O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Cartas e crônicas — Irmão X


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No aprendizado comum

1 Sob a inspiração de vários amigos espirituais, eminente assembleia de investigadores da sobrevivência do homem congregava-se em extenso gabinete para serviços de materialização.

2 Reunia-se, ali, em atitudes solenes, uma dúzia de cavalheiros bem postos e senhoras de bom gosto, com admiráveis aparências, primando cada um no esforço de particularizar a própria personalidade.

3 Acompanhando as conversações, com a malícia cordial do observador que ainda se não desligou totalmente das ilusões e desenganos da carne, reconhecemos que era de pasmar a copiosa bagagem de conhecimentos no grupo expressivamente adornado.

4 Um professor de doutrina comentava, gostosamente, as teorias richeístas, exaltando a individualidade do fisiologista, todas as ideias mais destacáveis do famoso criador da Metapsíquica eram postas à mira, tocadas por moderna conceituação da filosofia negativista. 5 Os livros dele foram examinados, um a um, com dilatado primor verbalístico e, logo após, um companheiro intelectualizado explanou sobre as pesquisas de Lombroso  †  e Oliver Lodge,  †  médiuns dos Estados Unidos, da Inglaterra e da Itália eram apontados, um a um, com extravagantes definições. As irmãs Fox, Valientine, a senhora Roberts e Eusápia Paladino, além de outros instrumentos de nomeada, padeciam análise cruel.

6 É imprescindível situar a percentagem de influência do aparelho medianímico nas comunicações, exclamavam enfáticos, como se constituíssem o mais alto tribunal do mundo, para apreciação e julgamento da verdade.

7 Teses variadas eram trazidas a estudo.

Os raios rígidos, a emoção nervosa, as emersões do subconsciente, o hipnotismo vulgar e até o demonismo são recordados com intenso interesse.

8 Ochorowicz,  †  Barrett,  †  De Rochas  †  e Gibier  †  foram reverenciados com indiscutível atenção.

9 Uma senhora mais romântica se reportou a Flammarion e deteve-se na Astronomia, comentando as últimas observações do monte Palomar. Assinalou com dicção correta e inegável beleza o infinito da vida, que palpita nos lares suspensos, em torno de maravilhosas constelações. Sírius e Arctúrus, as nebulosas da Andrômeda e de Orion, surgem na sua palavra bem inspirada, revelando-lhe o trato minucioso com os clássicos do assunto.

10 Companheiros outros se referem a experiências novas na Bélgica e na França, tecendo comentários longos e nobres.

É difícil encontrar assembleia tão fundamente esclarecida em matéria de ciência e realidade.

11 A visão do caminho evolutivo, a solução ao problema do ser e ao enigma da morte, o conhecimento da espiritualidade vitoriosa resplandeciam, através de cada frase bem feita.

12 O horário do encontro entre os vivos do Além e os vivos da carne aparece no relógio comum e uma prece labial ressoa no ambiente, com todo o preciosismo gramatical de Camilo  †  ou Herculano…  † 

13 Uma centena de trabalhadores espirituais se esforça, sofre e sua para materializar uma entidade que se expõe ao trato direto com os observadores, chorando de aflição pela responsabilidade que o fenômeno envolve em sua estruturação mais íntima, demorando-se por mais de uma hora, sob o controle desagradável da reduzida assistência que, ao término dos trabalhos, relaciona vasta colheita de dúvidas venenosas…

14 Abre-se a porta e, em plena via pública, alguns mensageiros espirituais da caridade conduzem, até aquele punhado de príncipes da inteligência, dois homens andrajosos e famintos, suicidas potenciais, vencidos pela enfermidade negra, implorando-lhes socorro, mas ninguém, nem mesmo um só deles, se volta para os dois rebutalhos humanos, que se arrastam sem rumo.

15 Boquiaberto pelo que via, o Fagundes, companheiro recém-chegado ao nosso círculo, dirigiu-se a mim, perguntando:

— Meu amigo, para que se reúne esta gente, provando a sobrevivência espiritual, com tanta ideia luminosa na cabeça e tanto gelo no coração?

16 Convencido quanto à transcendência do assunto, e sem tempo para compridas divagações, pude apenas considerar:

— Fagundes, a rigor, não lhe posso responder. 17 Lembro-me somente de que, em certa ocasião, a serviço de um jornal, acompanhei reduzida assembleia de magnatas da economia e da indústria, carregados de assistentes e de livros de cheques. Discutiram, por noites consecutivas, sobre a libra esterlina e sobre o dólar, com o mesmo furor com que examinavam o franco e o peso argentino, estudando processos de multiplicar as riquezas que lhes abarrotavam os cofres. 18 Surpreendi-me ao reparar tanta ciência da vida e tanto senso na direção dos negócios que lhes diziam respeito; contudo, decorridos alguns anos, vim a saber que todos os componentes do grupo morreram de fome, castigados por úlceras cancerosas no duodeno ou no estômago.

19 Fagundes fitou-me de estranha maneira, enquanto me despedia, mas, até hoje, não sei se ele percebeu o que eu desejava dizer.


Irmão X

(Humberto de Campos)

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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