1 Companheiros enganados
São tantos que, às vezes, penso
Que ninguém conseguiria
Enumerá-los num censo
A nomes de cada um…
2 Enquanto estive na Terra,
Via este quadro comum:
Nas sendas por onde vão,
Nunca soube o que pediam
Por dentro do coração.
3 Passavam como eu passava,
Uns de carro, outros a pé,
Muitos deles se arrastavam
Clamando falta de fé.
4 Quantos nobres cavalheiros
Seguiam de fronte erguida,
Intentando dominar
As fontes da própria vida!…
Outros muitos caminhavam,
Face triste e passo lento,
Revelando sem palavras
Amargura e sofrimento.
5 De muitos, eu me afastava,
Ao vê-los em grandes crises,
Agressivos, revoltados,
Coléricos e infelizes…
6 Quantas mulheres passavam
Arquitetando aventura!…
Guardava comigo a ideia
De vê-las arrebatadas
Aos turbilhões da loucura.
De muitas somente ouvia
Os mais arrojados planos
Para a conquista de laços
Que acabam em desenganos.
Outras seguiam adiante,
Indiferentes à vida,
Tristes irmãs desprezadas,
De alma doente e sofrida.
7 Via passar homens fortes
Sob estranho cativeiro,
Queriam ouro e mais ouro,
Atolados em dinheiro.
8 Fitava moças e moços
Parecendo, mais ou menos,
Alucinados da Terra,
Usando estranhos venenos;
Quantos deles se mostravam
Irresponsáveis? Não sei.
Sabia apenas notá-los
Por irmãos fora da lei.
9 Em minha severidade,
Culpava filhos e pais,
Minhas censuras a esmo
Subiam cada vez mais.
10 No entanto, a morte surgiu,
Transformou-me, de repente,
Foi então que vi, de perto,
As lutas de tanta gente…
11 Esses passantes do mundo
Que encontrara, face à face,
Nunca haviam merecido
Palavra que os condenasse.
Morando agora, no Além,
Conheço, em alta razão:
Ninguém caminha na Terra
Buscando reprovação.
Sei hoje a grande verdade
Que sinto e não sei expor:
Todos nós, dentro da vida,
Pedimos somente amor.
Maria Dolores
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