O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Cartas e crônicas — Irmão X


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Carta estimulante

1 Diz você, meu amigo, que, depois de haver assistido a alguns trabalhos interessantes de materialização, passou a registar estranhas modificações no modo de ver.

2 Assinalou diversas entidades momentaneamente corporificadas, à frente dos olhos, e, pela surpreendente claridade que irradiavam, compreendeu a beleza da vida a que a morte nos conduz.

3 Quando os clarões das luzes inexprimíveis se apagaram, retornou, quase desacoroçoado, à tarefa comum.

4 A lembrança das sugestivas revelações perdurava-lhe na memória; entretanto, a via pública pareceu-lhe mais fria e o ambiente doméstico, onde ninguém se lhe afeiçoa às ideias, figurou-se-lhe um cárcere ao pensamento.

5 No dia seguinte, em retomando o serviço habitual, os companheiros de luta, menos esclarecidos, eram mais duros de suportar.

6 Deslocara-se-lhe a mente.

À maneira do lenhador que examina uma central elétrica, você passou a sentir o peso do trabalho no carvão comum.

Para que alimentar o fogo, a toras de madeira, se há força acessível e eficiente?

7 Tedioso cansaço assomou-lhe ao coração.

E marcou, espantado, o vigoroso conflito entre sua alma e a realidade, através de incoercível desajustamento.

8 Não seria razoável abandonar toda atividade considerada por inferior e partir em busca das claridades de Cima? Valeria a pena prosseguir enfrentando o barro da cerâmica em que você trabalha, quando a imortalidade se lhe patenteou, indiscutível e brilhante?

9 Todavia, é forçoso considerar que se a semente pudesse despertar ante a grandeza de uma espiga madura e não se sujeitasse mais ao serviço que lhe compete na cova lodacenta, naturalmente o mundo se privaria de pão.

10 O Plano espiritual, contudo, não pretende instalar a fome ou a ociosidade na Terra.

O planeta é uma escola em que a inteligência encarnada recebe a lição de que necessita.

11 Entre a maloca indígena e o castelo civilizado medeiam muitos séculos de cultura, com experiências vastíssimas e assombrosas, e, entre o palácio dos homens e o santuário dos anjos, há que andar por numerosos séculos ainda…

12 O Cristianismo que você abraçou, com tanta sinceridade e ternura, permanece repleto de ensinamentos nesse sentido.

13 Diante do Tabor, em que Espíritos bem-aventurados se materializaram, ao lado do Mestre, em transfiguração indescritível, ( † ) Pedro, deslumbrado, pede para que uma choupana seja ali construída, a fim de que nunca mais regressassem ao mundo vulgar; entretanto, o grande apóstolo é arrebatado, de lá, ao torvelinho de ação rotineira, dentro do qual perdeu e venceu, várias vezes, sob o tacão de vicissitudes humanas, até alcançar a verdadeira exaltação pelo martírio e pelo sacrifício.

14 Envolve-se Paulo num dilúvio de bênçãos, nas vizinhanças de Damasco, ( † ) mas, ao invés de acompanhar o Cristo magnânimo que o abraça, de improviso, é convocado a perambular, por muitos anos, entre desapontamento e pedradas, no seio da multidão.

Que mais?

15 O próprio Mestre, no jardim da prece solitária, sente-se visitado por um anjo divino que desce do firmamento, em sublime esplendor; todavia, longe de segui-lo em carro de triunfo para as Esferas Superiores, desce para o cárcere, sofre o insulto da turba ameaçadora, e marcha, humilhado, para a crucificação.

16 Não transforma, pois, a excelência do estímulo revelador em desalento para o trabalho natural.

17 Valores imperecíveis não surgem de imediato. Tempo e esforço são as chaves do crescimento da alma.

8 Se os Espíritos elevados reaparecem no intercâmbio dos dois círculos de vida, a que nos ajustamos, é que se inspiram no ministério da caridade e desejam acordar os homens para mais altas noções de justiça e fraternidade, a fim de que se fortaleçam e aprimorem, perante a continuidade da vida e da individualidade, além túmulo…

19 Se você foi chamado às tarefas do oleiro, atenda, quanto possível, ao enriquecimento íntimo, nos estudos e serviços que a nossa Consoladora Doutrina oferece, mas não olvide os tijolos e manilhas, telhas e vasos que a sua indústria foi convidada a materializar. Institua facilidade e abundância para que os menos favorecidos de recursos e de inteligência consigam construir seus ninhos aos quais se abrigam pobres aves humanas, em peregrinação aflitiva na erraticidade.

20 Esforce-se para que seu nome seja louvado e abençoado pelos que compram e vendem, pelos que administram e obedecem, convencido de que, se não devemos esquecer a contemplação das estrelas, não encontraremos o caminho de acesso a elas se não acendermos alguma lamparina no chão.


Irmão X

(Humberto de Campos)

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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