1 Na assembleia dedicada a estudos evangélicos, a parábola do bom samaritano ( † ) fora o tema essencial. Os companheiros, porém, traziam indagações variadas, em torno do desenvolvimento mediúnico.
2 Alguns se iniciavam nas experiências psíquicas, ignorando em que província de trabalho lhes competia mais dilatada fixação, ao passo que outros se queixavam do tempo despendido, nesse ou naquele setor, sem resultados práticos.
3 Asserenado o ambiente, inçado de interpelações, o irmão Calimério, amigo desencarnado extremamente afeiçoado ao círculo, controlou as faculdades psicofônicas de Dona Amanda, médium veterana da casa, e saudou os circunstantes, dispondo-se a conversar.
4 E as interrogações chegaram de improviso:
— Irmão Calimério, que será preciso para merecer mais ampla cobertura da Espiritualidade Superior nas tarefas medianímicas?
— De que maneira recolher patrocínio seguro em clarividência?
— Irmão, sei que devemos estudar sempre, se quisermos discernir; entretanto, qual será o processo de granjear o concurso de mentores competentes no campo da intuição?
— E na mediunidade curativa?
— Calimério, como receber a proteção dos Missionários do Bem, que nos libertem da influência do mal?
— Irmão, há muito tempo ensaio em efeitos físicos, sem frutos apreciáveis… Que me cabe fazer para angariar mais decisivo amparo do Alto?
5 O comunicante, em tom despretensioso, falou sem afetação:
— Meus amigos, estou muito distante da posição de orientador; no entanto, rogo perdão a Nosso Senhor Jesus-Cristo se vou utilizar a parábola desta noite, no esclarecimento do assunto.
6 E, diante dos companheiros atentos, expressou-se com humildade:
— Segundo aprendi, o homem que descia de Jerusalém para Jericó, no episódio do bom samaritano, ao cair em poder dos ladrões, que o deixaram semimorto, apelou, em prece muda, para a bondade de Deus. 7 Compadecido, o Todo-misericordioso expediu, sem detença, um mensageiro, que naturalmente carecia de instrumento humano a fim de expressar-se. O preposto da Providência colocou-se ao lado da vítima, aguardando, ansiosamente, a chegada de alguém que se dispusesse a colaborar com ele no piedoso mister. 8 Justamente um sacerdote de grande ciência nas Escrituras, educado nos princípios do amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, foi o primeiro a aproximar-se… O encarregado da bênção tentou induzi-lo à benevolência; todavia, o titular da Fé, receando atrapalhações, tratou de estugar o passo e seguiu adiante. 9 Logo em seguida, um levita, igualmente culto, apareceu no sítio e o benfeitor das Alturas rogou-lhe cooperação, debalde, porque o zelador da Lei, temendo complicar-se, negou-se a considerar o pedido mental, afastando-se, rápido. 10 Mas um samaritano desconhecido, que viajava sem qualquer rótulo que lhe honorificasse a presença, ao passar por ali assinalou no coração a rogativa que o Emissário Divino lhe endereçava e, deixando-se tomar por súbita compaixão, passou junto dele ao trabalho da assistência imediata. Limpou o infeliz, estancou-lhe o sangue das feridas e, logo após, acomodando-o no cavalo, conduziu-o a uma hospedaria e cuidou dele. 11 No dia seguinte, desembolsou o dinheiro necessário, pagou-lhe a estalagem e, antes de partir, responsabilizou-se, de modo espontâneo, por todas as despesas que viessem a ocorrer no tratamento exigido, correspondendo, eficientemente, à expectativa do enviado que viera praticar a beneficência em nome de Deus…
12 Calimério pausou, tranquilo, e perguntou:
— Qual dos três parece a vocês o mais digno de atenção no Plano Espiritual?
13 Antônio Pires, o mais amadurecido da reunião, com ar de aluno que já chegara ao objetivo do ensinamento, replicou por todos:
— Decerto que é o samaritano, obediente ao convite da caridade.
14 O comunicante sorriu com brandura e encerrou:
— Então, meus amigos, façamos nós o mesmo.
Irmão X
(Humberto de Campos)