho invulgar:
— Amigo, não te dês à tristeza vazia,
O Céu nos recomenda em cada novo dia:
— Servir e prosseguir, trabalhar, trabalhar…
2 Isso é de lei na própria Natureza,
Quando a tormenta cai sobre a erva indefesa,
Qual gigante rugindo a pleno ar,
A vida a renascer do vale à serra,
Determina, em silêncio, ao coração da Terra:
— Servir e prosseguir, confiar, confiar…
3 O rio ataca os muros da represa,
Esbraveja, ante as forças de defesa,
Buscando a fuga por qualquer lugar;
Vence, depois, sem freio que o detenha
E a água proclama quando se despenha:
— Servir e prosseguir, trabalhar, trabalhar…
4 Para a semente vale por insulto
O gesto que a retém num canto oculto,
Qual se fora um veneno a desprezar;
Mas, atenta à recôndita energia,
Germina procurando o sol que canta de alegria:
— Servir e prosseguir, confiar, confiar…
5 Quem aceitou do Céu, como um favor divino,
Burilar-se a sofrer e guardar por destino
O dom de se esquecer e auxiliar,
Por mais lute nas trilhas em que avança,
Ouve em si a palavra da esperança:
— Servir e prosseguir, trabalhar, trabalhar…
6 O Homem que se pusera, enternecido, à escuta.
Sentiu-se aliviado, ante os riscos da luta,
E o Tempo rematou, pedindo-lhe pensar:
— Mágoas e provações? Trabalha por vencê-las,
E feliz ouvirás a canção das estrelas:
— Servir e prosseguir, confiar, confiar…
Maria Dolores
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