1 Caro Romeu, vou melhorando e trabalhando. Rejuvenescer por aqui é um fato viável, mas exige muita disciplina do Espírito. E essa disciplina não era o meu forte.
2 Confirmando o que já disse, frequento o Instituto de Renovação Espiritual, mas enquanto vocês recordam o meu primeiro ano de afastamento, lembro-me de que em tantos longos doze meses, se melhorei no sentido de reforma íntima, posso dizer que avalio isso em dois pobres milímetros, tomando o ano inteiro como sendo o metro.
3 O nosso Dr. Orlando me diz que é preciso fazer força, mas se fizer mais do que posso, tenho a sensação de que me arrebento. Desse modo, caminho com você, agindo nas tarefas que vocês me proporcionam e ando de Votuporanga a Rio Preto e vice-versa. Se me afasto de algum modo é unicamente para visitar com a nossa estimada Elvira a netinha Carmem Lúcia.
4 Sinto-me encorajado a facear as obrigações novas com o estímulo do afeto que vocês me alimentam no espírito. Graças a Deus que não larguei os meus arreios que são os deveres que me reúnem a vocês para a continuação da caminhada.
5 Conforta-me refletir que, se cheguei aqui desfrutando memória deficiente, o Domingos n voltou em condições muito mais difíceis. Demora-se muito a me reconhecer de cada vez que o visitamos e formula perguntas de um menino doente.
6 A doutrina que abraçamos nos obriga a raciocinar e a argumentar e isso é ótimo exercício para facilitar a agilidade mental depois de entregarmos o corpo enfermo às reservas da natureza. 7 As observações que aí cultivei me servem aqui de excelentes alicerces para entender, em matéria de trabalho espiritual, o que pedem de mim.
8 Companheiros e benfeitores são sempre dedicados e muitos. O Lidaí Benini aqui presente ao meu lado que o diga. 9 Não se pode vacilar. Se tristezas ou inquietações aparecem no campo mental que se tem, surge logo um amigo a indagar se nos pode ser útil.
10 Prossigo, como observam, lutando e adquirindo as noções novas de que preciso para elevar o meu grau de percepção e interpretação real do que vejo e do que escuto.
11 A morte é uma parada. Quem acreditar que isso por aqui é moleza, que se cuide. 12 Creio que se um animal muito inteligente, qual, por exemplo, um símio qualquer, viesse morar em nossa casa de Rio Preto ou de Votuporanga, admitindo que a existência lhe seria aí muito fácil, em poucos dias estaria ansioso de regresso para a mataria grossa, a fim de se libertar dos encargos novos que lhe pesariam nos ombros.
13 Por enquanto, penso que a desencarnação é isso aí. A pessoa acredita que vai largar o corpo cansado e residir com os protetores espirituais, mas chegando à moradia desses amigos, o quadro apresenta outra figura.
14 Por agora, não posso dar outras notícias, porque se eu pudesse vestiria o corpo de Carmelo Grisi e voltaria de imediato para a nossa casa e para os cuidados de nossa querida Cida, mesmo na condição de velho doente.
15 Dr. Orlando e Dr. Justino me refazem o modo de pensar e dizem que estarei outro no ano que vem. Mas não estou muito certo disso, porque no próximo ano, é bem possível que me digam a mesma coisa em relação ao ano de 1983. E assim vamos indo…
16 Queixas não adiantam. A pessoa nasce e cresce sem tomar remédios e deixa o corpo físico e se modifica por aqui sem tratamento especiais, a não ser aqueles que nós mesmos pedimos ou aceitamos para não ficar para trás. Que ninguém perca tempo.
17 Estudar e agir, sobretudo fazendo o bem aos outros ou adquirindo bons advogados a nosso favor, nas criaturas agradecidas, é o melhor negócio que se possa efetuar, em nosso plano de ação na existência física.
18 Entretanto, essas ideias são minhas agora, e depois, é provável que os nossos médicos daqui tenham razão. Que a mudança para mim venha depressa, é o que desejo.
Carmelo Grisi
(31.01.1981)
ELUCIDAÇÕES
Embora já se tenham passado um ano e sete meses após a desencarnação, Carmelo denota ainda falta de memória, pois refere-se a “longos doze meses do primeiro ano de afastamento”. Parece que despertou efetivamente por ocasião da 1ª mensagem que estava completando um ano. Os sete meses anteriores ele não os computa.
Da hospitalização, dos passes e diálogos curativos passa a frequentar o Instituto de Renovação Espiritual na colônia a que se vincula no Além. Contudo, mostra-se pessimista quanto aos progressos ali obtidos, para ele, muito pequenos. Em toda sua vida física, ele fora sempre apressado e demonstrava impaciência para as coisas que pudessem demorar Isso reflete-se agora na sua readaptação.
Nesta fase, limita-se às tarefas entre Rio Preto, nome dado a São José do Rio Preto pelos seus habitantes, e Votuporanga, com raras idas a Jaboticabal, onde vive sua neta Carmem Lúcia. Seus encargos relacionam-se ao atendimento espiritual junto aos centros espíritas e aos familiares, sob orientação de Elvira e outros Espíritos amigos.
Carmelo enaltece o conhecimento da Doutrina Espírita, porque promove e facilita a agilidade mental, o que o obriga a raciocinar e argumentar em seus trabalhos. Quando encarnado, nas sessões de seu grupo doméstico era esclarecedor de Espíritos. Podemos avaliar o quanto esta tarefa o auxilia agora, na adaptação à nova vida.
Junto a Dr. Orlando, outro médico, Dr. Justino, muito conceituado em décadas passadas, em Rio Preto, continua o tratamento dos diálogos de cura para colocar em ordem as ideias, refazendo os pensamentos. Não obstante, Carmelo demonstra descrédito diante das promessas de grandes mudanças para um futuro próximo e tira conclusões sobre a fase em que está vivendo.
Gerson Sestini
[6] Irmão de Carmelo Grisi que havia desencarnado há quase um ano.